Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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14.04.2013 Views

... e para finalizar sem prescrever.... De forma especial, este conjunto de pesquisas nos desafia a explorar com mais consistência os pressupostos de que gênero é uma construção social plural e relacional e um organizador do social e da cultura, o que demanda dois esforços analíticos e políticos importantes. O primeiro implica aceitar o desafio de desconstruir a oposição binária masculino/feminino que, de forma simples e linear, posiciona o homem como dominador e a mulher como dominada. Isto porque essa oposição, dentre outras coisas, dificulta a visibilização e a compreensão de que: processos de diferenciação e hierarquização de gênero e sexualidade não incidem da mesma forma sobre todas as mulheres e sobre todos os homens; que eles podem materializar-se como relações de violência também entre mulheres e entre homens; e, sobretudo, que eles podem resultar da incorporação e da (re)produção de representações naturalizadas de gênero e de sexualidade nos conhecimentos científicos, nas instituições, nos códigos morais e jurídicos, nas políticas e nos programas públicos etc. O segundo esforço supõe o descolamento de abordagens que focalizam apenas um dos termos dessa oposição, para dar-nos conta de que o mesmo movimento que “naturaliza” a subordinação como um atributo do feminino a ser modificado, define a dominação como uma característica intrínseca do masculino que não seria modificável; e esse pressuposto explicita-se, por exemplo, no ainda pequeno volume de políticas e de ações programáticas e curriculares que investem na (re)configuração e na educação de meninos e de homens para o exercício de outras formas de masculinidade e paternidade. Para finalizar, poderíamos perguntar-nos, então, considerando as pesquisas aqui articuladas e a problematização inicialmente enunciada: quais são as implicações de naturalizações que estabelecem diferenças entre meninos e meninas e entre homens e mulheres, quando estas os colocam em posições diferenciadas de poder? Como estas naturalizações atravessam e legitimam os conhecimentos que produzimos e as práticas educativas, escolares ou não, que eles sustentam? Como elas incidem sobre o corpo, produzindo-o de determinados modos, com que efeitos, para quem? E, ainda: como estas relações de poder se conectam, facilitando e, em alguns casos, até mesmo legitimando o exercício de determinadas formas de violência? Estas são algumas das questões que se colocam para quem trabalha com noções de corpo, gênero e sexualidade, considerando-as como construções discursivas instituídas e instituidoras de relações de poder, algumas delas postas 229

como indagações e problemas antes impensáveis. E, por privilegiar as perguntas mais do que as respostas que elas ensejam, deixo de colocar-me aqui na posição de quem prescreve o que se pode ou se deveria fazer, a partir delas para prevenir e “erradicar” formas de violência. Ao invés disso, sugiro que tais questões possam instigar o nosso pensamento e a nossa inventividade, ajudando-nos tanto a estranhar o que aceitamos como familiar, quanto a familiarizar-nos, minimamente, com aquilo e aqueles que costumamos estranhar. No contexto das investigações a que recorri esse exercício tem permitido “olhar de fora”, como se não as conhecêssemos, teorias e práticas que nos constituem tão profundamente que nem as percebíamos mais como apre(e)ndidas e esta é uma das possibilidades que se abrem com essas abordagens: a de (re)inventarnos a nós mesmas/os enquanto sujeitos de gênero e, de forma articulada a isso, (re)inventarmos algumas das práticas educativas que se constituem como instâncias dessas atribuições. 230 Referências bibliográficas ANDRADE, Sandra dos Santos. “Uma Boa Forma de ser feliz”: representações de corpo feminino na revista Boa Forma. [Mestrado em Educação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 00 . BELLO, Alexandre Toaldo. Sujeitos infantis masculinos: homens por vir? [Mestrado em Educação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 00 . BIDDULPH, Steve. Criando meninos. São Paulo: Fundamento, 00 . DAL IGNA, Maria Cláudia. “Há diferença”? Relações entre desempenho escolar e gênero. [Mestrado em Educação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 00 .

... e para fi<strong>na</strong>lizar sem prescrever....<br />

De forma especial, este conjunto de pesquisas nos desafia a explorar com<br />

mais consistência os pressupostos de que gênero é uma construção social plural<br />

e relacio<strong>na</strong>l e um organizador do social e da cultura, o que demanda dois esforços<br />

a<strong>na</strong>líticos e políticos importantes. O primeiro implica aceitar o desafio<br />

de desconstruir a oposição binária masculino/feminino que, de forma simples<br />

e linear, posicio<strong>na</strong> o homem como domi<strong>na</strong>dor e a mulher como domi<strong>na</strong>da.<br />

Isto porque essa oposição, dentre outras coisas, dificulta a visibilização e a<br />

compreensão de que: processos de diferenciação e hierarquização de gênero<br />

e <strong>sexual</strong>idade não incidem da mesma forma sobre todas as mulheres e sobre<br />

todos os homens; que eles podem materializar-se como relações de violência<br />

também entre mulheres e entre homens; e, sobretudo, que eles podem resultar<br />

da incorporação e da (re)produção de representações <strong>na</strong>turalizadas de gênero<br />

e de <strong>sexual</strong>idade nos conhecimentos científicos, <strong>na</strong>s instituições, nos códigos<br />

morais e jurídicos, <strong>na</strong>s políticas e nos programas públicos etc. O segundo esforço<br />

supõe o descolamento de abordagens que focalizam ape<strong>na</strong>s um dos termos<br />

dessa oposição, para dar-nos conta de que o mesmo movimento que “<strong>na</strong>turaliza”<br />

a subordi<strong>na</strong>ção como um atributo do feminino a ser modificado, define<br />

a domi<strong>na</strong>ção como uma característica intrínseca do masculino que não seria<br />

modificável; e esse pressuposto explicita-se, por exemplo, no ainda pequeno<br />

volume de políticas e de ações programáticas e curriculares que investem <strong>na</strong><br />

(re)configuração e <strong>na</strong> <strong>educação</strong> de meninos e de homens para o exercício de<br />

outras formas de masculinidade e paternidade.<br />

Para fi<strong>na</strong>lizar, poderíamos perguntar-nos, então, considerando as pesquisas<br />

aqui articuladas e a problematização inicialmente enunciada: quais são<br />

as implicações de <strong>na</strong>turalizações que estabelecem diferenças entre meninos e<br />

meni<strong>na</strong>s e entre homens e mulheres, quando estas os colocam em posições<br />

diferenciadas de poder? Como estas <strong>na</strong>turalizações atravessam e legitimam os<br />

conhecimentos que produzimos e as práticas educativas, escolares ou não, que<br />

eles sustentam? Como elas incidem sobre o corpo, produzindo-o de determi<strong>na</strong>dos<br />

modos, com que efeitos, para quem? E, ainda: como estas relações de poder<br />

se conectam, facilitando e, em alguns casos, até mesmo legitimando o exercício<br />

de determi<strong>na</strong>das formas de violência?<br />

Estas são algumas das questões que se colocam para quem trabalha com<br />

noções de corpo, gênero e <strong>sexual</strong>idade, considerando-as como construções discursivas<br />

instituídas e instituidoras de relações de poder, algumas delas postas<br />

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