Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco
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gado) de manifestações sexuais consideradas inadequadas pelos adultos. No mesmo sentido, encontramos no discurso dos pais e dos familiares a crença de que seus filhos/as são por demais infantis para manifestarem a sexualidade, como se ela, neste caso, fosse uma coisa aberrante, um monstro prestes a sair do corpo do deficiente! Se os deficientes mentais são considerados “puros” e “anjos”, não podem ter o demônio do sexo e do desejo em si mesmos. Sobre isso sabemos, desde Freud, que a sexualidade é considerada fato inerente ao ser humano, portanto, faz parte da vida, o que é traduzido pelo conceito de libido (MAIA, 00 , 00 ). Além disso, sabemos também que o conceito de sexualidade não é sinônimo de sexo. O fato de filhos e filhas, num ambiente reservado e vigiado como a casa e o quarto, no caso do deficiente, não manifestarem nenhum comportamento considerado inadequado, não significa que não sejam dotados de desejo sexual, não sejam mulheres ou homens ou tenham necessidades, intrínsecas ao humano, de dar e receber afeto e prazer (BLACKBURN, 00 ; MAIA, 00 ). Neste sentido, defendo que a observação de certas manifestações da sexualidade consideradas desviantes nessas pessoas não permite deduzir uma sexualidade anormal, porque é importante considerar que tais manifestações são avaliadas como inadequadas somente porque ocorrem em um ambiente tido como inadequado. Em geral, não se apresenta um questionamento essencial em relação a esta questão: o aprendizado das condições nas quais esses comportamentos sexuais socialmente desejáveis podem ser realizados foi oportunizado? Este ponto permanece obscuro. [...] para a pessoa com deficiência, a descoberta do corpo e do prazer em manipulá-lo pode ocorrer tardiamente, na puberdade, quando o corpo já está desenvolvido; os deficientes podem manifestar inadequadamente essas condutas por falta de aprendizado, o que pode levá-los à ansiedade e a sofrer repressões sociais. Com o avanço da idade, a socialização e a interação com outras pessoas podem ficar ainda mais restritivas, limitadas ao ambiente da família e da escola, de modo que muitas pessoas com deficiência podem ter dificuldades para discriminar códigos de conduta e regras sociais. Por isso, muitas pessoas compreendem a sexualidade da pessoa com deficiência como incontrolável em relação aos desejos e aos comportamentos, o que é, na verdade, fruto de uma educação inadequada em relação a 6 Sexo limita-se à genitalidade; sexualidade, porém, é um conceito amplo que envolve a afetividade, o prazer, o erotismo, valores, concepções e atitudes sob a influência de diferentes culturas, considerando os aspectos históricos (CHAUÍ, 1985; GUIMARÃES, 1995; LOYOLA e CAVALCANTI, 1990; MAIA, 2001; RI- BEIRO, 1990; VITIELLO, 1995). 275
276 essa questão e não a um atributo inerente e imutável, próprio da deficiência (MAIA, 00 : 04). A despeito da existência de questões gerais, é importante não descartamos as especificidades relacionadas às deficiências mentais. Cito, por exemplo, a Síndrome de Down. Há particularidades que envolvem a saúde sexual e reprodutiva nesta síndrome. Comparados à população em geral, sabemos que os meninos que apresentam esta síndrome são, em tese, inférteis, porque não há ou há baixa produção de espermatozóides, o tamanho dos testículos é reduzido e a sua estatura é menor; há pouca presença das características sexuais secundárias e aumento de massa corporal. As meninas são, por outro lado, férteis, manifestam a menarca com uma alteração cronológica que não difere da média de variação típica e apresentam menor estatura e aumento de massa corporal (ASSUMPÇÃO JÚNIOR e SPROVIERI, 987; EDWARDS, 99 ; EVANS e McKINLAY, 988; GHERPELLI, 99 ; ZETLIN e TURNER, 98 ). De qualquer forma, essas variações físicas que envolvem o crescimento e o amadurecimento estão relacionadas à puberdade que, como sabemos, é fato universal e, guardadas as variações individuais, ocorre igualmente entre meninos e meninas com Síndrome de Down e não-sindrômicos. De forma diferente, a adolescência, compreendida como um fenômeno social e cultural, implica um aprendizado de papéis sociais que, em geral, é pouco estimulado pela sociedade quando se trata de pessoas identificadas como deficientes, o que reforça o estigma de incapaz e a faceta de infantilidade dessas pessoas. As vivências nesta fase têm implicações diretas no desenvolvimento emocional da pessoa com deficiência. Há um ideal dominante em nossa sociedade que acaba por ser imposto a uma grande parcela da população adolescente e jovem, que aspira ao estabelecimento de vínculos afetivos e sexuais satisfatórios e ao sucesso profissional; entretanto, já que as mesmas condições sociais que produzem esse ideal não propiciam sua concretização, e que para as pessoas consideradas deficientes os obstáculos sejam ainda maiores, essas aspirações e expectativas podem tornar-se desejos utópicos para essas pessoas. Considerando este cenário, autores como Assumpção Júnior e Strovieri ( 99 ); Blackburn ( 00 ), Glat ( 99 ), Glat e Freitas ( 99 ), Guerpelli ( 99 ) e Zetlin e Turner ( 98 ) lembram que a educação das pessoas com deficiência é caracterizada por se realizar em espaços segregados, com pouco ou nenhum convívio social, o que pode aumentar os sentimentos de baixa auto-estima, inadequação pessoal e frustração aliados a uma imaturidade emocional.
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da deficiência (MAIA, 00 : 04).<br />
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especificidades relacio<strong>na</strong>das às deficiências mentais. Cito, por exemplo, a Síndrome de<br />
Down. Há particularidades que envolvem a saúde <strong>sexual</strong> e reprodutiva nesta síndrome.<br />
Comparados à população em geral, sabemos que os meninos que apresentam esta síndrome<br />
são, em tese, inférteis, porque não há ou há baixa produção de espermatozóides,<br />
o tamanho dos testículos é reduzido e a sua estatura é menor; há pouca presença das<br />
características sexuais secundárias e aumento de massa corporal. As meni<strong>na</strong>s são, por<br />
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da média de variação típica e apresentam menor estatura e aumento de massa corporal<br />
(ASSUMPÇÃO JÚNIOR e SPROVIERI, 987; EDWARDS, 99 ; EVANS<br />
e McKINLAY, 988; GHERPELLI, 99 ; ZETLIN e TURNER, 98 ).<br />
De qualquer forma, essas variações físicas que envolvem o crescimento e o<br />
amadurecimento estão relacio<strong>na</strong>das à puberdade que, como sabemos, é fato universal<br />
e, guardadas as variações individuais, ocorre igualmente entre meninos e meni<strong>na</strong>s<br />
com Síndrome de Down e não-sindrômicos. De forma diferente, a adolescência,<br />
compreendida como um fenômeno social e cultural, implica um aprendizado de<br />
papéis sociais que, em geral, é pouco estimulado pela sociedade quando se trata de<br />
pessoas identificadas como deficientes, o que reforça o estigma de incapaz e a faceta<br />
de infantilidade dessas pessoas.<br />
As vivências nesta fase têm implicações diretas no desenvolvimento emocio<strong>na</strong>l<br />
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acaba por ser imposto a uma grande parcela da população adolescente e jovem, que<br />
aspira ao estabelecimento de vínculos afetivos e sexuais satisfatórios e ao sucesso<br />
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não propiciam sua concretização, e que para as pessoas consideradas deficientes os<br />
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desejos utópicos para essas pessoas.<br />
Considerando este cenário, autores como Assumpção Júnior e Strovieri<br />
( 99 ); Blackburn ( 00 ), Glat ( 99 ), Glat e Freitas ( 99 ), Guerpelli ( 99 ) e<br />
Zetlin e Turner ( 98 ) lembram que a <strong>educação</strong> das pessoas com deficiência é caracterizada<br />
por se realizar em espaços segregados, com pouco ou nenhum convívio<br />
social, o que pode aumentar os sentimentos de baixa auto-estima, i<strong>na</strong>dequação pessoal<br />
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