Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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202 fundamental na construção, na introjeção, no reforço e na transformação das noções de masculinidade, feminilidade, heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade e transgeneridade e, por conseguinte, na formação identitária e na atuação das pessoas em todas as arenas da vida social. [...]. Entretanto, a escola é, ao mesmo tempo, um local privilegiado para a construção de uma consciência crítica e de desenvolvimento de práticas que se pautem pelo reconhecimento da diversidade e pelos direitos humanos [...]. Reside aí, portanto, a inquestionável importância de se promoverem ações sistemáticas que ofereçam a profissionais da educação bases conceituais e pedagógicas que melhor dotem de instrumentos para lidarem adequadamente com as diversidades de corpos, gêneros, identidades, sexualidades [...]. O sexismo e a homofobia [...] no ambiente escolar encontram diversas formas de manifestação. Vale lembrar [...] a existência de concepções pedagógicas, curriculares e livros didáticos que, apesar dos importantes avanços alcançados, ainda veiculam conteúdos discriminatórios, imagens estereotipadas [...] e concepções restritivas e naturalizadoras [...]. Segundo Louro ( 00 ), nossos corpos constituem culturalmente uma referência que ancora as identidades. Assim sendo, esperamos que os corpos ditem a identidade, e que o façam sem ambigüidades. Em geral, deduzimos as identidades de gênero, sexual ou étnica a partir de marcas supostamente biológicas (se nasceu com pênis, é homem; se é homem, é masculino; se é masculino, deve ser “machão”, heterossexual, forte, corajoso, não-afeminado etc.). Trata-se, no entanto, de uma dedução simplificadora, linear e binária. Nesta dedução, ignora-se, por exemplo, que tais marcas são apenas aparentemente dadas, fixas e naturais e que a elas não devem, forçosa e binariamente, corresponder este ou aquele atributo. Pode ocorrer que as necessidades, os desejos, os comportamentos, os gestos, os gostos de alguém sejam “discordantes” da aparência física do seu corpo. Se é másculo, o rapaz não deve ser necessariamente heterossexual; se é uma travesti, não deve ser obrigatoriamente homossexual. Nada impede que uma jovem considerada muito feminina tenha desejos por outra mulher. Do mesmo modo, uma pessoa que nasceu com pênis pode fazer a operação de mudança de sexo e sentir-se sexualmente atraída por mulheres, ou seja, ser uma transexual lésbica.

Louro ( 004:8 ) ainda observa: [...] é no corpo e através do corpo que os processos de afirmação ou transgressão das normas regulatórias se realizam e se expressam. Assim os corpos são marcados social, simbólica e materialmente – pelo próprio sujeito e pelos outros. Uma das narrativas importantes trazidas por todos os sujeitos entrevistados foi quanto à questão de se “assumirem” no espaço escolar, na condição de professores gays e professora lésbica. Em diversos ambientes parece-lhes ser mais fácil assumir essa identidade: Eu sou assumido em todos os ambientes, minha família sabe, meus amigos sabem. Claro que eu não dou um cartãozinho: “Aqui ó, eu sou o Sr. Gay”. Mas todo mundo que convive comigo sabe quem eu sou, porque eu não tenho que usar máscaras, entendeu? (Prof. Romeu). Porém, não em “todos os ambientes”, pois destacam que na escola essa questão parece ser ainda muito delicada. Fica mais “velada”, e as outras pessoas “suspeitam” ou “deduzem” que esses sujeitos sejam homossexuais por suas aparências, modos de falar, andar e agir. Assim se expressa a professora Veridiana: Olha, eu nunca falei em aula porque eu acho que não cabia. Mas se algum me perguntasse, com certeza entraria no assunto. Mas pela aparência. Por sua vez, diz o professor Otaviano: Não sei se os pais sabem. Mas a diretoria e os pais me olham com uma cara diferente. Isso eu já percebi. Os paisme olham com uma cara diferente, e eu noto os cochichos. Estas narrativas vão ao encontro do que o movimento homossexual brasileiro vem discutindo sobre a invisibilidade desses sujeitos: “ainda se configura nas escolas brasileiras a invisibilidade dos sujeitos homossexuais que cotidianamente as ocupam” (ABGLT, 00 : 48). 203

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fundamental <strong>na</strong> construção, <strong>na</strong> introjeção, no reforço e <strong>na</strong> transformação<br />

das noções de masculinidade, feminilidade, heteros<strong>sexual</strong>idade,<br />

homos<strong>sexual</strong>idade, bis<strong>sexual</strong>idade e transgeneridade<br />

e, por conseguinte, <strong>na</strong> formação identitária e <strong>na</strong> atuação das<br />

pessoas em todas as are<strong>na</strong>s da vida social. [...].<br />

Entretanto, a escola é, ao mesmo tempo, um local privilegiado<br />

para a construção de uma consciência crítica e de desenvolvimento<br />

de práticas que se pautem pelo reconhecimento da<br />

diversidade e pelos direitos humanos [...]. Reside aí, portanto,<br />

a inquestionável importância de se promoverem ações sistemáticas<br />

que ofereçam a profissio<strong>na</strong>is da <strong>educação</strong> bases conceituais<br />

e pedagógicas que melhor dotem de instrumentos para lidarem<br />

adequadamente com as diversidades de corpos, gêneros, identidades,<br />

<strong>sexual</strong>idades [...].<br />

O sexismo e a homofobia [...] no ambiente escolar encontram<br />

diversas formas de manifestação. Vale lembrar [...] a existência<br />

de concepções pedagógicas, curriculares e livros didáticos<br />

que, apesar dos importantes avanços alcançados, ainda veiculam<br />

conteúdos discrimi<strong>na</strong>tórios, imagens estereotipadas [...] e concepções<br />

restritivas e <strong>na</strong>turalizadoras [...].<br />

Segundo Louro ( 00 ), nossos corpos constituem culturalmente uma referência<br />

que ancora as identidades. Assim sendo, esperamos que os corpos ditem a<br />

identidade, e que o façam sem ambigüidades. Em geral, deduzimos as identidades<br />

de gênero, <strong>sexual</strong> ou étnica a partir de marcas supostamente biológicas (se <strong>na</strong>sceu<br />

com pênis, é homem; se é homem, é masculino; se é masculino, deve ser “machão”,<br />

heteros<strong>sexual</strong>, forte, corajoso, não-afemi<strong>na</strong>do etc.). Trata-se, no entanto, de uma<br />

dedução simplificadora, linear e binária. Nesta dedução, ignora-se, por exemplo,<br />

que tais marcas são ape<strong>na</strong>s aparentemente dadas, fixas e <strong>na</strong>turais e que a elas<br />

não devem, forçosa e bi<strong>na</strong>riamente, corresponder este ou aquele atributo. Pode<br />

ocorrer que as necessidades, os desejos, os comportamentos, os gestos, os gostos<br />

de alguém sejam “discordantes” da aparência física do seu corpo. Se é másculo, o<br />

rapaz não deve ser necessariamente heteros<strong>sexual</strong>; se é uma travesti, não deve ser<br />

obrigatoriamente homos<strong>sexual</strong>. Nada impede que uma jovem considerada muito<br />

femini<strong>na</strong> tenha desejos por outra mulher. Do mesmo modo, uma pessoa que <strong>na</strong>sceu<br />

com pênis pode fazer a operação de mudança de sexo e sentir-se <strong>sexual</strong>mente<br />

atraída por mulheres, ou seja, ser uma tran<strong>sexual</strong> lésbica.

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