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14.04.2013 Views

As “Diferenças” na Literatura Infantil e Juvenil nas Escolas: para entendê-las e aceitá-las Lúcia Facco* É mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito. Einstein Hoje em dia ouvimos muito falar em “diversidade”, “alteridade”, “identidades múltiplas” e outras inúmeras palavras que nos trazem a noção de que aquele “monolito” estabelecido pela sociedade ocidental/patriarcal homem, branco, heterossexual, classe média, de formação judaico-cristã deve ser repensado. Até bem pouco tempo atrás, sequer era questionado o fato de que toda e qualquer pessoa que não se enquadrasse em todos estes citados “pré-requisitos” fazia parte da chamada “minoria”. Esta noção não estaria associada à quantidade, mas a uma conceituação qualitativa. Sendo assim, as mulheres, por exemplo, seriam consideradas “minoria”, independente de representarem mais de 0% da população mundial. Com o surgimento dos Estudos Culturais nas universidades, desenvolvidos especialmente a partir da proliferação de movimentos sociais de afirmação, como o feminismo, o movimento negro, o movimento LGBT, bem como o aprofundamento da percepção da importância dos produtos culturais na formação e na representação, seja de estereótipos, seja de novos modelos de identidade, torna-se primordial que os(as) educadores(as) desenvolvam algum tipo de trabalho no sentido de atenuar os inúmeros problemas de socialização enfrentados por todos/as aqueles/as que carregam consigo algum estigma, alguma marca que os/as insira na categoria das “minorias”. * Graduada em Letras (Português-Francês) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pela mesma universidade, é Especialista em Literatura Brasileira e Mestre em Literatura Brasileira.

Em uma pesquisa realizada por três organizações latino-americanas – o Projeto Yachay Tinkuy (Cochabamba, Bolívia), o Centro Cultural Poveda (Santo Domingo, República Dominicana) e a Novamérica, ONG com sede no Rio de Janeiro, para compreender o posicionamento de professores/as e alunos/as diante das manifestações de discriminação na escola, chegou-se à conclusão de que: 326 A instituição escolar representa um microuniverso social que se caracteriza pela diversidade social e cultural e por muitas vezes reproduz padrões de conduta que permeiam as relações sociais fora da escola. Desse modo, as formas de se relacionar com o outro, na escola, refletem as práticas sociais mais amplas. Podemos dizer que, ainda que valores como igualdade e solidariedade, respeito ao próximo e às diferenças estejam presentes no discurso da escola, outros mecanismos, talvez mais sutis, revelam que preconceitos e estereótipos também integram o cotidiano escolar. Os veículos de discriminação vão desde o currículo formal, que exclui múltiplas e variadas maneiras de expressão cultural, passando pela linguagem não-verbal, até chegarem, freqüentemente, no nível dos comportamentos e das práticas explícitas. [...] o ambiente escolar pode tornar-se um local de reprodução do preconceito, sem que haja problematização ou tentativas de desnaturalização do mesmo (SOMOS tod@s iguais? Sociedade, discriminação e educação, 00 : 4- ). Durante essa pesquisa, foram realizadas diversas entrevistas. Em relação à temática da discriminação e cotidiano escolar [...] um primeiro aspecto a se destacar tem a ver com o depoimento de um grupo de professores/as que salientou a tendência da escola a neutralizar as diferenças, não as valorizando, tentando fazer da escola um ambiente desprovido de ideologia, como uma forma de diminuir os conflitos, claramente expresso pelo seguinte depoimento: Há um respeito, quase uma neutralização da escola diante da diversidade social, cultural. Há um culto a isso, os professores não podem ser muito políticos, não podem ser muito religiosos, muito qualquer coisa. Como se nós estivéssemos ali para reproduzir o livro, para reproduzir determinados valores [...] Aqueles que buscam implementar ou se posicionar diante de sua própria

As “Diferenças”<br />

<strong>na</strong> Literatura<br />

Infantil e Juvenil<br />

<strong>na</strong>s Escolas: para<br />

entendê-las e<br />

aceitá-las<br />

Lúcia Facco*<br />

É mais fácil desintegrar um átomo<br />

que um preconceito.<br />

Einstein<br />

Hoje em dia ouvimos muito falar em “diversidade”, “alteridade”, “identidades<br />

múltiplas” e outras inúmeras palavras que nos trazem a noção de<br />

que aquele “monolito” estabelecido pela sociedade ocidental/patriarcal<br />

homem, branco, heteros<strong>sexual</strong>, classe média, de formação judaico-cristã<br />

deve ser repensado. Até bem pouco tempo atrás, sequer era questio<strong>na</strong>do o fato de que<br />

toda e qualquer pessoa que não se enquadrasse em todos estes citados “pré-requisitos”<br />

fazia parte da chamada “minoria”. Esta noção não estaria associada à quantidade, mas a<br />

uma conceituação qualitativa. Sendo assim, as mulheres, por exemplo, seriam consideradas<br />

“minoria”, independente de representarem mais de 0% da população mundial.<br />

Com o surgimento dos Estudos Culturais <strong>na</strong>s universidades, desenvolvidos especialmente<br />

a partir da proliferação de movimentos sociais de afirmação, como o feminismo,<br />

o movimento negro, o movimento LGBT, bem como o aprofundamento da<br />

percepção da importância dos produtos culturais <strong>na</strong> formação e <strong>na</strong> representação, seja<br />

de estereótipos, seja de novos modelos de identidade, tor<strong>na</strong>-se primordial que os(as)<br />

educadores(as) desenvolvam algum tipo de trabalho no sentido de atenuar os inúmeros<br />

problemas de socialização enfrentados por todos/as aqueles/as que carregam<br />

consigo algum estigma, alguma marca que os/as insira <strong>na</strong> categoria das “minorias”.<br />

* Graduada em Letras (Português-Francês) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pela mesma<br />

universidade, é Especialista em Literatura Brasileira e Mestre em Literatura Brasileira.

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