Danah Zohar O SER QUÂNTICO
Danah Zohar O SER QUÂNTICO Danah Zohar O SER QUÂNTICO
10 A Sobrevivência do Ser: Imortalidade Quântica Devemos estar serenos, e serenos seguindo Para uma outra intensidade, Para uma união maior, uma comunhão mais profunda Através do negro frio e da erma desolação, As ondas clamam, os ventos clamam, as vastas águas Do petrel e do boto. Em meu fim está meu princípio. T. S. Eliot, East Coker Durante a gravidez de meu primeiro filho e por alguns meses após seu nascimento, experimentei o que para mim era uma estranha e nova maneira de ser. Sob muitos aspectos perdi o sentido de mim mesma enquanto indivíduo, ao mesmo tempo ganhando um senso de mim mesma como parte de algum processo maior e em andamento. No início, os limites de meu corpo estenderam-se para dentro para abraçarem e se unirem à vida nova que crescia dentro de mim. Sentia-me completa e auto-suficiente, um microcosmo dentro do qual toda a vida estava contida. Mais tarde, os limites se estenderam para fora, a fim de incluir a forma infantil do bebê. Meu corpo e meu ser existiam para ser uma fonte de vida e alimento, meus ritmos eram os do outro, meus sentidos se tornaram um com os dele e, através dele, com os das outras pessoas a minha volta. Durante todos aqueles meses, "eu" parecia uma coisa muito vaga, algo que eu não conseguia focalizar ou reter e, no entanto, experimentava a mim mesma como me estendendo em todas as direções, para trás em direção ao "antes do tempo" e para frente em direção ao "tempo eterno", para dentro em direção a todas as possibilidades e para fora em direção a toda existência. Na época eu fazia piadas, dizendo que havia perdido meu aspecto partícula, e meu marido explicou-me que eu estava vivendo uma identificação projetiva com o bebê. Freud a chamaria de "sentimento oceânico". Seja lá o que for, era ao mesmo tempo inquietante e regozijante e, através dela, perdi meu eterno pavor da morte. Foi também a fonte de inspiração para este livro, como eu disse antes. Mas o que têm a gravidez e a maternidade a ver com morte e imortalidade, ou
com a física quântica? Uma intuição profundamente sentida levou-me a incluir um capítulo sobre a "Vida Após a Morte'' nas primeiras sinopses do livro, mas, algum tempo depois, como os primeiros capítulos se avolumavam, e as fichas para este permaneciam vazias, o plano começou a tomar o aspecto de algo embaraçoso. Nada em minha prévia maneira de pensar sobre a imortalidade, nem qualquer coisa clara que surgisse da obra de outros, parecia originar-se na discussão sobre a física da consciência. Na verdade, toda conversa sobre uma consciência originando-se de um processo quântico no interior do cérebro parecia excluir a possibilidade de uma continuação da consciência sem um cérebro. E, no entanto, à medida que os contornos do ser quântico, sua identidade e relacionamentos começaram a surgir dos últimos dois capítulos, toda uma nova maneira de pensar sobre a sobrevivência daquele ser também começou a surgir. No nível subatômico das partículas elementares não há morte no sentido de uma perda definitiva. O vácuo quântico, que é a realidade subjacente a tudo o que é, existe eternamente • Falando poeticamente, poderíamos descrever o vácuo como o "poço do ser". No interior desse poço, todas as propriedades se mantêm: massa/energia, carga, spin etc. Nada jamais se perde. Partículas individuais surgem do vácuo, existem por um breve período até colidirem com outras partículas e então tornam-se algo novo ou voltam para a fonte de onde vieram. Mas sua breve passagem não é em vão. Se duas partículas elementares se encontram e se unem, ambas deixam de existir como partícula individual, mas a nova partícula que elas se tornam terá a soma de suas massas. Se um nêutron "morre", sua massa, carga e spin são conservados no elétron, próton e antineutrino resultantes. Todo acontecimento quântico ocorrido deixa traços, "pegadas nas areias do tempo". De forma semelhante, mas em escala maior, sempre que a continuidade de um padrão ou de um todo — um grupo, instituição, nação — é objeto de nossas preocupações, a transitoriedade dos componentes individuais daquele todo passa despercebida ou, ao menos, torna-se algo irrelevante. As células individuais do meu corpo estão morrendo aos milhares todos os dias, mas são substituídas por outras, e meu corpo continua funcionando exatamente como antes. As várias crianças que hoje estão na classe de meu filho na escola vão crescer e mudarão de classe, mas a escola continuará a ter um jardim-de-infância, assim como haverá novamente narcisos no jardim na primavera do ano que vem, quando os deste ano tiverem voltado para a terra de onde surgiram. Numa escala ainda maior, sempre haverá uma Inglaterra, mesmo que sua população mude completamente e suas cidades sejam destruídas e reconstruídas; se não uma Inglaterra, ao menos nações, se não nações, ao menos um planeta, se não este planeta, então ao menos outros corpos maiores que gravitam em torno de estrelas. De algum ponto de vista, alguns padrões serão sempre permanentes. Porém nós, seres humanos, no decorrer de nossa vida diária e do ponto de vista da história particular, não nos vemos no âmbito do muito pequeno nem do muito grande. Extraímos apenas algum consolo do fato de que nossa família — ou escola, ou nação, ou estrela — continuará como sempre depois que nos formos. Este • Ou pelo menos desde o Big-Bang e até o colapso final, se é que haverá algum; e as leis da física não exigem que o vácuo cesse mesmo que o Universo chegue realmente a precipitar-se num buraco negro.
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A Sobrevivência do Ser:<br />
Imortalidade Quântica<br />
Devemos estar serenos, e serenos seguindo<br />
Para uma outra intensidade,<br />
Para uma união maior, uma comunhão mais profunda<br />
Através do negro frio e da erma desolação,<br />
As ondas clamam, os ventos clamam, as vastas águas<br />
Do petrel e do boto. Em meu fim está meu<br />
princípio.<br />
T. S. Eliot, East Coker<br />
Durante a gravidez de meu primeiro filho e por alguns meses após seu<br />
nascimento, experimentei o que para mim era uma estranha e nova maneira de ser. Sob<br />
muitos aspectos perdi o sentido de mim mesma enquanto indivíduo, ao mesmo tempo<br />
ganhando um senso de mim mesma como parte de algum processo maior e em<br />
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No início, os limites de meu corpo estenderam-se para dentro para abraçarem e se<br />
unirem à vida nova que crescia dentro de mim. Sentia-me completa e auto-suficiente,<br />
um microcosmo dentro do qual toda a vida estava contida. Mais tarde, os limites se<br />
estenderam para fora, a fim de incluir a forma infantil do bebê. Meu corpo e meu ser<br />
existiam para ser uma fonte de vida e alimento, meus ritmos eram os do outro, meus<br />
sentidos se tornaram um com os dele e, através dele, com os das outras pessoas a minha<br />
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Durante todos aqueles meses, "eu" parecia uma coisa muito vaga, algo que eu não<br />
conseguia focalizar ou reter e, no entanto, experimentava a mim mesma como me<br />
estendendo em todas as direções, para trás em direção ao "antes do tempo" e para frente<br />
em direção ao "tempo eterno", para dentro em direção a todas as possibilidades e para<br />
fora em direção a toda existência.<br />
Na época eu fazia piadas, dizendo que havia perdido meu aspecto partícula, e meu<br />
marido explicou-me que eu estava vivendo uma identificação projetiva com o bebê.<br />
Freud a chamaria de "sentimento oceânico". Seja lá o que for, era ao mesmo tempo<br />
inquietante e regozijante e, através dela, perdi meu eterno pavor da morte. Foi também a<br />
fonte de inspiração para este livro, como eu disse antes.<br />
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