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14.04.2013 Views

ideologia, seja política, religiosa, são lembrados que aquilo ali é uma escola. Como se a escola pairasse fora de tudo isso, como se não fosse um lugar de representação da religião, da política [...] (ibid.: 4 .). Ou seja, há, na verdade, um silenciamento “imposto” pela cultura escolar. Não podemos nos esquecer, contudo, que o fato de não falarmos sobre alguma coisa não anula a sua existência. Não falar sobre o preconceito não faz com que ele deixe de existir. Ele continua existindo, porém de forma velada. Segundo Nelly Novaes Coelho, Partindo do dado básico de que é através de sua consciência cultural que os seres humanos se desenvolvem e se realizam de maneira integral, é fácil compreendermos a importância do papel que a Literatura pode desempenhar para os seus em formação. É ela, dentre as diferentes manifestações da Arte, a que atua de maneira mais profunda e duradoura, no sentido de dar forma e de divulgar os valores culturais que dinamizam uma sociedade ou uma civilização (COELHO, 98 : ). Mais adiante ela prossegue dizendo que, ao estudarmos a história das culturas, podemos verificar que sua transmissão de geração para geração teve como principal veículo a Literatura. Literatura oral ou literatura escrita foram as principais formas pelas quais recebemos a herança da Tradição que nos cabe transformar, tal qual outros o fizeram antes de nós, com os valores herdados e por sua vez renovados. E é no sentido dessa transformação necessária e essencial [...] que apontamos na Literatura Infantil (e na Literatura em geral...) a “abertura” ideal para que a nova mentalidade, que se faz urgente conquistar, possa ser descoberta (ibid.: 4). Antenor Antônio Gonçalves Filho exorta a “investir no Logos social do discurso literário ao invés de se enclausurar no texto em si e para si” (GONÇAL- VES FILHO, 000: 7) e prossegue afirmando: “deve se fixar sobre a noção de literatura, não como uma zona de sombras que nos impede de ingressar em seu 327

território iluminado, mas como uma das mais ricas dimensões de cultura a serviço da educação do homem” (ibid.). Para ele, a “literatura permanece como a grande reserva de cultura, percebida como ideal de formação humana – a nossa paidéia [...] Ao reconhecer o papel de destaque do ensino da língua e da literatura, os/as legisladores/as da educação evocam a idéia de que sobretudo a literatura tem a ‘missão’ de civilizar o homem na medida em que vai insinuando melhores formas de vida” (ibid.: ). Quando falamos em “melhores formas de vida” devemos tomar cuidado, pois aí verificamos a delicada questão das ideologias que permeiam os textos literários. Definitivamente o conceito de “melhor forma de vida” é subjetivo e variável de um/a autor/a para outro/a. Por outro lado, podemos perceber claramente que os textos literários lidos nas escolas pelas nossas crianças e por adolescentes têm seus conceitos invariavelmente baseados na ideologia dominante da sociedade hetero-patriarcal-falocêntrica. Acabamos em um impasse: não adianta ouvir a afirmação de alguns/algumas educadores/as e críticos/as literários/as que dizem que a literatura não deve ser portadora de nenhum tipo de ideologia, pois esta é uma idéia totalmente infundada. Gonçalves Filho diz: 328 Já nos advertia Max Weber em algum lugar de sua obra que a pretensão de que o conhecimento deve ser “isento de valores” é, em si, um juízo de valor. [...] Não existe [...] na literatura um conteúdo descritivo neutro. Todo nosso discurso ou designação emerge sempre de esquemas argumentativos quer ocultos, quer explícitos. Nossa linguagem oral ou escrita não sonoriza e escreve por si mesma, mas se sustenta a partir dos sentidos auferidos por uma rede de mecanismos discursivos repletos de valores e de crenças. É por isso que a literatura, sem ter a pretensão de nos ensinar alguma coisa, acaba por nos ensinar muito mais. Esse “ensino” pode nos levar à sabedoria ou à loucura, ajudar o homem em seu processo civilizatório em oposição à barbárie ou “estetizar” essa barbárie, mas é sempre um ensino. E isso porque a realidade de onde emerge a literatura não é uma realidade especial – é a mesma realidade que toma conta de nós indiretamente, diferenciada apenas pelas múltiplas maneiras como é vista. E essa realidade não é, para todos nós, a própria coisa em si, mas é sempre o já simbolizado, construído e reconhecido por mecanismos simbólicos (ibid.: 90).

ideologia, seja política, religiosa, são lembrados que aquilo ali é<br />

uma escola. Como se a escola pairasse fora de tudo isso, como<br />

se não fosse um lugar de representação da religião, da política<br />

[...] (ibid.: 4 .).<br />

Ou seja, há, <strong>na</strong> verdade, um silenciamento “imposto” pela cultura escolar. Não<br />

podemos nos esquecer, contudo, que o fato de não falarmos sobre alguma coisa não<br />

anula a sua existência. Não falar sobre o preconceito não faz com que ele deixe de<br />

existir. Ele continua existindo, porém de forma velada.<br />

Segundo Nelly Novaes Coelho,<br />

Partindo do dado básico de que é através de sua consciência cultural<br />

que os seres humanos se desenvolvem e se realizam de<br />

maneira integral, é fácil compreendermos a importância do papel<br />

que a Literatura pode desempenhar para os seus em formação.<br />

É ela, dentre as diferentes manifestações da Arte, a que atua de<br />

maneira mais profunda e duradoura, no sentido de dar forma e<br />

de divulgar os valores culturais que di<strong>na</strong>mizam uma sociedade ou<br />

uma civilização (COELHO, 98 : ).<br />

Mais adiante ela prossegue dizendo que, ao estudarmos a história das culturas,<br />

podemos verificar que sua transmissão de geração para geração teve como<br />

principal veículo a Literatura.<br />

Literatura oral ou literatura escrita foram as principais formas<br />

pelas quais recebemos a herança da Tradição que nos cabe<br />

transformar, tal qual outros o fizeram antes de nós, com os valores<br />

herdados e por sua vez renovados.<br />

E é no sentido dessa transformação necessária e essencial [...]<br />

que apontamos <strong>na</strong> Literatura Infantil (e <strong>na</strong> Literatura em geral...)<br />

a “abertura” ideal para que a nova mentalidade, que se faz<br />

urgente conquistar, possa ser descoberta (ibid.: 4).<br />

Antenor Antônio Gonçalves Filho exorta a “investir no Logos social do<br />

discurso literário ao invés de se enclausurar no texto em si e para si” (GONÇAL-<br />

VES FILHO, 000: 7) e prossegue afirmando: “deve se fixar sobre a noção de<br />

literatura, não como uma zo<strong>na</strong> de sombras que nos impede de ingressar em seu<br />

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