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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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alma se pretende unificar, onde o Eu inventa para si uma igualdade ou uma coerência,<br />

o genealogista [...] procura a proliferação dos acontecimentos através dos quais<br />

elas se formaram” (MATOS, 00 : 4 ). 47<br />

Não por acaso, reside aí uma das enormes dificuldades das pessoas e das estruturas<br />

xenófobas, racistas ou homofóbicas: a incapacidade de lidar não só com a reivindicação<br />

de reconhecimento da diferença, mas também com o (re)conhecimento da<br />

existência de semelhanças em relação ao “outro”. Uma semelhança que gera fascínio,<br />

terror 48 e ódio, “não por ele [o ‘outro’] ser diferente de nós, mas para poder[mos]<br />

ignorar que ele é parecido conosco” (CALLIGARIS, 00 ). 49 De acordo com Julia<br />

Kristeva ( 988), o “outro”, esse estrangeiro que suscita animosidade e irritação, é <strong>na</strong><br />

verdade “o meu próprio inconsciente”, o “retorno do recalcado”, afi<strong>na</strong>l, “o estrangeiro<br />

está em nós”. 0 Nas palavras de Regi<strong>na</strong> Maria de Souza:<br />

[...] as tentativas de normalização/correção do anormal teriam<br />

uma contrapartida afetiva nossa: seja porque nele identificamos<br />

algo que em nós já tivemos que negar (mas que nos habita em<br />

estado de esquecimento), seja por uma certa necessidade de não<br />

suportarmos ver no outro uma possibilidade de existência possível de<br />

nós mesmos (SOUZA, 00 , s.p., grifos meus).<br />

Por isso, como observa Olgária Matos, interrogar a intolerância requer<br />

mais do que questio<strong>na</strong>r as relações do “eu” com o “outro”, mas, sobretudo, de<br />

nós com nós mesmos/as:<br />

[...] nos termos de Freud, este eu que nos é tão íntimo é, também,<br />

inquietantemente estranho. [...] o medo fixa o estranho<br />

fora de nós [...] nosso eu primitivo [...] projeta para fora de si<br />

tudo o que experimenta como perigoso e assustador [...]. [Em<br />

face do] estrangeiro que recusamos sem consciência da recusa<br />

147 O “Eu” pode ser visto como “um centro de gravidade <strong>na</strong>rrativo”, ou seja, “o Eu não é um lugar, nem um<br />

espaço, é [...] uma capacidade de atração. É o resultado de um processo que se obtém quando múltiplas<br />

<strong>na</strong>rrativas rivais, que interpretam e encar<strong>na</strong>m, com vozes diversas e em modos diversos, a nossa individualidade<br />

e a nossa perso<strong>na</strong>lidade, [em] certo momento cedem o passo ao domínio de uma <strong>na</strong>rrativa hegemônica,<br />

que consegue estabelecer uma forma de concórdia provisória e conquistar um papel domi<strong>na</strong>nte.”<br />

(TAGLIAGAMBE, 2004: 30). Heinz von Forster pergunta: “mas por que definimos nossas identidades de<br />

seres humanos se somos devires humanos? Nossa humanidade está no devir e não no ser.” (apud CERU-<br />

TI, 2004: 11). Vide demais intervenções em BARZANÒ e BRUMANA, 2004.<br />

148 PONTALIS e JACQUARD, 1984-1985: 15-28; WIEVIORKA, 1996: 50.<br />

149 Principal ingrediente da ideologia “politicamente correta”, a vitimização também contribui para instilar no<br />

“outro” um mecanismo análogo. Quem se vê como vítima tende a também denegar e a recusar a semelhança<br />

ou a identificação com o seu opressor.<br />

150 Britzman (2004: 170) lembra que a história de opressão vivida por um sujeito não garante que nele se<br />

desenvolva “nenhum tipo de sensibilidade social, nem uma percepção da diferença, inclusive a própria”.<br />

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