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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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anos antes que essa discussão tivesse lugar, chamou de “estratégia de condescendência”,<br />

por meio da qual o domi<strong>na</strong>nte, ao negar simbolicamente a relação de poder,<br />

logra o fortalecimento dessa relação e favorece falsos reconhecimentos das aspirações<br />

do domi<strong>na</strong>do (id., 979 [ 98 a : 4 4]). 0<br />

Ademais, no que concerne à relação dos indivíduos no interior dos grupos<br />

domi<strong>na</strong>dos, o “politicamente correto” pode se tor<strong>na</strong>r uma forma ulterior de opressão<br />

ao favorecer, como observa Franco Crespi ( 00 : 0 ), “o autoritarismo dos grupos<br />

minoritários sobre os seus próprios membros”: estes, além de não serem reconhecidos<br />

pelas suas singularidades, poderão ver denunciado como uma traição qualquer<br />

comportamento que não se enquadre perfeitamente ao que tiver sido estipulado<br />

pelos códigos da economia moral domi<strong>na</strong>nte no próprio grupo. A esse propósito,<br />

Zygmunt Bauman ( 00 : 7) alerta:<br />

400<br />

[...] Diferenças culturais profundas ou irrisórias, visíveis ou quase<br />

despercebidas, são usadas <strong>na</strong> frenética construção de muralhas<br />

defensivas e de plataformas de lançamento de mísseis. “Cultura”<br />

vira sinônimo de fortaleza sitiada, e numa fortaleza sitiada os habitantes<br />

têm de manifestar diariamente sua lealdade inquebrantável<br />

e abster-se de quaisquer relações cordiais com estranhos. A<br />

“defesa da comunidade” tem que ter precedência sobre todos os<br />

outros compromissos. Sentar-se à mesa com “estranhos”, estar<br />

em sua companhia nos mesmos lugares, para não falar em e<strong>na</strong>morar-se<br />

ou casar-se fora da comunidade, são si<strong>na</strong>is de traição e<br />

razões para ostracismo e degredo. Comunidades assim construídas<br />

viram expedientes que objetivam principalmente a perpetuação<br />

da divisão, da separação e do isolamento. 0<br />

O risco é que o respeito e o reconhecimento da diferença se reifiquem<br />

numa espécie de mera “celebração da singularidade” ou de elogio à diferença,<br />

freqüentemente estetizada e quase invariavelmente engessada. 0 Respeitá-la<br />

101 Mais tarde, Bourdieu (1998b: 26) criticou a “crença fantasística, típica do ‘radicalismo de campus’, de que<br />

se muda o mundo mudando as palavras, que a subversão de termos, categorias, discursos seja suficiente<br />

para subverter ou atingir as estruturas objetivas de domi<strong>na</strong>ção”.<br />

102 Para David Harvey (1990 [2002: 143]), as múltiplas formas da diversidade emergem das diferenças de<br />

subjetividade, sexo, <strong>sexual</strong>idade, raça, classe etc. Ele nota, nos centros urbanos, um pulular de diversidades<br />

fragmentadas, divergentes e não comunicativas, e, neste contexto, o “respeito ao diferente” arrisca<br />

termi<strong>na</strong>r vítima da competição entre grupos cada vez mais fracio<strong>na</strong>dos e discrepantes, em processos de<br />

mútua exautoração, desorientação, guetização e isolamento social (ibid.: 144, 368, 426, 431).<br />

103 Contra o engessamento é importante lembrar que “alguns grupos homossexuais permanecem lutando<br />

por reconhecimento e por legitimação, buscando sua inclusão, em termos igualitários, ao conjunto da sociedade;<br />

outros estão preocupados em desafiar as fronteiras tradicio<strong>na</strong>is de gênero e sexuais, pondo em

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