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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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nifestação explicitamente contrária ao reconhecimento da diversidade <strong>sexual</strong> possa<br />

conduzir a uma perda política ou produzir algum embaraço entre bem-pensantes,<br />

a estratégia 4 comumente adotada é a da concordância infrutífera: expressa-se<br />

um aparente consenso em relação à necessidade de se enfrentar a homofobia que,<br />

no entanto, além de geralmente ter como principal efeito a interrupção do fluxo<br />

da conversação, não se traduz em nenhuma medida efetiva. De algum modo, deve<br />

também servir para amai<strong>na</strong>r a mauvaise conscience.<br />

Também não é muito difícil encontrar expoentes defensores dos direitos humanos<br />

reticentes (ou até hostis) à idéia de incorporar em suas agendas o reconhecimento<br />

da diversidade <strong>sexual</strong> como expressão legítima, por meio do qual se<br />

problematizariam homofobia, sexismo, misoginia e repressão <strong>sexual</strong>. Respaldadas<br />

por um arse<strong>na</strong>l socialmente difuso de preconceitos, algumas dessas pessoas sentemse<br />

confortáveis ao manter suas posições em nome dos “valores tradicio<strong>na</strong>is” ou dos<br />

“princípios defendidos pela maioria”. Ora expostas nitidamente, ora camufladas<br />

pela ambigüidade ou expressas por meio de um silêncio cúmplice, tais posições lhes<br />

permitem refrescarem-se em uma gigantesca bacia de Pilatos.<br />

Com previsível facilidade, sentimentos difusos e desconexos em relação às<br />

homos<strong>sexual</strong>idades e às pessoas LGBTI podem se transformar em férreas convicções<br />

e desencadear ações concretas contra elas, que vão desde a indiferença<br />

e o desdém à violência psicológica ou física. O fato de o Brasil manter um dos<br />

mais altos índices de assassi<strong>na</strong>tos de matriz homofóbica 7 não suscita clamor<br />

público de idênticas proporções e só recentemente passou a receber atenção por<br />

parte de políticas públicas.<br />

63 Tomo de empréstimo do italiano o termo benpensante, por vezes usado com ironia, em referência a indivíduos<br />

que crêem se distinguir dos demais por procurarem jamais se afastar das normas estabelecidas.<br />

64 Evito falar de “má-fé” (no sentido ordinário do termo) ou de “conspiração”. Valendo-me de Bourdieu, prefiro<br />

considerar as “estratégias” não como decisões ou práticas forçosamente premeditadas, numa espécie<br />

de busca intencio<strong>na</strong>l e antecipadamente planejada de objetivos calculados. Sem corresponderem a uma<br />

manifestação do inconsciente, as estratégias são linhas (e às vezes, repertórios) de ação que os agentes<br />

sociais constroem continuamente e que se definem segundo o “senso prático”, num encontro entre o habitus<br />

e o “campo”. Vide: BOURDIEU, 1972: 175; 1980: 136-138, passim; 1990: 79; 1992: 98-99.<br />

65 Basta percorrer algumas importantes publicações ou documentos sobre os direitos humanos para se constatar<br />

a ausência patente da temática da diversidade <strong>sexual</strong> no tradicio<strong>na</strong>l campo dos direitos humanos.<br />

66 O argumento da “maioria” parece ser aí decisivo. Felizmente, não tem sido assim nos casos de debates<br />

sobre pe<strong>na</strong> de morte ou redução da idade de responsabilidade pe<strong>na</strong>l. Ali, esses defensores dos direitos<br />

humanos têm demonstrado enorme coragem cívica para contrastar as opiniões majoritárias.<br />

67 Levantamentos baseados em fontes jor<strong>na</strong>lísticas e relatos de grupos organizados revelam que, no Brasil,<br />

entre 1963 e 2001, 2.092 pessoas foram assassi<strong>na</strong>das pela simples razão de serem homossexuais ou<br />

transgêneros. Em 2000, foram 130 assassi<strong>na</strong>tos, dos quais 69% gays, 29% travestis e 2% lésbicas. Segundo<br />

o Grupo Gay da Bahia, em 2003, foram registrados 125 assassi<strong>na</strong>tos homofóbicos e 169 no ano<br />

seguinte. Em 2007, foram 90 os assassi<strong>na</strong>tos até o mês de julho. São dados certamente subestimados,<br />

pois faltam informações sobre alguns estados e muitas mortes de homossexuais não são divulgadas pela<br />

imprensa. A média brasileira fica, assim, em torno de um assassi<strong>na</strong>to homofóbico registrado a cada três<br />

dias. É preciso que se dê maior atenção para os nexos entre a violência homofóbica e o quadro de agressões<br />

contra as mulheres: são ambas violências de gênero de inequívoca raiz heteronormativa.<br />

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