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Danah Zohar O SER QUÂNTICO

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É portanto fundamentalmente necessário e saudável que os cristãos saibam que Deus (...)<br />

prevê, projeta e faz todas as coisas conforme Sua própria imutável, eterna e infalível<br />

vontade. Esta bomba derruba de uma vez por todas o "livre-arbítrio" destruindo-o<br />

completamente. 2<br />

Outros autores cristãos admitiam uma forma limitada de livre-arbítrio, dizendo<br />

que somos livres para procurar a graça de Deus ou para ajudar a garantir que nossas<br />

escolhas sejam aquelas que estão de acordo com a Sua vontade e não a do Demônio,<br />

porém sem essa graça estamos inteiramente perdidos. Conforme reza a oração de<br />

entrada do rito anglicano, "Deus nos ajude, posto que não podemos nos ajudar".<br />

Se formos honestos, a maioria de nós hoje admitirá ter à margem do próprio<br />

pensamento resquícios das idéias gregas e cristãs sobre determinismo. Continuamos<br />

usando frases como: "estava destinado a acontecer", "foi Deus quem quis assim", ou "eu<br />

farei, se Deus quiser", mas estas noções de destino ou predestinação divina exercem<br />

pouco domínio racional sobre a mente moderna.<br />

Estamos hoje submissos à ciência e àquilo que ela pode nos dizer sobre a causa<br />

das coisas, incluindo nosso próprio comportamento. Se duvidamos de nossa capacidade<br />

para a liberdade e responsabilidade, é porque nossa ciência nos deu bases para tais<br />

dúvidas. Se quisermos transcender tais dúvidas, também para isso, muito<br />

provavelmente, encontraremos fundamento na ciência.<br />

Na verdade, a ciência moderna minou nosso sentido de liberdade em duas frentes:<br />

pelo lugar que ela nos concede no Universo e pelo modelo que ela nos deu para<br />

compreender nossa natureza humana. No universo silencioso e morto de Newton, nós,<br />

seres humanos conscientes, não temos nenhum papel a desempenhar e tampouco<br />

nenhum poder para conter a marcha de forças cegas e imutáveis. Conforme expressou<br />

Bertrand Russell em um segmento tardio de seu relato profundamente pessimista da luta<br />

ascendente do espírito humano: "Cega ao bem e ao mal, temerária na destruição, a<br />

matéria onipotente vai rolando por seu inexorável caminho". 3<br />

Para o próprio Russell essa impotência humana faz surgir uma fé audaciosa, mas<br />

na maioria das pessoas ela conduz à perda da vontade (depressão e desespero) ou a um<br />

cruel oportunismo. Que importa o que eu faço, que decisões tomo, se no fim dá tudo na<br />

mesma? Minha liberdade, se é que tenho alguma, perde todo o sentido.<br />

Essa perda é exacerbada pelos efeitos colaterais da tecnologia de nossa ciência.<br />

Tantos de nós dependem de serviços imensos, impessoais para as necessidades da vida<br />

diária, ou então vivemos e trabalhamos em cidades imensas ou conglomerados onde a<br />

ação e a escolha individual parecem fazer pouca ou nenhuma diferença para aquilo que<br />

acontece à nossa volta. Este é um tema constante na literatura moderna.<br />

O senso de ser despido de liberdade que decorre da natureza impessoal e<br />

determinista da física clássica nos alicerces de nossa ciência reflete-se no determinismo<br />

histórico de Marx e seus seguidores. Há um determinismo imposto de fora, por forças<br />

além do nosso controle. Mas o determinismo científico também está dentro da moderna<br />

psicologia da pessoa, negando-nos não só a eficácia como também a realidade da<br />

escolha.<br />

Ao escrever sua psicologia científica, Freud se dispôs a descobrir na psique<br />

humana leis e forças que espelhassem as da física e da química de seu tempo.

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