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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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“Eu”, “nós”, os “outros”: a fluidez das fronteiras<br />

identitárias<br />

A dimensão emancipatória da <strong>educação</strong> inclusiva, possivelmente, tenderá a ser<br />

tanto maior quanto mais profundamente percebermos que o “outro” não é somente<br />

“aquele/a lá”, mas é um “outro eu” 4 ou, até mesmo, o “outro que também sou eu”,<br />

ambos os sujeitos incompletos, contraditórios, em perpétuo movimento, embalados,<br />

atraídos e entranhados por multidões de vozes. 44 Todos podemos conter algo do<br />

“outro” (ainda que de modo reprimido, postergado ou desviado), 4 além de também<br />

sermos o “outro dos outros” e, inclusive, apresentarmos diferenças e semelhanças e<br />

produzirmos juntos um cenário mutante, multifacetado e polifônico de infinitas e<br />

surpreendentes especificidades e possibilidades. Afi<strong>na</strong>l, “todos já vivemos, ainda que<br />

em níveis diferentes, este reencontro de culturas no interior de nós mesmos: somos<br />

todos híbridos” (TODOROV, 999: , grifos meus). Por isso, Bhabha ( 00 : 9)<br />

chega a ansiar que possamos emergir como “os outros de nós mesmos”.<br />

Nossos marcadores identitários são plurais, agem segundo um concerto polifônico<br />

e concorrem para compor o quadro dinâmico das características que, ao<br />

mesmo tempo, procuramos nos atribuir e são socialmente atribuídas a cada um de<br />

nós. 4 Por isso, nenhum deles pode ou poderia constituir, isoladamente, um único<br />

elemento que sirva para definir um indivíduo de maneira cabal, unívoca e permanente.<br />

Toda distinção absoluta que exclua qualquer possibilidade de convergência<br />

entre “eu”/“nós” e o(s) “outro(s)” e que negue a di<strong>na</strong>micidade e a multiplicidade do<br />

processo de configuração identitária é arbitrária e fraudulenta. Por isso, “lá onde a<br />

que pode provocar a produção de discursos hegemônicos disfarçados ou vazios de significado social e<br />

político, ou ainda discursos [...] que produziriam a vulgarização do político e da política e o esvaziamento<br />

do espaço público” (id.).<br />

143 Referindo-se a Bourdieu, Louis Pinto (2000: 55) observa: “Uma vez abolidas as falsas distâncias do objetivismo,<br />

o outro pode ser reconhecido como outro eu: como eu porque até certo ponto ele revela traços<br />

genéricos e experiências comuns, como honra, generosidade, vergonha, confusão etc; como outro porque,<br />

por mais que a prática do outro se baseie <strong>na</strong> razão e/ou <strong>na</strong> necessidade, ela pertence a um universo quase<br />

sempre alheio, do qual há que se apropriar unicamente por intermédio do pensamento”.<br />

144 “O indivíduo é o resultado de um acordo entre atores psíquicos múltiplos e heterogêneos; enquanto que o<br />

estado patológico é sempre resultado de um ‘golpe de estado’, em que uma parte de nós diz EU e coloca<br />

em silêncio [...] todas as outras partes do nosso parlamento interior [...] que necessita, para nutrir-se, de<br />

fazê-las relacio<strong>na</strong>rem-se para poder dizer EU de maneira concertada” (CERUTI, 2004: 10).<br />

145 Segundo João Silvério Trevisan (2000: 462), a Aids deixou “evidente à sociedade que homos<strong>sexual</strong><br />

existe e não é o outro, no sentido de um continente à parte, mas está muito próximo de qualquer<br />

cidadão comum, talvez ao meu lado e – isto é importante! – dentro de cada um de nós, pelo menos<br />

enquanto virtualidade.”<br />

146 Ao prevalecer de maneira arbitrária ape<strong>na</strong>s um “marcador identitário” (cor, raça, etnia, gênero, orientação<br />

<strong>sexual</strong>, idade, língua, origem, crença, opinião política, condição física, classe etc.), afastam-se<br />

as possibilidades de diálogo e restringem-se as experiências de solidariedade entre diversos outros<br />

indivíduos ou grupos dotados de atributos que poderiam representar fator de aproximação se considerados<br />

a partir de uma ótica não-<strong>na</strong>rcísica e não-reducionista. O posicio<strong>na</strong>mento de determi<strong>na</strong>dos grupos<br />

minoritários estadunidenses, em 2006, contrários à legalização dos estrangeiros “latinos” <strong>na</strong>quele país<br />

serve como ilustração.<br />

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