erika nunes de medeiros ferreira borges - serex 2012 - UFG
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CURSO DE FORMAÇÃO FEMINISTA EM GOIÁS: TRAMAS E REDES PARA<br />
MUDAR O MUNDO*<br />
BORGES, Érika Nunes <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Ferreira¹<br />
Palavras-chave: Formação Feminista, Transmissão Intergeracional, Movimento<br />
Feminista, Mulheres.<br />
Introdução<br />
O presente projeto <strong>de</strong> extensão é um <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> pesquisa<br />
homônimo ao qual se acrescentou uma ação prática visando à extensão<br />
universitária.<br />
O Feminismo, enquanto, movimento político coletivo, disputa espaço e<br />
legitimida<strong>de</strong> na multiplicida<strong>de</strong> da vida social. Parte <strong>de</strong> suas estratégias <strong>de</strong><br />
transmissão <strong>de</strong> conhecimentos, princípios e valores estrutura-se em processos<br />
políticos-pedagógicos com formações contínuas <strong>de</strong> novas gerações, através da<br />
captação <strong>de</strong> novas integrantes e <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> “li<strong>de</strong>ranças” que po<strong>de</strong>rão<br />
incorporar práticas, ações e metodologias feministas, dando continuida<strong>de</strong>,<br />
atualizando e renovando a agenda política do movimento, subsidiando assim, a<br />
transformação da realida<strong>de</strong> social. Portanto, esse movimento reconhece e<br />
compreen<strong>de</strong> seus dilemas internos impulsionados pelo enfrentamento da<br />
temporalida<strong>de</strong>, que ora inci<strong>de</strong> sobre a sua existência no presente e continuida<strong>de</strong> no<br />
futuro.<br />
Os novos atores sociais constituídos, através do acervo cultural que herdam,<br />
mediante a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> composições e vivências coletivas, permeada pelas<br />
relações sociais, vão construindo seus saberes, e também contestando os “velhos”<br />
paradigmas, o habitus <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> que já é dada, para propor/contribuir com<br />
__________________________<br />
* Resumo revisado por coor<strong>de</strong>nador da Ação <strong>de</strong> Extensão: Profa. Dra. Eliane Gonçalves, da<br />
FCS/<strong>UFG</strong>. Título da ação <strong>de</strong> extensão: “Estratégias <strong>de</strong> transmissão intergeracional no feminismo<br />
brasileiro: uma proposta <strong>de</strong> formação feminista em Goiás”, código: SIEC – 60705. Apoio do Proext<br />
2011.<br />
¹ Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás - e-mail: <strong>erika</strong><strong>nunes</strong>cs@hotmail.com
outras vozes, outras formas <strong>de</strong> ação política, reivindicando espaço e legitimação, tal<br />
como acontece com as chamadas “jovens feministas” (GONÇALVES e PINTO,<br />
2011).<br />
As interações entre as gerações estão embasadas na troca <strong>de</strong> saberes e <strong>de</strong><br />
experiências significativas para formação <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las, porque ao mantermos<br />
(e necessitarmos <strong>de</strong>) vínculos com o outro, nos impregnamos <strong>de</strong> saberes e valores<br />
mutuamente.<br />
Como salienta Gonçalves (2011, p.10) apoiada nas reflexões <strong>de</strong> Celiberti<br />
(2009 p.153), a dimensão intersubjetiva, permanentemente construída, calcada no<br />
diálogo entre as gerações, po<strong>de</strong> ser traduzida como constante tensão, sendo<br />
necessário analisar as relações intergeracionais “do ponto <strong>de</strong> vista das<br />
continuida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um movimento – suas crises, avanços e<br />
superações”.<br />
Com base na investigação sobre como os diversos movimentos i<strong>de</strong>ntificados<br />
como “feministas” – ONGs ou grupos informais, re<strong>de</strong>s e fóruns e núcleos<br />
acadêmicos – enfrentam o problema da passagem do tempo e como investem na<br />
formação técnica, intelectual e política <strong>de</strong> pessoas, visando a sua “transmissão”, o<br />
projeto <strong>de</strong> extensão, que atualmente se encontra em fase <strong>de</strong> execução, tem como<br />
objetivo principal oferecer formação feminista a mulheres e homens <strong>de</strong> diferentes<br />
ida<strong>de</strong>s, provenientes <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s sociais heterogêneas em termos <strong>de</strong> classe<br />
social, raça/etnia, localida<strong>de</strong> geográfica, escolarida<strong>de</strong>, orientação sexual.<br />
Enten<strong>de</strong>ndo “formação feminista” como um conjunto <strong>de</strong> práticas e teorias não<br />
dissociadas que são construídas para e com os sujeitos envolvidos.<br />
O curso <strong>de</strong> extensão na modalida<strong>de</strong> semi-presencial utilizando recursos da<br />
educação a distância (EAD), através da plataforma moodle, se propôs a atingir 100<br />
pessoas, na proporção <strong>de</strong> 60% <strong>de</strong> público externo à <strong>UFG</strong> e 40 % interno.<br />
O curso oferece ferramentas didáticas que permitem a replicação dos<br />
conhecimentos adquiridos em contextos diversos – sala <strong>de</strong> aula, comunida<strong>de</strong>s,<br />
associações, universida<strong>de</strong>s, etc. – contribuindo para a transmissão intergeracional<br />
no feminismo em Goiás. O curso também objetiva proporcionar ferramentas<br />
analíticas capazes <strong>de</strong> focalizar as relações intergeracionais e seu entrelaçamento<br />
com gênero, classe, raça, sexualida<strong>de</strong> e localida<strong>de</strong> geográfica, focalizando as<br />
relações e posições <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r no entrecruzamento <strong>de</strong>sses marcadores, conce<strong>de</strong>ndo<br />
especial atenção às potenciais tensões e suas formas <strong>de</strong> enfrentamento.
Metodologia<br />
O curso <strong>de</strong> extensão, que teve início em março, está no seu terceiro módulo.<br />
A seguir, <strong>de</strong>screvo as etapas oferecendo um <strong>de</strong>talhamento da metodologia e dos<br />
resultados até o momento. Antes da realização propriamente dita do curso, o projeto<br />
passou pelas etapas <strong>de</strong> constituição da equipe, a <strong>de</strong> trabalho, seleção <strong>de</strong> alunos/as<br />
na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bolsista Probec e Proext/MEC – o projeto obteve apoio financeiro<br />
<strong>de</strong>ste programa - organização conjunta do cronograma <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e atribuição <strong>de</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong>s, treinamento nas metodologias feministas – nas modalida<strong>de</strong>s<br />
presencial e EAD, com treinamento na plataforma Moodle.<br />
No que concerne à execução do projeto, ocorreu a preparação do curso:<br />
módulos e disciplinas virtuais e encontros <strong>de</strong> vivências presenciais; divulgação,<br />
seleção e inscrição das/os candidatas/os. O curso tem carga horária <strong>de</strong> 120 horas,<br />
das quais 40 presenciais (oito horas/mês, aos sábados, na área I da PUC/GO na<br />
Praça Universitária). Tendo iniciado no dia 17/03, o curso está programado para<br />
encerrar no dia 30/06 <strong>de</strong> <strong>2012</strong>. Um segundo curso, com as mesmas características<br />
será ofertado no segundo semestre.<br />
O programa do curso está dividido em quatro módulos, teóricos e reflexivos:<br />
Módulo I – Feminismos – histórias, contextos, narrativas; Módulo II – Sexualida<strong>de</strong>s,<br />
corpo, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s; Módulo III – Política e ativismos; Módulo IV – Arte, mídia e<br />
cultura. O curso se inspira e reproduz conceitos das metodologias feministas criadas<br />
e já plenamente consolidadas, que consistem na distribuição horizontal <strong>de</strong> saber e<br />
po<strong>de</strong>r entre suas integrantes, rompendo com formas tradicionais <strong>de</strong> organização<br />
verticalizada. O feminismo acredita na prática educativa como aquela que é centrada<br />
na iniciativa das integrantes, na relação dialógica, na intersubjetivida<strong>de</strong>,<br />
engendrando a busca autonomamente com participação efetiva <strong>de</strong> suas<br />
participantes, contribuindo para uma certa “irmanda<strong>de</strong>” entre as/os militantes. Os/as<br />
participantes receberão certificado da <strong>UFG</strong> na modalida<strong>de</strong> "curso <strong>de</strong> extensão",<br />
carga horária <strong>de</strong> 120 horas se totalizarem 75% da freqüência.<br />
As instituições responsáveis e que dão sustentação material ao projeto são o<br />
Ser-Tão - Núcleo <strong>de</strong> Estudos e Pesquisas em gênero e sexualida<strong>de</strong>, vinculado à<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Sociais, o Grupo Transas do Corpo, cuja contrapatida são<br />
recursos materiais e humanos, pois seu corpo docente continua formado pelas<br />
experientes coor<strong>de</strong>nadoras e educadoras do grupo, que são também professoras da
<strong>UFG</strong> e da PUC/GO, que já coor<strong>de</strong>naram cursos <strong>de</strong> formação feminista para<br />
universitárias e li<strong>de</strong>ranças <strong>de</strong> movimentos sociais no passado; o Programa<br />
Interdisciplinar da Mulher - PIMEP/PUC/GO. A Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong><br />
Goiás - PUC, ce<strong>de</strong>u o espaço para a realização dos encontros presencias. O projeto<br />
conta ainda com o apoio da Pró-Reitoria <strong>de</strong> Extensão e Cultura – PROEC/<strong>UFG</strong> e do<br />
PROEXT/MEC.<br />
Resultados<br />
O ponto <strong>de</strong> partida analítico dos resultados parciais começa pela gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> pessoas que se inscreveram no processo seletivo do curso do primeiro<br />
semestre <strong>de</strong> <strong>2012</strong>, perfazendo um total <strong>de</strong> 507 inscrições válidas, para as 100 vagas<br />
oferecidas. O processo seletivo levou em conta os marcadores sociais <strong>de</strong> diferença<br />
e suas intersecções - gênero, geração, sexo, raça/cor, classe social, localida<strong>de</strong><br />
geográfica, escolarida<strong>de</strong> - permitindo aten<strong>de</strong>r a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> candidatos/as. Nesse<br />
volume <strong>de</strong> inscrições, 90% eram mulheres e 10%, homens, prevalecendo as faixas<br />
etárias entre 17-21 anos (27%), e entre 22-31 (47%), seguidos pelo grupo <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />
entre 32-41 (17%), e entre 42 aos 61 anos que correspon<strong>de</strong>m a 8% (e 1% não<br />
respon<strong>de</strong>u).<br />
Pela análise dos dados, fazendo o recorte sobre grupos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos<br />
chegar à conclusão <strong>de</strong> que das pessoas inscritas/os, 74% são compostas/os pelo<br />
segmento jovem, da faixa etária entre os 18 aos 31 anos, apontando a vonta<strong>de</strong> das<br />
novas gerações em lutar, buscar teorias, ações e metodologias feministas, o que<br />
contrapõe substantivamente o discurso sobre o feminismo ser datado, superado.<br />
Observa-se que essa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inscritos po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita e caracterizada<br />
como reação, um grito contra os valores masculinos e sexistas que ainda<br />
predominam na nossa socieda<strong>de</strong> brasileira. Os 10% dos homens – jovens – são<br />
também uma expressão <strong>de</strong> combate ao machismo que, certamente, prejudica a<br />
todos, homens e mulheres.<br />
No que diz respeito à auto percepção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> raça/cor, 39% se<br />
<strong>de</strong>claram brancos; 38% pardos e mestiços; 16% negros; 3% amarelos, 1% como<br />
indígenas e 3% não respon<strong>de</strong>ram. Em relação à localida<strong>de</strong> geográfica, a maior parte<br />
resi<strong>de</strong> em Goiânia 52%, seguidas por 19% em outras cida<strong>de</strong>s do Estado <strong>de</strong> Goiás,<br />
8% em outros estados, e o número significativo <strong>de</strong> 21% pessoas não revelaram seu<br />
munícipio e estado. Quanto à escolarização, os cursos ficaram categorizados em
áreas do conhecimento <strong>de</strong> acordo com o CNPq: Ciências Exatas e da Terra (2%),<br />
Ciências da Saú<strong>de</strong>/Biológicas (10%), Ciências Agrárias (1%), Ciências Humanas<br />
(45%), Ciências Sociais Aplicadas (30%), Linguística, Letras e Artes (10%), do<br />
Ensino Médio correspon<strong>de</strong> a (1%) e não revelaram seu curso superior (1%).<br />
Conclusões<br />
Po<strong>de</strong>mos dizer que os resultados parciais reverberam a tomada <strong>de</strong> posição,<br />
linguagem e <strong>de</strong>cisão dos diversos grupos sociais, em especial do segmento jovem,<br />
ansiosos em formarem uma consciência política, <strong>de</strong> transformarem suas histórias e<br />
realida<strong>de</strong>s coletivas.<br />
Cabe aos participantes do curso instrumentalizar-se <strong>de</strong> teorias e conceitos,<br />
para construírem coletivamente a matéria prima para suas reflexões e análises. Ou<br />
seja, os cursistas <strong>de</strong>sempenharam e terão motivação em rememorar as experiências<br />
vivenciadas, sendo postas em uma narrativa, com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compartilhar e<br />
socializar as leituras do mundo, tratando das relações hierárquicas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, e não<br />
somente essas.<br />
A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong>ssas perguntas, se faz importante ressaltar a relevância<br />
histórica da teoria feminista frente à <strong>de</strong>smistificação da subordinação e do estado<br />
heterônomo, que se encontram uma quantida<strong>de</strong> expressiva <strong>de</strong> mulheres, pois esta<br />
não é uma condição natural, intrínseca à sua personalida<strong>de</strong>, ela é passível <strong>de</strong><br />
transformação. O curso <strong>de</strong> formação feminista tem como propósito disseminar<br />
conhecimento e o <strong>de</strong>bate travado no seio do movimento político e social feminista, e<br />
sobre os diversos aspectos inerentes as relações entre os gêneros, contribuindo<br />
assim, com a inserção <strong>de</strong> novas ativistas com suas marcas humanas-i<strong>de</strong>ntitárias nos<br />
diversos espaços da vida social.<br />
Referências Bibliográficas<br />
GONÇALVES, Eliane e PINTO, Joana Plaza. Reflexões e problemas da “transmissão”<br />
intergeracional no feminismo brasileiro. Campinas: Ca<strong>de</strong>rnos Pagu (36), 2011, p.25-46.<br />
GONÇALVES, Eliane. Estratégias <strong>de</strong> transmissão intergeracional no feminismo brasileiro<br />
(1980-2010). <strong>UFG</strong>, 2011, projeto <strong>de</strong> pesquisa.