Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco
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Daí a importância de se discutirem e problematizarem as representações culturais associadas ao sujeito homossexual nas diversas instâncias sociais, especialmente na escola. A propósito do assunto, Guacira Lopes Louro ( 004: 7) afirma: 184 Desprezar o sujeito homossexual era (e ainda é), em nossa sociedade, algo “comum”, “compreensivo”, “corriqueiro”. Daí porque vale a pena colocar essa questão em primeiro plano. Parece absolutamente relevante refletir sobre as formas de viver a sexualidade, sobre as muitas formas de ser e de experimentar prazeres e desejos; parece relevante também refletir sobre possíveis formas de intervir, a fim de perturbar ou alterar, de algum modo, um estado de coisas que considero intolerável. Neste estudo, interessa-nos discutir as identidades sexuais, entendendo-as como construções culturais que inscrevem as distintas formas de experimentar prazeres e desejos corporais (LOURO, 997, 998, 00 ). Ademais, embora estejamos destacando a identidade sexual, consideramos que os sujeitos são constituídos por múltiplas identidades – gênero, raça, etnia, geração, classe, nacionalidade, entre outras. Os sujeitos são muitas coisas ao mesmo tempo, possuem diversas identidades – por exemplo, sua identidade profissional, de mãe/pai, filha/o, esposa/o etc., que não são fixas, essenciais ou permanentes. Segundo Stuart Hall, na medida em que os sistemas de significação e representações culturais são produzidos e transformados, “somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente” ( 997: ). Nesse sentido, essas múltiplas identidades constituem os sujeitos, conforme eles sejam interpelados e posicionados a partir de diferentes situações e discursos que circulam nos diversos espaços sociais. Louro ( 00 : ) destaca: Reconhecer-se numa identidade supõe, pois, responder afirmativamente a uma interpelação e estabelecer um sentido de pertencimento a um grupo social de referência. Nada há de simples ou de estável nisso tudo, pois essas múltiplas identidades podem cobrar, ao mesmo tempo, lealdades distintas, divergentes ou até contraditórias. [...] Essas muitas identidades sociais podem ser, também, provisoriamente atraentes e, depois, nos parecem descartáveis; elas podem ser, então, rejeitadas e abandonadas. Somos sujeitos de identidades transitórias e contingentes.
Além disso, é interessante salientar que as identidades são construídas por meio da atribuição de diferenças marcadas por relações de poder. Para Tomaz Tadeu da Silva ( 004), a diferença é estabelecida por processos lingüísticos e discursivos no interior de uma determinada cultura, em um determinado contexto histórico. Do mesmo modo, a significação das diferenças também pode variar de acordo com a sociedade. A diferença é entendida de forma relacional a partir do reconhecimento do “outro”, daquele ou daquela que não partilha dos atributos que possuímos. De acordo com Louro ( 00 : ), as sociedades “constroem os contornos demarcadores das fronteiras entre aqueles que representam a norma (que estão em consonância com seus padrões culturais) e aqueles que ficam fora dela, às suas margens”. Sabemos que na nossa sociedade a norma estabelecida tem como referência o sujeito masculino, heterossexual, branco, saudável, burguês e cristão. Assim, aqueles/as que não se enquadram nestes atributos são nomeados/as “diferentes”. Não por acaso, a escola, espaço público e coletivo por excelência, importante instância social constituidora de identidades, evita discutir e problematizar as sexualidades e as possíveis identidades sexuais. Muito pouco tem ela oportunizado discussões sobre os processos em que os sujeitos ditos “diferentes” (como as pessoas gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros) são objeto de preconceito e estigma, por considerar ou entender que existe uma única forma de sexualidade “normal” e que essa temática é uma questão privada e difícil de ser abordada nesse ambiente. Outro argumento utilizado nesse sentido é que, se os/as alunos/as não “souberem sobre homossexualismo, mais estarão protegidos/as em relação a ele. Ou seja, o não-conhecer pode ser preventivo de decisões consideradas não adequadas ou fora da norma” (SILVA e SOARES, 00 : 89). Jimena Furlani ( 00 : ), no entanto, contrapõe-se a estes argumentos afirmando que: [...] embora possamos pensar que qualquer vivência sexual será mais afirmada quanto mais for “visível” e “permitida” socialmente, isso não significa dizer que impedindo o conhecimento da homossexualidade ou dessas comunidades (na escola, na mídia etc.), estar-se-ia garantindo que todos “decidam ser” heterossexuais. Sabemos o quanto as escolas exercem uma pedagogia da sexualidade; para Debbie Epstein e Richard Johnson ( 000: 4), estas instituições [...] são lugares onde se desenvolvem, se praticam e se elaboram de forma ativa a identidade sexual e as de outro tipo. Ali os alunos se “escolarizam” como seres sexuados e de distinto 185
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interior de uma determi<strong>na</strong>da cultura, em um determi<strong>na</strong>do contexto histórico. Do<br />
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sociedade. A diferença é entendida de forma relacio<strong>na</strong>l a partir do reconhecimento<br />
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acordo com Louro ( 00 : ), as sociedades “constroem os contornos demarcadores<br />
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com seus padrões culturais) e aqueles que ficam fora dela, às suas margens”. Sabemos<br />
que <strong>na</strong> nossa sociedade a norma estabelecida tem como referência o sujeito<br />
masculino, heteros<strong>sexual</strong>, branco, saudável, burguês e cristão. Assim, aqueles/as que<br />
não se enquadram nestes atributos são nomeados/as “diferentes”.<br />
Não por acaso, a escola, espaço público e coletivo por excelência, importante<br />
instância social constituidora de identidades, evita discutir e problematizar as <strong>sexual</strong>idades<br />
e as possíveis identidades sexuais. Muito pouco tem ela oportunizado<br />
discussões sobre os processos em que os sujeitos ditos “diferentes” (como as pessoas<br />
gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros) são objeto de preconceito<br />
e estigma, por considerar ou entender que existe uma única forma de <strong>sexual</strong>idade<br />
“normal” e que essa temática é uma questão privada e difícil de ser abordada<br />
nesse ambiente. Outro argumento utilizado nesse sentido é que, se os/as alunos/as<br />
não “souberem sobre homos<strong>sexual</strong>ismo, mais estarão protegidos/as em relação a ele.<br />
Ou seja, o não-conhecer pode ser preventivo de decisões consideradas não adequadas<br />
ou fora da norma” (SILVA e SOARES, 00 : 89).<br />
Jime<strong>na</strong> Furlani ( 00 : ), no entanto, contrapõe-se a estes argumentos<br />
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[...] embora possamos pensar que qualquer vivência <strong>sexual</strong> será<br />
mais afirmada quanto mais for “visível” e “permitida” socialmente,<br />
isso não significa dizer que impedindo o conhecimento da homos<strong>sexual</strong>idade<br />
ou dessas comunidades (<strong>na</strong> escola, <strong>na</strong> mídia etc.),<br />
estar-se-ia garantindo que todos “decidam ser” heterossexuais.<br />
Sabemos o quanto as escolas exercem uma pedagogia da <strong>sexual</strong>idade; para<br />
Debbie Epstein e Richard Johnson ( 000: 4), estas instituições<br />
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de forma ativa a identidade <strong>sexual</strong> e as de outro tipo. Ali<br />
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