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Danah Zohar O SER QUÂNTICO

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de defesa. O exemplo da sentença proferida no caso de estupro mencionado no início<br />

deste capítulo é apenas uma amostra recente de seu sucesso.<br />

Nas últimas décadas, as modalidades de determinismo científico se reforçaram<br />

pelo grau em que a imaginação foi excitada pela tecnologia do computador e pelo<br />

modelo do cérebro calcado nele. Os computadores não tomam decisões livres que<br />

acarretam responsabilidades, eles obedecem a programas. Como disse o vendedor de<br />

computadores ao ouvir a reclamação de que meu processador de textos novo havia<br />

apagado um dia inteiro de meu trabalho, "não faz sentido dizer que o computador seja<br />

culpado. Você fez isso. Deve ter cometido algum erro".<br />

Mas a existência desse "eu" que cometeu o erro desnuda todo o erro profundo de<br />

se procurar aplicar os princípios do determinismo científico clássico ao comportamento<br />

dos seres humanos. "Eu" sou um agente ativo, e não há agentes ativos na física clássica.<br />

Há somente leis.<br />

Se procuro definir minha condição de individualidade, minha ação, em termos<br />

clássicos, caio na armadilha reducionista anteriormente discutida. "Eu" sou<br />

inevitavelmente fragmentada, tornando-me um emaranhado confuso de neurônios,<br />

sendo que nenhum deles pode ser responsabilizado por qualquer ação que eu venha a<br />

fazer. Ninguém segura o abacaxi.<br />

Somente com um modelo quântico de pessoa, no qual a condição de ser um "eu"<br />

surge de um estado quântico coerente, unificador no cérebro, é que pode haver um "eu"<br />

central único que comete ou deixa de cometer erros. Isso porque o condensado de Bose-<br />

Einstein, que é a base física da consciência, gera um campo elétrico que se estende por<br />

uma ampla região e quaisquer padrões (pensamentos, impulsos) no condensado terão<br />

uma ação correlata em muitos neurônios do cérebro, influenciando simultaneamente<br />

seus potenciais de disparo e fazendo-os agir como se fossem um só.<br />

No entanto, mesmo diante de um modelo quântico de ação, sem o modelo similar<br />

não clássico de escolha, de como o ser exerce sua capacidade de ação, quaisquer erros<br />

que este "eu" cometa estarão isentos de culpa, de responsabilidade. Em termos clássicos,<br />

não há objetivo para o exercício da liberdade nem para a conseqüente responsabilização,<br />

não importando qual seja a natureza do ser.<br />

Na física clássica, chega a ser difícil definir o que se quer dizer com "livre". Há<br />

modelos de aparente aleatoriedade — as condições climáticas, o comportamento de uma<br />

rolha boiando na superfície de um mar turbulento, qualquer dos muitos exemplos de<br />

imprevisibilidade esmiuçados em Chãos, 7 de James Gleick — mas estes são exemplos<br />

em que a complexidade da corrente de causalidade é tão gigantesca que simplesmente<br />

não conseguimos sondá-la. A causalidade em si está sempre presente. Não há, portanto,<br />

verdadeiros exemplos de liberdade.<br />

Em termos quânticos, porém, é impossível definir o ser humano sem confrontar o<br />

significado da liberdade. A consciência, por sua própria natureza de sistema quântico, é<br />

um fio de liberdade que corre por nossas vidas o tempo todo.<br />

A base física para a liberdade em qualquer sistema quântico é a indeterminação<br />

quântica, o fato de que funções de ondas quânticas não podem ser apontadas com<br />

precisão — como o gato de Schrödinger, que não está vivo nem morto porque, como

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