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Diversidade sexual na educação ... - unesdoc - Unesco

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definição ainda muito limitada, pois o gênero, para homens e mulheres, é uma construção<br />

social que se configura numa relação com o que, em cada cultura e época<br />

histórica, se define como a identidade <strong>sexual</strong>, os papéis sexuais, as idéias de masculinidade,<br />

feminilidade etc. (BUTLER, 00 ; HÉRITIER, 99 ; BADINTER, 98 ;<br />

98 ; 99 ; BOURDIEU, 999; CECCARELLI, 998b). Em geral, ao gênero se<br />

vincula uma identidade <strong>sexual</strong> mas, como advertem os estudiosos do assunto, essa<br />

relação entre gênero e identidade é uma realidade bem mais complexa: “o modelo<br />

biológico do masculino e do feminino é válido para a definição celular; mas seria<br />

ilusório pensar que a identidade sexuada poderia ser definida a partir do biológico”<br />

(CECCARELLI, 998a, s/p). A orientação <strong>sexual</strong>, <strong>na</strong> maior parte dos casos, não<br />

interfere <strong>na</strong> identidade <strong>sexual</strong>. Ficam de fora os casos de tran<strong>sexual</strong>ismo (idem,<br />

998b) Assim, contrariamente ao que imagi<strong>na</strong> a opinião popular, um homos<strong>sexual</strong><br />

masculino não se identifica como “feminino”, não se sente “mulher”. Conceber a<br />

<strong>sexual</strong>idade do indivíduo em termos de orientação <strong>sexual</strong> (e esta como atração, fantasias<br />

e desejo direcio<strong>na</strong>dos a indivíduos de outro, do mesmo ou de ambos os gêneros)<br />

é quase um consenso entre especialistas hoje (SUPLICY, 98 ).<br />

Não resta a menor dúvida, o conceito de orientação <strong>sexual</strong> é válido para pensar<br />

a homos<strong>sexual</strong>idade. Deve-se saber, todavia, que a orientação <strong>sexual</strong> é algo complexo,<br />

cuja compreensão envolve entender a relação sui generis de elementos diversos, que<br />

desconhecemos e deformamos ao querer captá-los em sua totalidade e como causação,<br />

permanecendo alguns deles para sempre insondáveis. Porém, para um uso mais crítico<br />

do conceito e para evitar possíveis apropriações preconceituosas e conservadoras,<br />

tor<strong>na</strong>-se importante dessubstancializar a orientação <strong>sexual</strong>, relativizando o papel que<br />

as variáveis psicológicas e pedagógicas ocupam no conceito, que tor<strong>na</strong>m a orientação<br />

<strong>sexual</strong> uma substância em si (um objeto <strong>na</strong>tural e universal), levando a crer, mais uma<br />

vez, que os indivíduos portam algo identificável em relação a uma <strong>sexual</strong>idade fixa,<br />

inteligível, coerente, inteira, um conjunto de atributos idêntico a si mesmo, provavelmente<br />

também “com uma gênese específica”. Para evitar a substancialização da<br />

orientação <strong>sexual</strong>, é importante trazer a reflexão sobre o assunto para o terreno da<br />

reflexão antropológica e sociológica: a orientação <strong>sexual</strong> é uma construção subjetiva,<br />

certo!, como desejo é singular e em grande medida inconsciente, mas é igualmente<br />

uma construção de caráter social. Constituída de prazeres, sensações, fantasias, imagi<strong>na</strong>ção,<br />

práticas eróticas etc., a orientação <strong>sexual</strong> é construída nos embates subjetivos<br />

e sociais, produzidos <strong>na</strong>s interações, a partir de padrões culturais, relações de poder,<br />

idéias sociais, configurando-se como um fenômeno individual tanto quanto coletivo.<br />

Constitui uma expressão <strong>sexual</strong>, uma manifestação das possibilidades sexuais e eróticas<br />

huma<strong>na</strong>s, sempre contextualizadas e socialmente comuns a muitos indivíduos.<br />

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