Danah Zohar O SER QUÂNTICO

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14.04.2013 Views

lançaram uma sombra sobre minha vida adulta. A criança em meu interior (meu subser criança) ficou entrelaçada aos padrões de relacionamento que experimentei como adolescente e adulta. Durante muitos anos sofri de uma horrível insegurança no relacionamento com os outros, questionando se eles realmente gostavam de mim, se iriam me rejeitar. Se alguém de fato parecia me amar e desejar, eu experimentava o que os psicólogos chamam de "ansiedade de separação" sempre que ele ou ela estavam fora de minha vista. Não conseguia tolerar com facilidade a liberdade daqueles que amava, e isso, por sua vez, tornava minha presença algo sufocante para eles — muitas vezes provocando a rejeição que eu tanto temia. Com minha mente racional, eu podia muitas vezes identificar o padrão de aprisionamento sufocante inevitavelmente seguido pela rejeição que frustrava meus relacionamentos adultos, mas nenhuma dose de compreensão racional foi capaz de alterar isso. A criança rejeitada em mim estava presente ali como um companheiro vivo em cada relacionamento que eu formava. Foi só quando meus próprios filhos nasceram que tudo mudou. Quando minha filha nasceu, na primeira noite no hospital, tive saudade de minha mãe de um modo agudo e doloroso que jamais tivera antes. Queria que ela estivesse ali comigo e meu bebê recém-nascido. Como tantas outras vezes, ela não estava. Mas então algo começou a acontecer. Mesmo durante aquela primeira noite, senti que ia me transformar naquela mãe — não só a mãe do bebê que eu tinha nos braços, mas também a mãe dentro de mim mesma. Eu o amei e o assegurei de que estaria sempre ali. À medida que os meses da primeira infância de minha filha se passavam, percebi repetidas vezes que, sendo uma boa mãe para ela, eu estava sendo também uma boa mãe para mim mesma. Quando ela chorava à noite e eu ia a seu encontro, sentia meu próprio bebê interno chorando e também sendo confortado. Não houve mais noites solitárias para aquele bebê interior, mais nenhuma separação dolorosa. Sua infância infeliz foi colhida pelo presente, mesclada a todos os cuidados dispensados a minha filha, e ele tornou-se seguro. Reencarnado através da memória quântica, o bebê interior teve um novo começo de vida. Ele "renasceu". Muitos pais já experimentaram alguma forma de identificação com seus filhos pequenos e assim conseguiram alcançar partes atrofiadas de si mesmos. Este é um dos motivos pelos quais a experiência de ser pai ou mãe leva a um crescimento e a maior maturidade. Da mesma forma, como mencionamos antes, um alívio definitivo para eventos passados, pela memória quântica, é fundamental para os mecanismos de crescimento desencadeados por uma psicoterapia eficaz. Mas, ao considerar o problema da imortalidade, a questão é se podemos analogamente corporificar e, portanto, reencarnar o passado de outrem. Pode alguém que eu amo nascer de novo, através de mim, da mesma forma como aspectos passados do meu ser renascem? No cotidiano, enquanto ambos estamos vivos, a resposta é obviamente sim. Através da intimidade, o amante e seu amado (ou a mãe e seu filho, os membros de qualquer associação ou grupo íntimo) estão de tal forma interligados, suas funções de onda tão sobrepostas que nenhum dos dois saberá dizer "quem era aquele eu cujo meu era você". Cada qual é, em alguma medida, o material do qual o outro é feito. Como cada um dos dois é parcialmente feito daqueles elementos de seu passado que estão

entranhados em seu presente, cada um deles traz dentro de si tanto o próprio passado como o passado daquele com o qual tem intimidade. Portanto, da mesma forma como estou em constante diálogo com meu próprio passado, estou igualmente em constante diálogo com parte do passado do meu marido — com aqueles elementos que ele trouxe para o nosso relacionamento. Relacionandome com ele estou também me relacionando com aspectos de sua primeira infância, seus pais, sua infância no Canadá. Sendo uma boa mãe para a criança dentro de mim mesma, estou sendo também uma boa mãe para a criança interior dele, aquela criança que vem sendo uma porção viva de nosso relacionamento adulto. Dentro de uma visão quântica do ser não pode haver nenhuma distinção muito rígida e definitiva entre meu próprio passado e o de alguém com quem desfruto intimidade. De fato, por meu intermédio, relacionando-se comigo, esse outro alguém poderá chegar a algum diálogo com seu próprio passado, diálogo que de outra forma talvez não ocorresse. Portanto, por meu intermédio, a cada momento sucessivo de minha vida, elementos do passado do outro são reencarnados, assim como meu próprio passado é reencarnado momento a momento — reencarnado em meu presente e presente no futuro como parte da tapeçaria de meu ser. Os outros, cujos seres estão entrelaçados em meu próprio ser, podem ser pessoas com quem venho tendo um relacionamento íntimo, mas também podem ser pessoas que viveram antes de mim — pais, avós, heróis e figuras históricas, cada qual tendo de alguma forma influenciado (por sobreposição) a minha consciência, ou a de alguém que me influenciou. Sou, em parte, meus pais e avós, e por intermédio deles gerações e gerações de progenitores que não conheci pessoalmente. Da mesma forma, através da memória popular e da forma como também ela foi colhida por minha memória quântica e enredada a meu presente, no caso de ser americana, sou em parte George Washington ou Abraham Lincoln ou John Kennedy. Isto é, a honestidade de Washington, o senso de justiça de Lincoln e o entusiasmo jovial de Kennedy são parte de meu próprio ser na medida em que prezei e reverenciei (formei uma espécie de ligação íntima com eles) tais qualidades neles. Estamos literalmente entrelaçados à História e, ao mesmo tempo, a História está em diálogo conosco. Como diz Mareei acerca de sua ligação com o passado dos outros, "devo pensar em mim mesmo não meramente como alguém jogado no mundo em dado momento do tempo, mas como um elo de ligação com aqueles que vieram antes de mim, de tal forma que essa ligação pode ser reduzida a mera relação de causa e efeito". 4 Vista em termos da memória quântica, a ligação com aqueles que vieram antes — com os mortos —, assim como com o passado das pessoas vivas que amamos, não é uma ligação de mera "memória". Não se trata de relembrar essas pessoas, mas de ser (em parte) essas pessoas. Por meu intermédio, pelo fato de aspectos de seus seres estarem entrelaçados a meu próprio ser, eles são reencarnados — colhidos pela minha vida para viver como eu vivo. Certamente, argumentaríamos, os mortos não podem "viver como eu vivo". Talvez seja possível, através da memória quântica, que a vida passada de uma pessoa morta torne-se agora parte de minha vida, mas o que faz de minha vida algo vivo é o fato de existirem experiências em andamento. Estou consciente de mim mesma como

entranhados em seu presente, cada um deles traz dentro de si tanto o próprio passado<br />

como o passado daquele com o qual tem intimidade.<br />

Portanto, da mesma forma como estou em constante diálogo com meu próprio<br />

passado, estou igualmente em constante diálogo com parte do passado do meu marido<br />

— com aqueles elementos que ele trouxe para o nosso relacionamento. Relacionandome<br />

com ele estou também me relacionando com aspectos de sua primeira infância, seus<br />

pais, sua infância no Canadá. Sendo uma boa mãe para a criança dentro de mim mesma,<br />

estou sendo também uma boa mãe para a criança interior dele, aquela criança que vem<br />

sendo uma porção viva de nosso relacionamento adulto.<br />

Dentro de uma visão quântica do ser não pode haver nenhuma distinção muito<br />

rígida e definitiva entre meu próprio passado e o de alguém com quem desfruto<br />

intimidade. De fato, por meu intermédio, relacionando-se comigo, esse outro alguém<br />

poderá chegar a algum diálogo com seu próprio passado, diálogo que de outra forma<br />

talvez não ocorresse. Portanto, por meu intermédio, a cada momento sucessivo de<br />

minha vida, elementos do passado do outro são reencarnados, assim como meu próprio<br />

passado é reencarnado momento a momento — reencarnado em meu presente e presente<br />

no futuro como parte da tapeçaria de meu ser.<br />

Os outros, cujos seres estão entrelaçados em meu próprio ser, podem ser pessoas<br />

com quem venho tendo um relacionamento íntimo, mas também podem ser pessoas que<br />

viveram antes de mim — pais, avós, heróis e figuras históricas, cada qual tendo de<br />

alguma forma influenciado (por sobreposição) a minha consciência, ou a de alguém que<br />

me influenciou. Sou, em parte, meus pais e avós, e por intermédio deles gerações e<br />

gerações de progenitores que não conheci pessoalmente.<br />

Da mesma forma, através da memória popular e da forma como também ela foi<br />

colhida por minha memória quântica e enredada a meu presente, no caso de ser<br />

americana, sou em parte George Washington ou Abraham Lincoln ou John Kennedy.<br />

Isto é, a honestidade de Washington, o senso de justiça de Lincoln e o entusiasmo jovial<br />

de Kennedy são parte de meu próprio ser na medida em que prezei e reverenciei (formei<br />

uma espécie de ligação íntima com eles) tais qualidades neles. Estamos literalmente<br />

entrelaçados à História e, ao mesmo tempo, a História está em diálogo conosco.<br />

Como diz Mareei acerca de sua ligação com o passado dos outros, "devo pensar<br />

em mim mesmo não meramente como alguém jogado no mundo em dado momento do<br />

tempo, mas como um elo de ligação com aqueles que vieram antes de mim, de tal forma<br />

que essa ligação pode ser reduzida a mera relação de causa e efeito". 4<br />

Vista em termos da memória quântica, a ligação com aqueles que vieram antes —<br />

com os mortos —, assim como com o passado das pessoas vivas que amamos, não é<br />

uma ligação de mera "memória". Não se trata de relembrar essas pessoas, mas de ser<br />

(em parte) essas pessoas. Por meu intermédio, pelo fato de aspectos de seus seres<br />

estarem entrelaçados a meu próprio ser, eles são reencarnados — colhidos pela minha<br />

vida para viver como eu vivo.<br />

Certamente, argumentaríamos, os mortos não podem "viver como eu vivo".<br />

Talvez seja possível, através da memória quântica, que a vida passada de uma pessoa<br />

morta torne-se agora parte de minha vida, mas o que faz de minha vida algo vivo é o<br />

fato de existirem experiências em andamento. Estou consciente de mim mesma como

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