Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco
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diretrizes consistentes; a incluir de modo coerente tais temas na sua formação inicial e continuada; bem como a estimular a pesquisa e a divulgação de conhecimento acerca da homofobia, da sua extensão e dos modos de desestabilizá-la. Agora, esforços voltados à problematização e à desestabilização da homofobia nas escolas tenderão ao fracasso se não observarem o caráter estruturante e não residual do preconceito e da violência homofóbica e seus vínculos com outros fenômenos sociais. O insucesso poderá ser o mesmo se tais iniciativas apenas visarem a instilar nos profissionais da educação certo “senso de culpa” (ou fornecer-lhes um meio para aliviarem-se dele). Tais enfoques tenderiam a desorientar e a imobilizar, pois ensejam a confusão do individual com o social, do episódico com o histórico, do pessoal com o político, da suposta generosidade com o reconhecimento de direitos. Será preciso também reconhecer a multiplicidade e a dinâmica das construções identitárias e, ao mesmo tempo, ir além das medidas assentadas em premissas bem-intencionadas e comumente limitadas a economias lineares, binárias e moralistas do “politicamente correto” e da “guerra dos gêneros”. Suely Rolnik adverte: [...] Figuras se desmancham, outras se esboçam; gêneros e identidades se embaralham, outros se delineiam – e a paisagem vai mudando de relevo. Uma lógica das multiplicidades e dos devires rege a simultaneidade dos movimentos que compõem esse plano. Estamos longe dos binarismos (ROLNIK, 998: 4). [...] se quisermos evitar que a guerra politicamente correta dos e pelos gêneros se transforme numa guerra politicamente nefasta para a vida, será preciso travar simultaneamente uma guerra contra a redução das subjetividades a gêneros, a favor da vida e das suas misturas (ibid.: 7). Na escola, o trabalho voltado a problematizar e a subverter a homofobia (e outras concepções preconceituosas e práticas discriminatórias) requer, entre outras coisas, pedagogias, posturas e arranjos institucionais eficazes para abalarem estruturas e mecanismos de (re)produção das desigualdades e das relações de forças. E mais: que também permitam a busca por alternativas às estratégias de invenção e fomento de vínculos identitários pautados por vitimismos, ressentimentos e ódios. Estes últimos, oriundos de auto-representações narcísicas, desatentas à modulação da própria alteridade (e de suas relações de poder) e avessas à necessária ampliação das possibilidades de identificação e de alianças (quer com os “diferentes” invisibilizados dentro do grupo, quer com os de fora). 35
Ao lado disso, é preciso atentar-se para as possíveis reações. Pedagogias e medidas institucionais voltadas a questionar a homofobia, uma maior visibilidade da diversidade sexual, juntamente com políticas de reconhecimento, valorização e respeito às homossexualidades e às múltiplas identidades de gênero, podem se fazer acompanhar pelo acirramento de manifestações homofóbicas. É possível ocorrer, por exemplo, a organização ou a mobilização de violentos grupos hiper-masculinos, assim como podem ter lugar campanhas conservadoras por parte de diferentes grupos políticos e sociais (muitos dos quais terão na homofobia um dos seus poucos elos comuns). Afinal, observa Norbert Elias ( 990 [ 00 : ]), para alguns pode ser motivo de forte mal-estar se um grupo socialmente estigmatizado passar a exigir igualdade não só legal e social, mas principalmente humana: 36 Um profundo ressentimento pode igualmente surgir [...] sobretudo entre aqueles que têm a impressão de que seu status está ameaçado, aqueles cuja consciência de seu próprio valor está ferida e que não se sentem em segurança. [...] a ordem das coisas que aparece para os grupos estabelecidos como natural começa então a vacilar. Seu status social superior, que é constitutivo do sentimento que o indivíduo tem de seu próprio valor e do orgulho pessoal de diversos de seus membros, é ameaçado pelo fato de que os membros do grupo outsider, na verdade desprezados, reivindicam não apenas uma igualdade social, mas também uma igualdade humana (ibid.: - ). Mais uma vez será central o papel da educação. Mesmo com todas as dificuldades, a escola é um espaço no interior do qual e a partir do qual podem ser construídos novos padrões de aprendizado, convivência, produção e transmissão de conhecimento, sobretudo se forem ali subvertidos ou abalados valores, crenças, representações e práticas associados a preconceitos, discriminações e violências de ordem racista, sexista, misógina e homofóbica. Assim, são indispensáveis estudos mais aprofundados e abrangentes que contribuam criticamente para a tessitura de articulações políticas e a construção de pedagogias voltadas, ao mesmo tempo, para desestabilizar o “narcisismo das pequenas diferenças” e para ensejar a ampliação das alianças com outras forças sociais – especialmente com aquelas dispostas a colaborar na invenção de sociabilidades e subjetividades mais livres e, ainda, comprometidas com o avanço da democracia e da consolidação dos direitos humanos em uma perspectiva intransigentemente emancipatória.
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Ao lado disso, é preciso atentar-se para as possíveis reações. Pedagogias e<br />
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respeito às homos<strong>sexual</strong>idades e às múltiplas identidades de gênero, podem se fazer<br />
acompanhar pelo acirramento de manifestações homofóbicas. É possível ocorrer,<br />
por exemplo, a organização ou a mobilização de violentos grupos hiper-masculinos,<br />
assim como podem ter lugar campanhas conservadoras por parte de diferentes grupos<br />
políticos e sociais (muitos dos quais terão <strong>na</strong> homofobia um dos seus poucos<br />
elos comuns). Afi<strong>na</strong>l, observa Norbert Elias ( 990 [ 00 : ]), para alguns pode<br />
ser motivo de forte mal-estar se um grupo socialmente estigmatizado passar a exigir<br />
igualdade não só legal e social, mas principalmente huma<strong>na</strong>:<br />
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Um profundo ressentimento pode igualmente surgir [...] sobretudo<br />
entre aqueles que têm a impressão de que seu status está<br />
ameaçado, aqueles cuja consciência de seu próprio valor está ferida<br />
e que não se sentem em segurança. [...] a ordem das coisas<br />
que aparece para os grupos estabelecidos como <strong>na</strong>tural começa<br />
então a vacilar. Seu status social superior, que é constitutivo do<br />
sentimento que o indivíduo tem de seu próprio valor e do orgulho<br />
pessoal de diversos de seus membros, é ameaçado pelo fato<br />
de que os membros do grupo outsider, <strong>na</strong> verdade desprezados,<br />
reivindicam não ape<strong>na</strong>s uma igualdade social, mas também uma<br />
igualdade huma<strong>na</strong> (ibid.: - ).<br />
Mais uma vez será central o papel da <strong>educação</strong>. Mesmo com todas as dificuldades,<br />
a escola é um espaço no interior do qual e a partir do qual podem ser<br />
construídos novos padrões de aprendizado, convivência, produção e transmissão<br />
de conhecimento, sobretudo se forem ali subvertidos ou abalados valores, crenças,<br />
representações e práticas associados a preconceitos, discrimi<strong>na</strong>ções e violências de<br />
ordem racista, sexista, misógi<strong>na</strong> e homofóbica.<br />
Assim, são indispensáveis estudos mais aprofundados e abrangentes que<br />
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de pedagogias voltadas, ao mesmo tempo, para desestabilizar o “<strong>na</strong>rcisismo das<br />
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sociais – especialmente com aquelas dispostas a colaborar <strong>na</strong> invenção de sociabilidades<br />
e subjetividades mais livres e, ainda, comprometidas com o avanço da<br />
democracia e da consolidação dos direitos humanos em uma perspectiva intransigentemente<br />
emancipatória.