UFMG Departamento de Geografia Karina Rousseng Dal Pont De

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O próprio espaço passa a ser representado a partir do Renascimento, por um enquadramento de coordenadas – latitude e longitude – abstrata cartografia essa elaborada mediante Projeção de Mercator, sendo o nome aqui suficiente para indicar ligações com os mercadores, preocupados em coordenar o espaço pelo tempo (GONÇALVES, 2006, p.383). Pelo aprimoramento da ciência e da técnica, e conseqüente mercantilização da natureza (ou pela transformação da mesma em uma segunda natureza, segundo Marx), podemos compreender uma série de resquícios permanentes e influenciadores nas formas como lidamos com o meio ambiente e, conseqüentemente, com outros homens. Com a expansão e formação dos grandes aglomerados urbanos, a existência de uma dicotomia entre ambiente construído/transformado e ambiente natural se torna ainda mais evidente. Esse antagonismo se estende e permanece relacionado agora a uma “oposição presente sob as mais variadas formas na mídia, nas formulações teóricas sobre a sociedade e natureza, na regulação ambiental, nas políticas públicas, nas práticas urbanas e nos movimentos sociais (COSTA, 2000, p.56)”. Nas discussões atuais podemos apreender que o ambiental é associado somente ao natural (utópico, relacionado aos processos ecológicos) e separado de um meio ambiente transformado pela sociedade (espaços utilizados para agricultura, extração, construção, etc). Spósito (2005, p.297) ao discutir o embate entre as questões ambientais e sociais no urbano, afirma que “uma das expressões materiais mais contundentes da capacidade social de se apropriar da natureza e transformá-la, é ser considerada por excelência, a não natureza”. O caráter social dos processos urbanos de apropriação da natureza é na maioria das discussões abandonada, pois há o predomínio de uma visão que dilui a questão ambiental, que separa sociedade e natureza e a natureza da cultura. Dessa forma reafirmam um paradigma que de acordo com Gonçalves (2006) precisa ser superado. Partimos de um princípio que a cidade é ao mesmo tempo processo e resultado maior da capacidade social de transformar o espaço natural, não deixando de fazer parte deste espaço, nem de estar submetida às dinâmicas e processos naturais 16 . O urbano e o social configurados como negação da natureza, possivelmente originam-se de um desencontro epistemológico, uma vez que as discussões ambientais surgem de outras ciências onde o urbano não é objeto de estudo - apesar das preocupações urbanas nascerem um século antes da ambiental junto a críticas do modelo moderno de organização e produção do espaço, e das relações com o meio. Segundo Costa (2000) além de um “conflito teórico” outro ponto merece ser considerado ainda aberto, ou não conciliado: entre as formulações teóricas e as propostas de 16 Podemos nos remeter ao caso dos modelos em “xadrez” de planejamento das cidades, que procuravam impor uma forma ao meio natural (como, por exemplo, parte da cidade de Belo Horizonte/MG, que baseou seu planejamento, já em meados do século XIX, neste tipo de modelo) 24

intervenção urbana. Todavia não podemos deixar de lembrar que assim como as teorias, as formas de se pensar e intervir nas cidades acontece de forma dinâmica e processual. Indutoras de quebras, tanto de metodologias como de objetos de estudo, encontramos ao longo das últimas décadas do século XX, momentos de desgastes e/ou abandonos de alguns temas urbanos motivados muitas vezes por mudanças políticas e/ou socioeconômicas 17 . Por exemplo, no Brasil nos anos 60 o objeto de estudo urbano era remetido à questão da habitação; nos anos 70 ao aumento das migrações para as grandes metrópoles e fracasso daquelas políticas relacionadas à habitação (como o caso da Serfhau); nos anos 80 estudos urbanos envolviam o planejamento participativo, movimentos sociais urbanos, desaceleração do crescimento urbano e a idéia de pólos. Já nos anos 90 as discussões saem da esfera econômica pura e adquirem outras dimensões: a política e a ambiental. Viola (1992b) ao analisar o movimento ambientalista no Brasil, afirma que a “desprovincialização” dos temas ambientais a partir da segunda metade da década de 80 corrobora com a “progressiva disseminação da preocupação pública com a deteorização ambiental” (op. cit., p. 68). A preocupação ambiental, surge e ganha corpo no bojo de um amplo conjunto de reações de caráter massificante, predatório e opressor, entre outros atributos igualmente negativos, do desenvolvimento dos modos de produção capitalista e estatista, para usar distinção utilizada por Castells (1996) 18 , que passaram a caracterizar a implementação do projeto de modernidade. Ao nascer de um questionamento geral ao projeto, a análise ambiental em suas diversas vertentes questiona também, necessariamente, o modelo de organização territorial associado àquele projeto, expresso nas diferentes formas assumidas pela urbanização contemporânea. (COSTA, 2000, p. 58) Derivada da própria emergência ecológica que ao adquirir, a partir dos anos 90 uma escala mundial, o tema ambiental ultrapassa algumas fronteiras e passa e ser incorporado junto a discussões acadêmicas, ainda que descolada de uma formulação teórica. De forma incipiente se insere as tentativas de práticas urbanas e organização do espaço urbano. Concorda-se com Martine (1993) ao afirmar que as questões ambientais “afetam mais diretamente o quotidiano da maioria da população brasileira, e deverão ser resolvidas no âmbito de espaços urbanos construídos ou em construção e, não em espaços naturais ou basicamente intocados” (op. cit, p. 35). 17 Nesta parte do texto não é de nosso interesse aprofundar numa análise sobre as teorias de estudos urbanos, mas se faz necessário pelo menos apontar alguns autores que realizaram analises sócio-espaciais urbanas, pois acreditamos que pela tentativa de superação desses entendimentos é que as discussões de cunho ambiental se inserem aos estudos urbanos. Como por exemplo, os trabalhos de FAINSTEIN (1997), LOJKINE (1981) e TOPALOV (1988) este último apresenta ao estudar o caso francês de pesquisa urbana, os caminhos da pesquisa francesa de estudos urbanos naquele momento. Não podemos deixar de lembrar que estes autores influenciaram, e influenciam as pesquisas e estudos urbanos no Brasil. 18 CASTELLS, M. The rise of the network society. Blackwell Publishers, 1996 25

intervenção urbana. Todavia não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lembrar que assim como as teorias,<br />

as formas <strong>de</strong> se pensar e intervir nas cida<strong>de</strong>s acontece <strong>de</strong> forma dinâmica e processual.<br />

Indutoras <strong>de</strong> quebras, tanto <strong>de</strong> metodologias como <strong>de</strong> objetos <strong>de</strong> estudo,<br />

encontramos ao longo das últimas décadas do século XX, momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgastes e/ou<br />

abandonos <strong>de</strong> alguns temas urbanos motivados muitas vezes por mudanças políticas<br />

e/ou socioeconômicas 17 . Por exemplo, no Brasil nos anos 60 o objeto <strong>de</strong> estudo urbano<br />

era remetido à questão da habitação; nos anos 70 ao aumento das migrações para as<br />

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da Serfhau); nos anos 80 estudos urbanos envolviam o planejamento participativo,<br />

movimentos sociais urbanos, <strong>de</strong>saceleração do crescimento urbano e a idéia <strong>de</strong> pólos. Já<br />

nos anos 90 as discussões saem da esfera econômica pura e adquirem outras<br />

dimensões: a política e a ambiental.<br />

Viola (1992b) ao analisar o movimento ambientalista no Brasil, afirma que a<br />

“<strong>de</strong>sprovincialização” dos temas ambientais a partir da segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 80<br />

corrobora com a “progressiva disseminação da preocupação pública com a <strong>de</strong>teorização<br />

ambiental” (op. cit., p. 68). A preocupação ambiental,<br />

surge e ganha corpo no bojo <strong>de</strong> um amplo conjunto <strong>de</strong> reações <strong>de</strong> caráter<br />

massificante, predatório e opressor, entre outros atributos igualmente<br />

negativos, do <strong>de</strong>senvolvimento dos modos <strong>de</strong> produção capitalista e<br />

estatista, para usar distinção utilizada por Castells (1996) 18 , que passaram<br />

a caracterizar a implementação do projeto <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Ao nascer <strong>de</strong><br />

um questionamento geral ao projeto, a análise ambiental em suas diversas<br />

vertentes questiona também, necessariamente, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização<br />

territorial associado àquele projeto, expresso nas diferentes formas<br />

assumidas pela urbanização contemporânea. (COSTA, 2000, p. 58)<br />

<strong>De</strong>rivada da própria emergência ecológica que ao adquirir, a partir dos anos 90<br />

uma escala mundial, o tema ambiental ultrapassa algumas fronteiras e passa e ser<br />

incorporado junto a discussões acadêmicas, ainda que <strong>de</strong>scolada <strong>de</strong> uma formulação<br />

teórica. <strong>De</strong> forma incipiente se insere as tentativas <strong>de</strong> práticas urbanas e organização do<br />

espaço urbano. Concorda-se com Martine (1993) ao afirmar que as questões ambientais<br />

“afetam mais diretamente o quotidiano da maioria da população brasileira, e <strong>de</strong>verão ser<br />

resolvidas no âmbito <strong>de</strong> espaços urbanos construídos ou em construção e, não em<br />

espaços naturais ou basicamente intocados” (op. cit, p. 35).<br />

17 Nesta parte do texto não é <strong>de</strong> nosso interesse aprofundar numa análise sobre as teorias <strong>de</strong> estudos urbanos,<br />

mas se faz necessário pelo menos apontar alguns autores que realizaram analises sócio-espaciais urbanas,<br />

pois acreditamos que pela tentativa <strong>de</strong> superação <strong>de</strong>sses entendimentos é que as discussões <strong>de</strong> cunho<br />

ambiental se inserem aos estudos urbanos. Como por exemplo, os trabalhos <strong>de</strong> FAINSTEIN (1997), LOJKINE<br />

(1981) e TOPALOV (1988) este último apresenta ao estudar o caso francês <strong>de</strong> pesquisa urbana, os caminhos<br />

da pesquisa francesa <strong>de</strong> estudos urbanos naquele momento. Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lembrar que estes autores<br />

influenciaram, e influenciam as pesquisas e estudos urbanos no Brasil.<br />

18 CASTELLS, M. The rise of the network society. Blackwell Publishers, 1996<br />

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