Danah Zohar O SER QUÂNTICO

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14.04.2013 Views

que qualquer comparação entre nós e os computadores clássicos poderia gerar, por motivos que, espero, tenham ficado claros em tudo o que foi dito sobre nossa natureza e a dos sistemas quânticos. Em nosso sistema consciente, o ato de concentração é o processo pelo qual a energia é bombada para o cérebro. Todos sabemos que, se nossas reservas de energia estão baixas, é difícil concentrar-se. Mas, quando temos energia para concentração, a canalização dessa energia para o cérebro produz o efeito de conduzir o condensado de Bose-Einstein do cérebro de um estado quântico de baixa energia para um estado quase clássico de alta energia, conduzindo assim nossos processos de pensamento com imagens imprecisas do pensamento possível para o detalhamento clássico mais estruturado do pensamento concentrado. Numa visão quântica da consciência, portanto, temos tanto uma definição básica da escolha como uma compreensão básica da física que permite tal escolha. Qualquer escolha é, em si, simplesmente o colapso da função de onda quântica do "pensamento possível" para um pensamento definido. Todas essas escolhas são necessariamente livres por causa da indeterminação quântica essencial do cérebro — uma indeterminação que existe tanto em seu sistema quântico como nas respostas de neurônios individuais à estimulação. 12 Mas esse modelo esquemático da escolha quântica ainda não responde às questões mais interessantes. Como e por que, por exemplo, chego a efetivamente realizar as escolhas que realizo e, se sou livre para fazer qualquer escolha, por que tantas vezes faço escolhas que são evidentemente ruins para mim mesma ou para os outros? Em que medida posso controlar essas escolhas quânticas aparentemente indeterminadas — controlar, em outras palavras, minha própria liberdade — e, conseqüentemente, em que medida minha liberdade me fez responsável por minhas escolhas? A resposta do bom senso a muitas destas questões, se é que acredito em liberdade, se não sou determinista, é que, sendo uma criatura racional, tenho a capacidade de analisar logicamente uma situação e de refletir sobre as prováveis conseqüências de minha escolha. Tanto minha liberdade quanto minha responsabilidade são tidas como provenientes de tais capacidades — por isso tão freqüentemente negamos que os animais tenham livre-arbítrio ou que as crianças devam ser responsabilizadas por seus atos. Essa idéia de que escolha e razão estão necessariamente ligadas nas decisões de uma pessoa livre é um tanto exagerada e nos deixa cegos para a verdadeira natureza da escolha e da liberdade no ser quântico. A liberdade quântica é algo muito mais terrível do que nossa fé no poder da razão permitiria que acreditássemos. Veja, por exemplo, no caso da decisão de deixar de fumar. Toda a minha capacidade racional me diz que fumar é prejudicial para mim e muito provavelmente para os que me cercam. Talvez até me convença de que estou agindo com base nesta sobreposição de valores quânticos. Algo semelhante acontece no sistema de Fröhlich. Estou sugerindo que um estado de consciência definido corresponde a um complexo movimento circulatório, relacionado a diferenças de fase entre os dipolos oscilantes, em torno de vórtices no condensado. Esse padrão circulatório só tem um valor definido quando há entrada de alta energia (durante a concentração) e se torna uma sobreposição quântica num estado de baixa energia. (Vide 1. N. Marshall, Excitations of a Bose-Einstein Condensate, no prelo.)

decisão prometendo a mim mesma largar "amanhã", ou adotando algum estratagema como hipnose ou acupuntura. Mas os efeitos do estratagema duram pouco, e "amanhã" está muito longe. Continuo a agir contra a razão, decido agir contra a razão toda vez que acendo um cigarro. Mas um belo dia realmente deixo de fumar. Certa manhã, sem que haja nenhum motivo para suspeitar que tal coisa irá acontecer, pego o maço de cigarros somente para deixá-lo cair de volta no lugar. Escolhi parar. Realmente fiz minha escolha e agi de acordo. Mas por quê? Em termos quânticos este "por quê?" não tem resposta definida. Todas as respostas definidas — toda lógica e razão — são estruturas clássicas. Elas surgem exatamente no momento em que a função de onda do pensamento colapsa, isto é, depois do momento da escolha. Nossa lógica não faz as escolhas — isto é um modo determinista de pensar. Ao contrário, são nossas escolhas, nossas escolhas livres e indeterminadas, que estão associadas a um conjunto similarmente sobreposto de razões ligadas a estas escolhas, que dão origem ã nossa lógica. Ao fazer uma escolha temos uma razão para aquela escolha, uma razão que nossa lógica então utiliza para explicar aquela escolha. Mas qualquer outra escolha teria sido associada a alguma outra razão, que teria saciado da mesma forma a sede de explicações da lógica. Direi às pessoas que deixei de fumar porque sabia que era prejudicial à minha saúde. Da mesma forma, se não tivesse conseguido deixar de fumar, diria que isto se deu porque não tenho força de vontade ou porque precisava do cigarro para aliviar minhas tensões etc. Estes porquês que utilizo para explicar minha escolha dizem algo a meu respeito enquanto pessoa, mas não determinam a escolha em si. Alguns psicanalistas e psicoterapeutas acreditam que o verdadeiro valor de seu trabalho advém não de uma habilidade dúbia de atribuir causas ao comportamento de seus pacientes, como queria Freud, mas, antes, da capacidade de descobrir o significado do comportamento — descobrir o que o ato de fazer determinadas escolhas revela sobre nós mesmos e aquilo que valorizamos. 13 A escolha de deixar de fumar me diz que dou valor à saúde e à longevidade e, mais além, talvez signifique que sou um tipo de pessoa capaz de resistir a uma tentação imediata em vista de um ganho distante; uma escolha no sentido de não deixar o fumo poderia ter indicado que dou valor a prazeres imediatos embora passageiros em detrimento de benefícios a longo prazo. Mas, seja qual for o significado de minha escolha e o que ela revela a meu respeito, a escolha em si precedeu a todos os "porquês". Foi feita num terrível momento de liberdade, no que Kierkegaard chamaria de um "salto de fé". Não obstante, fui eu que fiz a escolha, eu que, por algum estranho tipo de diálogo quântico entre a função de onda quântica indeterminada que sou eu e a função de onda indeterminada de minhas possíveis escolhas, de fato decidi parar. E tal escolha foi de minha responsabilidade e de ninguém mais. Este é o terrível fardo da liberdade, pois ela nos faz responsáveis por escolhas sobre as quais não temos pleno controle consciente. Ela nos coloca na linha de fogo, no centro de uma situação toda nublada e indeterminada nas margens, e depois nos diz que em "temor e tremor", como diria Kierkegaard, devemos nos levantar para a identificação.

decisão prometendo a mim mesma largar "amanhã", ou adotando algum estratagema<br />

como hipnose ou acupuntura. Mas os efeitos do estratagema duram pouco, e "amanhã"<br />

está muito longe. Continuo a agir contra a razão, decido agir contra a razão toda vez que<br />

acendo um cigarro.<br />

Mas um belo dia realmente deixo de fumar. Certa manhã, sem que haja nenhum<br />

motivo para suspeitar que tal coisa irá acontecer, pego o maço de cigarros somente para<br />

deixá-lo cair de volta no lugar. Escolhi parar. Realmente fiz minha escolha e agi de<br />

acordo. Mas por quê?<br />

Em termos quânticos este "por quê?" não tem resposta definida. Todas as<br />

respostas definidas — toda lógica e razão — são estruturas clássicas. Elas surgem<br />

exatamente no momento em que a função de onda do pensamento colapsa, isto é, depois<br />

do momento da escolha. Nossa lógica não faz as escolhas — isto é um modo<br />

determinista de pensar. Ao contrário, são nossas escolhas, nossas escolhas livres e<br />

indeterminadas, que estão associadas a um conjunto similarmente sobreposto de razões<br />

ligadas a estas escolhas, que dão origem ã nossa lógica.<br />

Ao fazer uma escolha temos uma razão para aquela escolha, uma razão que nossa<br />

lógica então utiliza para explicar aquela escolha. Mas qualquer outra escolha teria sido<br />

associada a alguma outra razão, que teria saciado da mesma forma a sede de<br />

explicações da lógica.<br />

Direi às pessoas que deixei de fumar porque sabia que era prejudicial à minha<br />

saúde. Da mesma forma, se não tivesse conseguido deixar de fumar, diria que isto se<br />

deu porque não tenho força de vontade ou porque precisava do cigarro para aliviar<br />

minhas tensões etc. Estes porquês que utilizo para explicar minha escolha dizem algo a<br />

meu respeito enquanto pessoa, mas não determinam a escolha em si.<br />

Alguns psicanalistas e psicoterapeutas acreditam que o verdadeiro valor de seu<br />

trabalho advém não de uma habilidade dúbia de atribuir causas ao comportamento de<br />

seus pacientes, como queria Freud, mas, antes, da capacidade de descobrir o significado<br />

do comportamento — descobrir o que o ato de fazer determinadas escolhas revela sobre<br />

nós mesmos e aquilo que valorizamos. 13 A escolha de deixar de fumar me diz que dou<br />

valor à saúde e à longevidade e, mais além, talvez signifique que sou um tipo de pessoa<br />

capaz de resistir a uma tentação imediata em vista de um ganho distante; uma escolha<br />

no sentido de não deixar o fumo poderia ter indicado que dou valor a prazeres imediatos<br />

embora passageiros em detrimento de benefícios a longo prazo.<br />

Mas, seja qual for o significado de minha escolha e o que ela revela a meu<br />

respeito, a escolha em si precedeu a todos os "porquês". Foi feita num terrível momento<br />

de liberdade, no que Kierkegaard chamaria de um "salto de fé".<br />

Não obstante, fui eu que fiz a escolha, eu que, por algum estranho tipo de diálogo<br />

quântico entre a função de onda quântica indeterminada que sou eu e a função de onda<br />

indeterminada de minhas possíveis escolhas, de fato decidi parar. E tal escolha foi de<br />

minha responsabilidade e de ninguém mais. Este é o terrível fardo da liberdade, pois ela<br />

nos faz responsáveis por escolhas sobre as quais não temos pleno controle consciente.<br />

Ela nos coloca na linha de fogo, no centro de uma situação toda nublada e<br />

indeterminada nas margens, e depois nos diz que em "temor e tremor", como diria<br />

Kierkegaard, devemos nos levantar para a identificação.

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