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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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muitas vezes, por uma intensa rejeição ou repulsa de práticas e marcas femini<strong>na</strong>s<br />

(o que caracterizaria, no limite, a misoginia). É preciso afastar ou negar qualquer<br />

vestígio de desejo que não corresponda à norma sancio<strong>na</strong>da. O medo e a aversão da<br />

homos<strong>sexual</strong>idade são cultivados em associação com a heteros<strong>sexual</strong>idade.<br />

Observa-se ainda que <strong>na</strong> construção cultural da identidade masculi<strong>na</strong> a centralidade<br />

da <strong>sexual</strong>idade tem sido mais reiterada do que <strong>na</strong> construção da identidade<br />

femini<strong>na</strong> (pelo menos em sociedades como a nossa). Uma vida <strong>sexual</strong> ativa – leia-se<br />

uma vida heteros<strong>sexual</strong> ativa – parece ser um elemento recorrente <strong>na</strong> representação<br />

da masculinidade, não acontecendo o mesmo em relação à feminilidade (vale lembrar,<br />

por exemplo, o quanto a impotência <strong>sexual</strong> é representada como uma grave<br />

ameaça de perda da identidade masculi<strong>na</strong>).<br />

Evidentemente, sendo esse um processo cultural, é histórico e dinâmico, quer<br />

dizer, é passível de transformações. Ao lado dos discursos que reiteram a norma<br />

heteros<strong>sexual</strong>, circulam também discursos divergentes e práticas subversivas, e parece<br />

notório que esses processos de subversão e desafio da norma vêm se tor<strong>na</strong>ndo,<br />

contemporaneamente, cada vez mais visíveis. Contudo, sugeri antes que há limites<br />

nesse processo e gostaria de fazer um breve comentário a respeito.<br />

A premissa sexo-gênero-<strong>sexual</strong>idade sustenta-se numa lógica que supõe o<br />

sexo como “<strong>na</strong>tural”, entendendo este <strong>na</strong>tural como “dado”. Ora, segundo esta lógica,<br />

o caráter imutável, a-histórico e binário do sexo impõe limites à concepção de<br />

gênero e de <strong>sexual</strong>idade. Na medida em que se equacio<strong>na</strong> a <strong>na</strong>tureza (ou o que é<br />

“<strong>na</strong>tural”) com a heteros<strong>sexual</strong>idade, isto é, com o desejo pelo sexo/gênero oposto,<br />

passa-se a considerá-la como a forma compulsória de <strong>sexual</strong>idade. Por esta lógica,<br />

os sujeitos que, por qualquer razão ou circunstância, escapam da norma e promovem<br />

uma descontinuidade <strong>na</strong> seqüência serão tomados como “minoria” e serão colocados<br />

à margem tanto das preocupações da escola, quanto da justiça ou da sociedade em<br />

geral. Paradoxalmente, esses sujeitos “margi<strong>na</strong>lizados” continuam necessários, pois<br />

são precisamente eles que servem para circunscrever os contornos daqueles tidos<br />

como “normais”. O limite do “pensável”, no campo dos gêneros e da <strong>sexual</strong>idade,<br />

fica assim circunscrito aos contornos dessa seqüência “normal”. Como a lógica é binária,<br />

há que admitir a existência de um pólo desvalorizado – um grupo desig<strong>na</strong>do<br />

como minoritário que pode ser tolerado como desviante ou diferente – contudo, é<br />

insuportável pensar em múltiplas <strong>sexual</strong>idades. A idéia de multiplicidade escapa da<br />

lógica que rege toda essa questão. Penso que aqui se inscreve um importante limite<br />

epistemológico: onde ficam os sujeitos que não ocupam nenhum dos dois lados<br />

dessa polaridade? Como se representa, ou o que se “faz” com os sujeitos bissexuais,<br />

com os transgêneros, travestis e drags?<br />

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