Danah Zohar O SER QUÂNTICO
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por isso repousa em nós mesmos e em mais ninguém. E, como acontece tantas vezes, a<br />
realização freqüentemente modifica as probabilidades. Por isso, os exemplos de heróis<br />
locais muitas vezes transformam a existência de muitos outros que vivem num ambiente<br />
desprivilegiado ou oprimido. O fato de aqueles heróis terem feito a escolha mais difícil<br />
facilita a mesma escolha para os outros. A física disto repousa na interconexão quântica<br />
de nossa consciência e reflete minha afirmação anterior no sentido de que tudo o que<br />
fazemos afeta a todos, direta e fisicamente. Se um de nós abrir uma picada, é muito<br />
provável que outros sigam o mesmo caminho.<br />
Em termos gerais, a natureza quântica de nossa consciência torna tentador fazer<br />
escolhas que exijam um mínimo dispêndio de energia, a menor concentração. E por esse<br />
motivo é que somos por natureza criaturas de hábito e imitação.<br />
O hábito é uma espécie de carona, exige muito pouco esforço mental. Tendo feito<br />
algo de uma forma uma primeira vez, tendo feito uma escolha em especial, é muito mais<br />
fácil repetir a mesma coisa e, portanto, a probabilidade de que isso aconteça é maior.<br />
Nesse sentido, deveríamos usar o melhor de nossas faculdades mentais para avaliar o<br />
valor dos hábitos que estamos adotando ou as qualidades daqueles que estamos<br />
imitando. A escolha original que leva a um hábito talvez nos custe pouco, mas depois,<br />
se quisermos quebrar o hábito, a tarefa poderá tomar proporções hercúleas.<br />
Em certo sentido, qualquer hábito é uma saída para os preguiçosos e medrosos.<br />
Poupa-nos energia e, ao mesmo tempo, nos alivia do fardo da liberdade. Depois que<br />
algo se torna hábito, a probabilidade de que o perpetuemos é tão grande que<br />
praticamente não há nenhum elemento de escolha que permaneça na situação. Assim,<br />
quando ajo baseado num hábito, não ajo livremente, nem estou exercitando minha<br />
criatividade. Sendo uma atividade de baixa energia, o hábito bombeia muito pouca<br />
energia para o cérebro. Ele, por assim dizer, provoca o colapso de poucas funções de<br />
onda. Por isso é algo tão pouco criativo e por isso as criaturas de hábitos experimentam<br />
crescimento psíquico tão diminuto.<br />
Mas, talvez, o habitual seja necessário em muitas áreas de nossa vida. Talvez<br />
simplesmente não tenhamos quantidade suficiente de energia física para viver nos<br />
extremos de nossa liberdade em todas as decisões e ações, e talvez, por isso, a própria<br />
natureza quântica de nossa consciência nos tente em direção ao habitual. A formação de<br />
hábitos pode nos deixar livres para viver mais criativamente as coisas que interessam.<br />
O mesmo se aplica a deixar que nossas ações brotem da conformidade com os<br />
códigos de comportamento vigentes ou da adesão a códigos de dever rigorosamente<br />
definidos. A escolha inicial de seguir tais códigos exige alguma concentração, embora<br />
não muita, se já estivermos parcialmente definidos quanto aos costumes sociais e<br />
relacionamentos que os fundamentam. Mas, uma vez feita a escolha, podemos continuar<br />
a viver de uma forma que vicia as probabilidades contra qualquer forma de<br />
comportamento que, para ser adotada, exigiria as qualidades de um herói.<br />
Nenhum de nós pode ser herói em todos os momentos da vida e, enquanto os<br />
costumes vigentes ou os códigos de dever aos quais subscrevemos forem basicamente<br />
razoáveis, a necessidade de heroísmo individual pode ser evitada sem dano a nós<br />
mesmos ou aos outros. Se nossa aceitação dos costumes vigentes provém de um<br />
compromisso (que é uma decisão que se renova, com energia, repetidamente), e não de<br />
um mero hábito, então a própria conformidade pode ser uma maneira criativa de viver.