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UFMG Departamento de Geografia Karina Rousseng Dal Pont De

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CAPÍTULO 1.<br />

A CIDADE E A NATUREZA: QUESTÃO AMBIENTAL URBANA E A<br />

MOBILIDADE DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA<br />

1.1 Sobre a cida<strong>de</strong> e a natureza: limites, aproximações e o alargamento das<br />

fronteiras<br />

Os sentidos e as relações entre homem e natureza foram comandados ao longo<br />

da história da humanida<strong>de</strong> por modos <strong>de</strong> vida, culturas, regimes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e,<br />

principalmente, pelo <strong>de</strong>senvolvimento econômico das socieda<strong>de</strong>s. Seria impossível<br />

pensar na sobrevivência dos homens na Terra sem a utilização e evolução da técnica e<br />

da tecnologia, ferramentas fundamentais para a apropriação, dominação e<br />

transformação da natureza. Na era neolítica, por exemplo, quando o homem <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser<br />

nôma<strong>de</strong> e cria raízes nos lugares através da agricultura, impõe à natureza seu tempo,<br />

suas vonta<strong>de</strong>s e necessida<strong>de</strong>s. Saraiva (1999) afirma que as relações homem-natureza<br />

se constituem em processos complexos e diferenciados: em algumas culturas essas<br />

relações foram harmoniosas e cooperantes, noutros contextos a natureza foi vista como<br />

uma realida<strong>de</strong> hostil, a ser dominada ou combatida 14 .<br />

Gonçalves (2006) afirma que não haveria um domínio da natureza sem o domínio<br />

<strong>de</strong> outros homens, nesse sentido o autor remete-se ao Renascimento, “quando a<br />

natureza é <strong>de</strong>ssacralizada e se transforma em objeto <strong>de</strong> transformação antropocêntrica”<br />

(op. cit. 378). Naquele momento a formação dos Estados-Nação e dos sistemas<br />

capitalistas pautados pela matriz judaico-cristã 15 permitiu o advento da exploração não só<br />

da natureza, mas também dos homens: a natureza é tornada mercadoria, enquanto uns<br />

homens recebem salários pela venda <strong>de</strong> sua força <strong>de</strong> trabalho, e outros recebem os<br />

lucros.<br />

14 Po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar ainda segundo Saraiva (1999) numa perspectiva cronológica algumas fases que<br />

permeiam a complexida<strong>de</strong> da relação homem-natureza: fase do temor (os ciclos e acontecimentos naturais<br />

assumem um caráter sagrado; fase <strong>de</strong> harmonia, o homem procura adaptar-se e integrar-se nos processos<br />

naturais; fase do controle, que procura obter os domínios sobre os recursos e seus ciclos; fase da<br />

<strong>de</strong>gradação, quando essa exploração é conduzida <strong>de</strong> uma forma dilapidadora exce<strong>de</strong>ndo a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

regeneração dos ecossistemas e seu equilíbrio dinâmico).<br />

15 Pela visão aristotélico-platônica, o ser humano estava integrado ao cosmos, e aos elementos naturais.<br />

“Assim como na antiguida<strong>de</strong> antiga grega, o ser humano na Ida<strong>de</strong> Média se relacionava com a natureza <strong>de</strong><br />

forma integrada. Entretanto, se na antiguida<strong>de</strong> a ação dos elementos naturais era <strong>de</strong>terminada por um<br />

sentido imanente, no período medieval a essência dos elementos naturais <strong>de</strong>corria <strong>de</strong> um fator externo: o<br />

<strong>De</strong>us Judaico-cristão” (BARACHO JÚNIOR, 1998, p.244). Ao falar da perfeição <strong>de</strong> <strong>De</strong>us, em oposição ao<br />

mundo natural, a igreja dicotomiza a relação homem-natureza, <strong>de</strong>clarando o homem como aquele que <strong>de</strong>verá<br />

exercer um domínio sobre o meio natural. Porém, será com <strong>De</strong>scartes e o cartesianismo que esta separação<br />

homem-natureza, espírito-matéria, sujeito-objeto será consumada completamente.<br />

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