Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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mesmo tempo em que aprisiona – nos desvios da história, da memória e das comunidades” (id., 004: , grifos meus). Luiz Eduardo Soares nota que: 420 Identidade implica relação, múltipla ou contraditória, de semelhança e diferença, e importa em recortes societários transversais [...]. Expressa segmentações e/ou as engendra. A malha assim tecida não é necessariamente sempre a referência estruturante para os grupos sociais. Dependendo da circunstância, do tema posto na agenda pública, da natureza da atividade, da disputa ou da experiência em questão, outros códigos segmentadores podem ser acionados, redesenhando a geografia social, obscurecendo “identidades” antepostas e fazendo emergir “identidades” convergentes, ou produzindo o efeito inverso, isto é, obscurecendo “identidades” convergentes e despertando, ou sublinhando e trazendo à cena “identidades” contrastantes e conflitantes (SOARES, 00 , s.p.). O autor reitera que todas as identidades, além de serem histórica e socialmente construídas, culturalmente elaboradas, são “indissociáveis de políticas específicas, nas quais se articulam poderes e saberes particulares” (ibid.). Resistir a tal compreensão significa procurar erguer um obstáculo contra discursos e práticas que colocam em questão as dinâmicas das correlações de força que se estabelecem ou se renovam no decorrer de processos em que identidades são forjadas e hierarquias perpetuadas. Contrariando disposições relativas às “políticas de identidade”, é preciso enfatizar que as identidades, além de relacionais, são plurais, múltiplas, instáveis e imbricadas umas com as outras. Não são fixas, uniformes, separáveis ou forçosamente excludentes. São instáveis, transitórias, contingentes, incompletas e implicadas em diversos processos de identificação. Praticamente sempre contraditórias e jamais homogêneas, são produzidas e vividas com tensões e conflitos, fazendo com que o sujeito, com freqüência, se sinta “empurrado em diferentes direções” (HALL, HELD e McGREW, 99 : 4). 7 Ao contrário do que comumente muitos preferem crer, as identidades não podem, ser simples e automaticamente “assumidas”, como se se tratasse de admitir algo 156 Quando, em um cenário multiculturalista liberal, consideram-se as identidades como categorias excludentes, uniformes e separáveis, “a conseqüência é uma enumeração contínua, uma multiplicação que produz uma luta cada vez mais ampla que efetivamente separa o que pretende conectar ou que procura conectar mediante uma enumeração que não pode considerar as encruzilhadas” (BUTLER, 2002: 175). 157 Vide ainda: HALL, 1996 e 1999; SILVA, 2000; CASTELLS, 1999; BAUMAN, 2003a, entre outros.

que já estava lá, desde sempre, natural e estaticamente posto, sem nenhum sistema dinâmico (e contraditório) de relações sociais e de poder ou quadro de representações sociais que as produzissem, lhe dessem sentido (ou sentidos) e lhe atribuíssem significados. Enquanto fenômenos sociais, as identidades, além de não serem prediscursivas e naturalmente “dadas”, tampouco se constituem de modo linear, fechado, transparente, em perfeita coerência e livre de coercitividade. Observa Stuart Hall: Ao invés de tomar a identidade por um fato que, uma vez consumado, passa em seguida a ser representado pelas novas práticas culturais, deveríamos pensá-la, talvez, como uma “produção” que nunca se completa, que está sempre em processo e é sempre constituída interna e não externamente à representação (HALL, 99 : 8). Não se trata, portanto, de verificar se as representações sociais em circulação “espelham” ou “distorcem” a “verdade” acerca dos grupos e dos indivíduos de que se fala. As representações exercem um papel ativo na produção de identidades e de práticas sociais. As marcas das diferenças são continuamente produzidas, inscritas e reinscritas mediante processos discursivos e culturais (LOURO, 00 : 4; SOARES, 004), multifariamente relacionados com as disposições das normas de gênero, da heteronormatividade, do racismo e de outros arsenais normativos. E àqueles e àquelas que, amparados nos pressupostos da existência de identidades estáveis ou cristalizadas, preferem defender a fixidez das identidades sexuais, vale lembrar: Pela centralidade que a sexualidade adquiriu nas modernas sociedade ocidentais, parece ser difícil entendê-la como tendo as propriedades de fluidez e inconstância. Freqüentemente nos apresentamos (ou nos representamos) a partir de nossa identidade de gênero e de nossa identidade sexual. Esta parece ser, usualmente, a referência mais “segura” sobre os indivíduos. [...] podemos reconhecer, teoricamente, que nossos desejos e interesses individuais e nossos pertencimentos sociais possam nos “empurrar” em várias direções; no entanto, nós “tememos a incerteza, o desconhecido, a ameaça de dissolução que implica não ter uma identidade fixa”; por isso, tentamos fixar uma identidade, afirmando que o que somos agora é o que, na verdade, sempre fomos. Precisamos de algo que dê um fundamento para nossas ações e, então, construímos nossas “narrativas pessoais”, nossas biografias, de uma forma que lhes garanta coerência (LOURO, 999: - 4). 421

que já estava lá, desde sempre, <strong>na</strong>tural e estaticamente posto, sem nenhum sistema<br />

dinâmico (e contraditório) de relações sociais e de poder ou quadro de representações<br />

sociais que as produzissem, lhe dessem sentido (ou sentidos) e lhe atribuíssem<br />

significados. Enquanto fenômenos sociais, as identidades, além de não serem prediscursivas<br />

e <strong>na</strong>turalmente “dadas”, tampouco se constituem de modo linear, fechado,<br />

transparente, em perfeita coerência e livre de coercitividade. Observa Stuart Hall:<br />

Ao invés de tomar a identidade por um fato que, uma vez<br />

consumado, passa em seguida a ser representado pelas novas<br />

práticas culturais, deveríamos pensá-la, talvez, como uma<br />

“produção” que nunca se completa, que está sempre em processo<br />

e é sempre constituída inter<strong>na</strong> e não exter<strong>na</strong>mente à<br />

representação (HALL, 99 : 8).<br />

Não se trata, portanto, de verificar se as representações sociais em circulação<br />

“espelham” ou “distorcem” a “verdade” acerca dos grupos e dos indivíduos de que se<br />

fala. As representações exercem um papel ativo <strong>na</strong> produção de identidades e de<br />

práticas sociais. As marcas das diferenças são continuamente produzidas, inscritas<br />

e reinscritas mediante processos discursivos e culturais (LOURO, 00 : 4;<br />

SOARES, 004), multifariamente relacio<strong>na</strong>dos com as disposições das normas de<br />

gênero, da heteronormatividade, do racismo e de outros arse<strong>na</strong>is normativos.<br />

E àqueles e àquelas que, amparados nos pressupostos da existência de identidades<br />

estáveis ou cristalizadas, preferem defender a fixidez das identidades sexuais,<br />

vale lembrar:<br />

Pela centralidade que a <strong>sexual</strong>idade adquiriu <strong>na</strong>s moder<strong>na</strong>s sociedade<br />

ocidentais, parece ser difícil entendê-la como tendo as propriedades<br />

de fluidez e inconstância. Freqüentemente nos apresentamos<br />

(ou nos representamos) a partir de nossa identidade de<br />

gênero e de nossa identidade <strong>sexual</strong>. Esta parece ser, usualmente,<br />

a referência mais “segura” sobre os indivíduos. [...] podemos reconhecer,<br />

teoricamente, que nossos desejos e interesses individuais<br />

e nossos pertencimentos sociais possam nos “empurrar” em várias<br />

direções; no entanto, nós “tememos a incerteza, o desconhecido,<br />

a ameaça de dissolução que implica não ter uma identidade fixa”;<br />

por isso, tentamos fixar uma identidade, afirmando que o que somos<br />

agora é o que, <strong>na</strong> verdade, sempre fomos. Precisamos de algo<br />

que dê um fundamento para nossas ações e, então, construímos<br />

nossas “<strong>na</strong>rrativas pessoais”, nossas biografias, de uma forma que<br />

lhes garanta coerência (LOURO, 999: - 4).<br />

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