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Danah Zohar O SER QUÂNTICO

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tempo com as crianças ou se seremos fiéis a algum outro compromisso, em todos estes<br />

casos temos a sensação de que depende de nós o que queremos fazer. Em todos os casos<br />

temos a sensação de ter escolhido ou decidido livremente, e que devemos aceitar a<br />

responsabilidade por essas escolhas e decisões. Elogio e culpa são distribuídos de<br />

acordo com elas.<br />

No entanto, tais experiências de liberdade estão, e muitas vezes estiveram, em<br />

briga com quaisquer argumentos que possamos usar para defendê-las ou justificá-las.<br />

Como acontece com boa parte de nossa experiência, é difícil argumentar racionalmente<br />

sobre aquilo que sabemos intuitivamente. Mas, no caso de liberdade e conseqüente<br />

responsabilidade, algum tipo de embasamento racional é tremendamente importante, no<br />

mínimo para a ordenação de nossos relacionamentos sociais.<br />

Em qualquer sociedade moderna, os relacionamentos sociais estão previstos em<br />

lei. Estas, por sua vez, repousam em nossas melhores teses sobre o que é certo e o que é<br />

errado fazer, e em que medida cada um de nós é capaz ou não de fazê-lo. Se não<br />

podemos defender a tese de que somos livres e responsáveis e capazes de discernir entre<br />

o certo e o errado, agindo conforme esta decisão, ficamos abertos ao tipo de atitude<br />

como a expressa pelo juiz do caso de estupro, ou por boa parte da moderna sociologia e<br />

psiquiatria em geral — atitudes fortemente influenciadas pela moderna psicologia da<br />

pessoa.<br />

Toda discussão sobre o livre-arbítrio do homem — isto é, nossa liberdade interna,<br />

nossa liberdade de ter pensamentos e fazer escolhas, em contraposição àquela liberdade<br />

ou restrição que possa advir de condições externas como regimes políticos, regras<br />

familiares ou simplesmente habilidade ou inabilidade física — tem sido encoberta pelo<br />

aspecto natureza humana ou pela idéia do lugar da humanidade no Universo. A eficácia<br />

ou ineficácia de nosso querer e, na realidade, a questão de se, de fato, temos uma<br />

vontade ou não são tidas como decorrentes daquilo que somos enquanto seres humanos<br />

ou do grau de poder de tais seres sobre as próprias ações. Muitas vezes no passado, e<br />

hoje com toda certeza, tais discussões corroboraram alguma forma de determinismo, a<br />

visão de que nosso comportamento é de certo modo fixado em alguma esfera fora do<br />

nosso controle e que a liberdade da vontade é uma ilusão, uma impossibilidade.<br />

Para os gregos antigos, esse determinismo era expresso como destino. Impotentes<br />

diante das violentas insurreições da natureza e ignorando suas causas, viam-se como<br />

bonecos de deuses muitas vezes caprichosos, suas ações humanas prefixadas por forças<br />

e tramas além de seu alcance ou controle. "Que destino cruel trouxe-me a este dever<br />

sangrento?" é um lamento que ecoa por toda a tragédia grega, e o próprio conceito de<br />

tragédia repousa na visão de que certos acontecimentos são inevitáveis, não importa o<br />

que façamos. Dado o caráter do herói e a situação, não havia outra alternativa. O trágico<br />

é aquilo que não pode ser evitado. E, como disse Aristóteles, a tragédia suscita<br />

sentimentos de horror e piedade, 1 mas não de culpa.<br />

Igualmente na tradição cristã, muitos pensadores influentes, especialmente<br />

protestantes, estavam convencidos de que nossas decisões e ações não podem ser<br />

diferentes do que são. Não podem ser de nenhum modo significativamente livres porque<br />

há um poder divino ou mesmo um plano divino operando em tudo o que acontece neste<br />

mundo. Devido à bondade de Deus, Sua onisciência, ou Sua onipotência, conclui-se que<br />

tudo o que de fato acontece tinha de acontecer. Como disse Martinho Lutero no século<br />

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