Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco
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Maddie Blackburn ( 00 ) comenta sobre a vida social e sexual dessas pessoas: Pode ser difícil para um adolescente não-deficiente atingir uma plena e satisfatória vida social e sexual. Eles devem enfrentar muitos obstáculos, como a autoridade e a desaprovação dos pais, restrições financeiras, demandas da educação escolar etc. antes de encontrarem uma pessoa ou um grupo compatível. Para um jovem deficiente, esses problemas cotidianos são incrementados pelas dificuldades causadas pelas restrições de mobilidade, incontinência, poucas facilidades de acesso, doença, pressão dos pares e aceitabilidade. É provável que os adolescentes deficientes encarem um acréscimo de isolamento, num momento freqüentemente relatado como um período em que seu círculo social deveria estar aumentando [Tradução nossa] (BLACKBURN, 00 : ). No caso da deficiência física, a literatura aponta que as crenças sobre uma sexualidade atípica supõem uma generalização das incapacidades físicas para o campo da sexualidade e uma compreensão genitalizada da sexualidade, isto é, se há limitações no plano do sexo (Resposta Sexual 7 ), também haverá no plano das emoções e do erotismo, e vice-versa. Como afirma Arlete Camargo de Melo Salimene ( 99 ), prevalece nas instituições uma visão fragmentada do corpo imperfeito que generaliza uma determinada incapacidade física para o campo da vida afetivo-sexual. Nas instituições baseadas nos parâmetros ditados pelas práticas médicas, a preocupação maior está voltada para os cuidados com saúde, higiene, controle de infecções e reabilitação motora (MAIOR, 988; PUHLMANN, 000). Recentemente no Brasil, alguns profissionais têm se preocupado com a reabilitação sexual. No discurso médico há um desencontro de informações (até porque há pouca iniciativa para discutir e estudar o assunto) e um desinteresse acadêmico. No discurso dos familiares há certo descrédito sobre a possibilidade de ocorrer uma realização sexual na vida dos deficientes e de se estabelecerem vínculos amorosos prazerosos, o que reflete em demasia o preconceito geral da sociedade sobre a incapacidade física de homens e mulheres com deficiência. Sobre esta questão, mais uma vez, é preciso lembrar que sexo e sexualidade são manifestações complementares, mas não idênticas; que as dificuldades relacio- 7 A clássica caracterização da Resposta Sexual Humana refere-se a quatro fases: excitação, platô, orgasmo e resolução (MASTERS e JONHSON, 1979). Atualmente, no Ciclo da Resposta Sexual, consideram-se as fases de desejo, excitação, orgasmo e resolução (KAPLAN, 1974; SOUZA, 1990). 277
nadas à resposta sexual podem e devem ser consideradas num processo de reabilitação e, finalmente, que deve haver uma mudança de entendimento sobre o padrão de desempenho sexual imposto pela sociedade, abarcando o padrão vivido e possível no âmbito da vida privada. Além disso, o fato de eventualmente uma pessoa não realizar certas práticas sexuais satisfatoriamente não significa que ela não seja dotada de desejo sexual, que deixe de ser uma mulher ou um homem, que não possa ter experiências gratificantes com sua sexualidade, ou ainda que ela não mantenha necessidades, intrínsecas ao ser humano, de dar e receber afeto e prazer. Ainda que consideremos os diferentes graus de comprometimentos possíveis e a imprevisibilidade dos prognósticos sobre a manifestação da resposta sexual entre pessoas com alguma deficiência física, é preciso considerar de forma genérica que, em relação à resposta sexual, não devemos descartar as especificidades relacionadas a estas deficiências. Cito, por exemplo, as pessoas com Lesão Medular. Há particularidades que envolvem a saúde sexual e reprodutiva. Comparados à população em geral, sabemos que os homens podem manifestar alteração de desejo sexual, disfunções sexuais na excitabilidade (problemas de ereção total, parcial e de manutenção) e também disfunções sexuais de orgasmo (bloqueio ejaculatório, ejaculação retrógrada e sensações de orgasmo prazerosas, porém diferentes de antes da lesão). Essas disfunções sexuais estão diretamente relacionadas ao grau e à altura da lesão medular e, em tese, a maioria dos lesionados pode até ter uma ereção, mas terá dificuldades na ejaculação, portanto, na concepção natural. Isto, no entanto, não os torna menos homens! As mulheres, por sua vez, em geral, apresentam alterações de sensibilidade que dificultam a estimulação do clitóris e da região anal. A lubrificação, dessa forma, também pode estar comprometida. Mesmo assim, algumas mulheres relatam um desejo sexual preservado, a capacidade de excitação e de sentirem orgasmos. Em tese, todas mantêm a capacidade reprodutiva (ALZUGARAY e ALZUGARAY, 99 ; PINEL, 999; SALIMENE, 99 ). Em relação à deficiência física e à população jovem, considerando, por exemplo, as ocorrências no nascimento ou na primeira infância, o crescimento e o amadurecimento físico na puberdade irão se dar com variações semelhantes às da população não-deficiente, entre meninos e meninas com deficiência física ou não. De forma diferente, como já disse, seria a adolescência que implicaria o aprendizado de papéis sociais que, em geral, são pouco estimulados pela sociedade, o que reforça o estigma de incapaz e a faceta de improdutividade dessas pessoas. 278
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Maddie Blackburn ( 00 ) comenta sobre a vida social e <strong>sexual</strong> dessas pessoas:<br />
Pode ser difícil para um adolescente não-deficiente atingir<br />
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muitos obstáculos, como a autoridade e a desaprovação<br />
dos pais, restrições fi<strong>na</strong>nceiras, demandas da <strong>educação</strong> escolar<br />
etc. antes de encontrarem uma pessoa ou um grupo compatível.<br />
Para um jovem deficiente, esses problemas cotidianos são<br />
incrementados pelas dificuldades causadas pelas restrições de<br />
mobilidade, incontinência, poucas facilidades de acesso, doença,<br />
pressão dos pares e aceitabilidade. É provável que os<br />
adolescentes deficientes encarem um acréscimo de isolamento,<br />
num momento freqüentemente relatado como um período<br />
em que seu círculo social deveria estar aumentando [Tradução<br />
nossa] (BLACKBURN, 00 : ).<br />
No caso da deficiência física, a literatura aponta que as crenças sobre uma <strong>sexual</strong>idade<br />
atípica supõem uma generalização das incapacidades físicas para o campo<br />
da <strong>sexual</strong>idade e uma compreensão genitalizada da <strong>sexual</strong>idade, isto é, se há limitações<br />
no plano do sexo (Resposta Sexual 7 ), também haverá no plano das emoções e<br />
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prevalece <strong>na</strong>s instituições uma visão fragmentada do corpo imperfeito que generaliza<br />
uma determi<strong>na</strong>da incapacidade física para o campo da vida afetivo-<strong>sexual</strong>.<br />
Nas instituições baseadas nos parâmetros ditados pelas práticas médicas, a<br />
preocupação maior está voltada para os cuidados com saúde, higiene, controle de<br />
infecções e reabilitação motora (MAIOR, 988; PUHLMANN, 000). Recentemente<br />
no Brasil, alguns profissio<strong>na</strong>is têm se preocupado com a reabilitação <strong>sexual</strong>.<br />
No discurso médico há um desencontro de informações (até porque há pouca iniciativa<br />
para discutir e estudar o assunto) e um desinteresse acadêmico. No discurso<br />
dos familiares há certo descrédito sobre a possibilidade de ocorrer uma realização<br />
<strong>sexual</strong> <strong>na</strong> vida dos deficientes e de se estabelecerem vínculos amorosos prazerosos, o<br />
que reflete em demasia o preconceito geral da sociedade sobre a incapacidade física<br />
de homens e mulheres com deficiência.<br />
Sobre esta questão, mais uma vez, é preciso lembrar que sexo e <strong>sexual</strong>idade<br />
são manifestações complementares, mas não idênticas; que as dificuldades relacio-<br />
7 A clássica caracterização da Resposta Sexual Huma<strong>na</strong> refere-se a quatro fases: excitação, platô, orgasmo<br />
e resolução (MASTERS e JONHSON, 1979). Atualmente, no Ciclo da Resposta Sexual, consideram-se as<br />
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