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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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variavam de a 9 anos, sendo cinco brancas e três negras, algumas com experiências<br />

de prostituição <strong>na</strong> Europa e outras restritas ao universo de batalha local.<br />

Apesar de a proposta inicial da ofici<strong>na</strong> se ater às questões de prevenção do<br />

HIV/Aids, as conversas foram se enredando por temas outros da existência de cada<br />

uma delas, que traziam questões relacio<strong>na</strong>das às suas relações com a família, com a<br />

vizinhança, com a escola, com os serviços de saúde, com a segurança pública, mas<br />

também sobre suas fantasias, desejos, sonhos e projetos de vida, sobre as expectativas<br />

de serem respeitadas e beneficiadas pelo acesso a bens e serviços de qualidade<br />

que seriam de direito a todo cidadão comum.<br />

Esse primeiro encontro serviu como “start” para uma série de outros, que<br />

acontecem até os dias de hoje. Eles foram estabelecendo novos campos de interesses<br />

e de estudos em minha vida profissio<strong>na</strong>l, assim como a construção de novos modos<br />

de relações que se incorporaram à minha vida, inserindo-me <strong>na</strong> comunidade de travestis<br />

e transexuais brasileiras. Modos de relações marcados por vínculos de respeito<br />

e admiração, fortalecedores de amizades muito especiais, desencadeadoras de muitas<br />

reflexões que foram clarificando e modificando meus próprios valores, produzindo<br />

ao contrário da atração, um fascínio intenso que me levou a concordar com Denilson<br />

Lopes ( 00 ), que se tivesse uma alma, ela seria travesti. Ele pergunta: “E eu<br />

não sou um travesti também?”.<br />

Vou tomar esta questão como um disparador de algumas reflexões que desejo<br />

fazer sobre o universo existencial das travestis, transexuais e transgêneros (as TTTs)<br />

no decorrer deste texto. De modo bastante rápido, defino as travestis como pessoas<br />

que se identificam com a imagem e o estilo feminino, apropriando-se de indumentárias<br />

e adereços de sua estética, realizando com freqüência a transformação de<br />

seus corpos, quer por meio da ingestão de hormônios, quer através da aplicação de<br />

silicone industrial e das cirurgias de correção estética e de próteses. As transexuais<br />

são pessoas com demandas de cirurgias de mudança de sexo e de identidade civil,<br />

demandas que não encontramos <strong>na</strong>s reivindicações emancipatórias das travestis. Já<br />

as transgêneros são pessoas que se caracterizam esteticamente por orientação do<br />

gênero oposto, não se mantendo o tempo todo nesta caracterização, como o fazem<br />

as travestis e as transexuais. Como exemplos destas últimas podemos elencar as/os<br />

transformistas, as drags queens, os drag kings etc.<br />

Gosto muito da assertiva proposta pelo filósofo Gilles Deleuze de que somos<br />

constituídos por multiplicidades, logo, a nossa constituição enquanto sujeito<br />

se processa por meio de múltiplos devires, múltiplas possibilidades graças às quais<br />

podemos expressar muitas formas de discursos e corporalidades, variando temporalmente<br />

em cada espaço sócio-histórico, cultural e político pelo qual transitamos.<br />

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