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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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pressupostos homofóbicos mais amplos e termi<strong>na</strong> por atingir os demais. Lesbo/<br />

trans/gayfobia pressupõem homofobia, e todas se implicam. Sem desconsiderar a<br />

complexidade do quadro de violência contra as lésbicas e a crueza que esta pode<br />

assumir, seria temerário falar em lesbofobia (ou outra) em estado cristalino, isolado<br />

ou autônomo. Tais discrimi<strong>na</strong>ções desdobram-se em variadas e imbricadas manifestações<br />

homofóbicas – todas necessariamente atreladas às normas de gênero.<br />

A íntima relação entre homofobia e normas de gênero tanto se traduz em<br />

noções, crenças, valores, expectativas, quanto em atitudes, edificação de hierarquias<br />

opressivas e mecanismos reguladores discrimi<strong>na</strong>tórios bastante amplos. Assim, pode<br />

comportar drásticas conseqüências a qualquer pessoa que ouse descumprir os preceitos<br />

socialmente impostos em relação ao que significa ser homem e ser mulher. Nesse<br />

sentido, a noção de homofobia pode ser estendida para nos referirmos também a<br />

situações de preconceito, discrimi<strong>na</strong>ção e violência contra pessoas (homossexuais ou<br />

não) cujas performances 7 e/ou expressões de gênero (gostos, estilos, comportamentos<br />

etc.) não se enquadram nos modelos hegemônicos postos por tais normas.<br />

É preciso, então, considerar a existência de um variado e dinâmico arse<strong>na</strong>l de<br />

normas, injunções discipli<strong>na</strong>doras e disposições de controle voltadas a estabelecer e<br />

a determi<strong>na</strong>r padrões e imposições normalizantes 8 no que concerne a corpo, gênero,<br />

<strong>sexual</strong>idade e ao que lhes diz respeito, direta ou indiretamente. A homofobia,<br />

nesse sentido, transcende tanto aspectos de ordem psicológica, quanto a hostilidade<br />

e a violência contra pessoas homossexuais, bissexuais, travestis, transexuais e intersexos<br />

etc. Ela, inclusive, diz respeito a valores, mecanismos de exclusão, disposições e<br />

estruturas hierarquizantes, relações de poder, sistemas de crenças e de representação,<br />

padrões relacio<strong>na</strong>is e identitários, todos voltados a <strong>na</strong>turalizar, impor, sancio<strong>na</strong>r e<br />

legitimar uma única seqüência sexo-gênero-<strong>sexual</strong>idade, centrada <strong>na</strong> heteros<strong>sexual</strong>idade<br />

e rigorosamente regulada pelas normas de gênero.<br />

O que vemos, então, é um sistema binário, discipli<strong>na</strong>dor, normatizador e normalizador<br />

graças ao qual a heteros<strong>sexual</strong>idade só poderia ganhar expressão social<br />

mediante o gênero considerado <strong>na</strong>turalmente correspondente a determi<strong>na</strong>do sexo<br />

(genitalizado, tido como “<strong>na</strong>tural”, “dado”, “pré-discursivo” e, portanto, “evidente” e<br />

27 Performances de gênero são “ficções sociais prevalentes, coactivas, sedimentadas [que geram] um conjunto<br />

de estilos corporais que aparecem como uma organização <strong>na</strong>tural [...] dos corpos em sexos, em uma<br />

relação binária e complementar” (BENTO, 2003, s.p.). Vide: BUTLER, 1998, 1999, 2002: 323-339; 2003: 48,<br />

59, 168, 192-201.<br />

28 Estabelecer uma identidade como norma é “uma das formas privilegiadas de hierarquização das identidades<br />

e das diferenças. [...] Normalizar significa eleger – arbitrariamente – uma identidade específica como<br />

parâmetro em relação ao qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. Normalizar significa<br />

atribuir a essa identidade todas as características positivas possíveis, em relação às quais as outras só<br />

podem ser avaliadas de forma negativa” (SILVA, 2000: 83).<br />

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