Danah Zohar O SER QUÂNTICO
Danah Zohar O SER QUÂNTICO
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integrar-se —, a criança reúne, ipso facto, um objeto (seu pote de argila) e um mundo<br />
(sua relação com o pote, seu significado para ela e para os outros) que nunca estiveram<br />
ali antes. Criança, objeto e mundo são tornados reais conjuntamente, pelo colapso livre<br />
e indeterminado de muitas crianças, objetos e mundos possíveis dentro da mente da<br />
criança.<br />
Todos os sistemas quânticos (especialmente sistemas de bósons como é o nosso<br />
caso) partilham desse mesmo mecanismo de autodescoberta criativa por meio do<br />
diálogo com o próprio ambiente. Em seu nível mais elementar, esse diálogo se<br />
evidencia cada vez que um fóton passa através de uma ou de duas aberturas, ou<br />
manifesta-se como onda ou partícula em resposta à presença de uma tela de detecção ou<br />
de uma fotomultiplicadora.<br />
No nível mais complexo dos sistemas vivos (sistemas quânticos ordenados), há<br />
uma evidência recente e sugestiva de que a evolução biológica em si poderá ser, na<br />
verdade, uma "evolução reativa". 6 Ela talvez seja um diálogo quântico entre a criatura e<br />
seu ambiente, com capacidade de selecionar e realizar uma das muitas direções<br />
possíveis da evolução (mutações) latentes no código do DNA. A verossimilhança disso<br />
se fortalece em evidências recentes de que há coerência quântica no próprio DNA. 7<br />
Todos os sistemas vivos evoluem e têm, na medida de sua evolução, uma espécie<br />
de criatividade embutida em seu desenvolvimento estrutural. Há, como diz Ilya<br />
Prigogine, uma flecha de tempo nos sistemas vivos que aponta em direção a mais e<br />
maior complexidade — "O tempo é construção". 8 Ou, como coloca o físico alemão Fritz<br />
Popp, "o estado de coerência é como um papel em branco sempre pedindo para que<br />
escrevamos nele". 9<br />
Temos um impulso físico de sermos criativos que decorre da física dos sistemas<br />
vivos. Mas, além dessa criatividade estrutural, uma interpretação quântica da<br />
consciência nos revela como pode existir uma criatividade comportamental — a da<br />
criança e do pote de argila — que também se estende dos seres humanos até as criaturas<br />
mais simples, descendo por toda a escala evolutiva.<br />
Mesmo as minhocas revelam uma tendência primitiva de integração de seus dados<br />
sensoriais desenvolvendo lentamente um estilo de vida, um mundo. Elas respondem a<br />
estímulos de seu ambiente, aprendem que certas respostas lhes proporcionam (grosso<br />
modo) prazer e outras dor, e aprendem a comportar-se de acordo com isso. Algumas<br />
chegaram a aprender a não se mover quando expostas à luz, apesar de seu instinto de<br />
fazê-lo, e outras aprenderam a percorrer labirintos simples. 10<br />
Talvez esteja errado dizer que as minhocas agem propositadamente na construção<br />
de seu mundo, ou mesmo dizer que elas "escolhem" uma forma de comportamento em<br />
detrimento de outra. Propósito e escolha são categorias humanas que derivam de<br />
capacidades especificamente humanas (ou ao menos dos animais superiores). É<br />
importante, porém, reconhecer que uma criatividade comportamental elementar está<br />
disponível até para sistemas vivos muito simples em conseqüência de sua capacidade<br />
quântica de estar em diálogo com o mundo circundante (sua unidade muito elementar de<br />
consciência) e de integrar informações deste.<br />
O que torna a criatividade humana tão mais impressionante e espantosa que a da<br />
minhoca não é o fato de ser diferente, em princípio, mas o de ser diferente em tipo e