Danah Zohar O SER QUÂNTICO
Danah Zohar O SER QUÂNTICO
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significado e propósito ao compromisso. Se compromisso é o processo pelo qual algo se<br />
torna parte de mim, este "mim", ou ser, deve ser uma coisa capaz de receber algo e reter<br />
este algo. Deve ter uma "essência".<br />
Da mesma forma, o compromisso entendido em termos quânticos não pode ser<br />
uma coisa solitária, como são a catexia de Freud e a escolha existencial. Não é algo<br />
dirigido para os outros nem projetado sobre os outros, mas um ato de fidelidade ligado<br />
com outros como parte fundamental da definição do próprio ser, uma parte fundamental<br />
de sua própria natureza enquanto sistema sempre ocupado em relacionamentos<br />
criativos. Se tenho um compromisso com você, reconheço que somos, eu e você,<br />
materiais da mesma substância, que seu ser está entrelaçado ao meu para todo o sempre.<br />
Tal entrelaçamento tem sua base física no fenômeno singularmente quântico da nãolocalidade,<br />
a correlação a distância de sistemas quânticos aparentemente separados, e a<br />
coalescência, a capacidade que os sistemas de bósons têm de se fundir partilhando de<br />
uma só identidade.<br />
Além disso, a natureza humana que possuo enquanto ser cuja consciência repousa<br />
em tais fenômenos quânticos é uma natureza que partilho com todas as outras criaturas<br />
vivas cujas células contêm sistemas quânticos (condensados de Bose-Einstein do tipo<br />
Fröhlich). Na verdade, em última análise, partilho dessa mesma natureza com todos os<br />
outros sistemas de bósons que, mesmo no nível das partículas elementares, têm a<br />
necessidade de estabelecer relacionamentos como qualidade básica de sua existência.<br />
Os bósons em si não passam de "partículas de relacionamento".<br />
Portanto, como ser quântico, tenho uma base para um compromisso com todo o<br />
mundo da natureza e da realidade material. Somos todos, basicamente, "farinha do<br />
mesmo saco". E o mesmo pode ser dito em relação aos valores espirituais como o amor,<br />
a verdade e a beleza. Numa visão quântica, tais valores não são meras projeções do meu<br />
ser, sublimações de um lado escuro e inaceitável de minha natureza, como entendia<br />
Freud, e tampouco são algo que eu crio ex nihilo, como para Sartre. Eles têm uma<br />
existência própria que brota de sua natureza básica enquanto "inteirezas relacionais" —<br />
coisas que criam relacionamentos em seu ser —, e essa natureza é, coincidentemente, a<br />
mesma que a minha.<br />
O amor, obviamente, reúne coisas (como objetos de arte ou outros valores) e<br />
pessoas. Conforme a citação de Platão no capítulo 6, onde há o que ama e o que é<br />
amado, há também uma terceira coisa, que é o amor entre os dois. O amor tem em si<br />
uma espécie de existência, que brota do relacionamento.<br />
De forma semelhante, a beleza ou arte é um relacionamento que reúne elementos<br />
anteriormente separados numa nova totalidade que, então, ganha existência própria. Por<br />
exemplo, o quadro de Van Gogh dos sapatos do camponês, que reúne o camponês, a<br />
terra, o céu, o trabalho do campo, a história e significado de todo trabalho etc. A<br />
verdade é a criação de uma correspondência, um relacionamento entre elementos da<br />
realidade e entre esses elementos e a própria realidade. Conforme afirma Heidegger<br />
corretamente, a verdade e a beleza ou a verdade e a arte não podem ficar separadas uma<br />
da outra, e nenhuma delas pode ficar separada da expressão do holismo relacionai. 16<br />
Em meu próprio ser, que retira sua existência da criação de inteirezas relacionais,<br />
sou por natureza uma criatura feita da mesma substância que o amor, a verdade e a<br />
beleza. Não porque eu os tenha criado, mas porque a natureza de minha consciência é