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Tese mestrado dc beads final Dr. Jose Hugo

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INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER<br />

HOSPITAL DO CANCER I<br />

SERVIÇO DE RADIOLOGIA<br />

SERVIÇO DE PESQUISA CLÍNICA E INCORPORAÇÃO TECNOLÓGICA<br />

AVALIAÇÃO DAS PARTÍCULAS DE POLÍMEROS<br />

SUPERABSORVENTES (DC-BEADS) NO TRATAMENTO DO<br />

HEPATOCARCINOMA INTERMEDIÁRIO E AVANÇADO<br />

José <strong>Hugo</strong> Mendes Luz<br />

Rio de Janeiro<br />

2012<br />

I


L979a Luz, José <strong>Hugo</strong> Mendes<br />

Avaliação das partículas de polímeros superabsorventes (DC-Beads) no<br />

tratamento do hepatocarcinoma intermediário e avançado / José <strong>Hugo</strong> Mendes<br />

Luz. – Rio de Janeiro, 2012.<br />

45 f. : il. tab.<br />

Dissertação (Mestrado em Oncologia) - Instituto Nacional de Câncer José<br />

Alencar Gomes da Silva - INCA, 2012.<br />

Orientador: Marcelo Henrique Mamede Lewer.<br />

1. Neoplasias Hepáticas. 2. Hepatocarcinoma. 3. Quimioembolização<br />

Terapêutica. 4. DC-Beads. 5. Dissertações acadêmicas. I. Lewer, Marcelo Henrique<br />

Mamede (Orient.). II. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. III.<br />

Título.<br />

CDD 616.99436<br />

II


José <strong>Hugo</strong> Mendes Luz<br />

AVALIAÇÃO DAS PARTÍCULAS DE POLÍMEROS<br />

SUPERABSORVENTES (DC-BEADS) NO TRATAMENTO DO<br />

HEPATOCARCINOMA INTERMEDIÁRIO E AVANÇADO<br />

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa<br />

de Pós-Graduação do Instituto Nacional de Câncer<br />

(INCA) como requisito parcial para a obtenção do grau<br />

de Mestre.<br />

Área de concentração: Oncologia<br />

Orientador: <strong>Dr</strong>. Marcelo Henrique Mamede Lewer –<br />

Serivço de Pesquisa Clínica e Incorporação<br />

Tecnológica (INCA)<br />

Instituto Nacional de Câncer<br />

Hospital do Câncer I<br />

2012<br />

III


RESUMO<br />

Introdução: O hepatocarcinoma se tornou um dos tumores mais frequentes em<br />

todo o mundo com aproximadamente 500.000 novos casos por ano. Os principais<br />

fatores de risco são infecções pelos vírus da hepatite B e C e álcool. Na apresentação,<br />

a maioria dos pacientes já é excluída dos tratamentos com potencial curativo (ex.:<br />

ressecção, transplante ou ablação) devido ao estadiamento avançado. Nesses<br />

pacientes, a quimioembolização é o tratamento de escolha. A quimioembolização com<br />

as novas partículas superabsorventes (DC-Beads) além de obstruir o fluxo sanguíneo<br />

tumoral produz uma liberação de quimioterapia em altas concentrações, na artéria que<br />

nutre o tumor, de maneira controlada e sustentada. Esta nova técnica tem o potencial<br />

de ser um tratamento com menor toxicidade e uma maior taxa de resposta tumoral.<br />

Objetivo: Avaliar, de maneira prospectiva, a quimioembolização com o uso das<br />

partículas de polímeros superabsorventes carregadas com quimioterapia no tratamento<br />

do hepatocarcinoma intermediário e avançado quanto à resposta tumoral e ao tempo<br />

livre de progressão.<br />

Metodologia: O estudo proposto é prospectivo, não-randomizado, fase II, onde 21<br />

pacientes portadores de hepatocarcinoma intermediário e avançado matriculados no<br />

Instituto Nacional de Câncer foram selecionados e submetidos à quimioembolização<br />

com DC-Beads carregadas com doxorrubicina. O resultado foi avaliado através de<br />

exames de imagem periódicos (ressonância magnética) e avaliação clínica.<br />

Resultados: A quimioembolização com partículas superabsorventes promoveu<br />

uma alta taxa de resposta objetiva, [7 pacientes (33%) com resposta completa e 10<br />

pacientes (48%) com resposta parcial], apresentando baixo perfil de toxicidade.<br />

Comparando com os resultados da literatura, foi possível tratar pacientes mais graves e<br />

com tumores mais avançados (ex.: hepatocarcinoma com estadio C pelos critérios do<br />

BCLC) obtendo-se uma alta taxa de resposta tumoral.<br />

Conclusão: A quimioembolização com partículas superabsorventes obteve alta<br />

taxa de resposta tumoral e toxicidade aceitável. Esta técnica representa uma nova<br />

opção de tratamento e possui potencial de se tornar o tratamento padrão para o<br />

hepatocarcinoma intermediário e avançado. Porém estudos randomizados serão<br />

necessários para melhor avaliação.<br />

Palavras Chave: Hepatocarcinoma, quimioembolização, DC-Beads<br />

IV


ABSTRACT<br />

Introduction: Hepatocellular carcinoma has become one of the most frequent tumor<br />

worldwide with an annual incidence of 500.000 new cases per year. The most important<br />

risk factors are the hepatitis B and C, infection and alcohol. At presentation, most of the<br />

patients are not able to potentially curative treatments (e.g.: resection, transplantation or<br />

ablation) as a result of advanced tumor staging. In these patients, chemoembolization is<br />

the treatment of choice. Chemoembolization with the new superabsorbents particles<br />

(DC-<strong>beads</strong>), besides stopping arterial flow to the hepatic tumor, also deliver a high<br />

concentration of the chemotherapy agent to the tumor vessel in a controlled and<br />

sustained manner. This new technic has the potential to become a treatment with less<br />

toxicity and higher tumor response.<br />

Purpose: Analyze prospectively the chemoembolization with superabsorbents<br />

particles loaded with chemotherapy in the treatment of intermediate and advanced<br />

hepatocellular carcinoma as to tumor response and progression free survival.<br />

Methods: This is a prospective, phase II, non-randomized study in which we<br />

enrolled 21 patients from the National Cancer Institute of Brazil with a diagnosis of<br />

intermediate or advanced hepatocellular, whom submitted to chemoembolization with<br />

DC-Beads loaded with doxorubicin. The outcome was measured by periodic imaging<br />

evaluation (magnetic resonance) and clinical status.<br />

Results: Chemoembolization with superabsorbents particles yielded a high<br />

objective response rate [7 patients (33%) with complete response and 10 patients (48%)<br />

with partial response] with a low toxicity profile. When comparing with the literature, the<br />

present study showed that it was possible to treat more severe patients with more<br />

advanced tumors (e.g.: BCLC C Hepatocellular carcinoma) with high response rate.<br />

Conclusion: Chemoembolization with superabsorbents particles yielded a high<br />

objective response rate and low toxicity. This technic represents a new way to perform<br />

this procedure and has the potential to become the standardized treatment for<br />

hepatocellular carcinoma in this subset of patients. Even thought randomized controlled<br />

trial are needed to better establish this outcome.<br />

Keywords: Hepatocellular carcinoma, Chemoembolization, DC-Beads<br />

V


PREAMBULO<br />

Este estudo foi elaborado nos Serviços de Radiologia e Pesquisa Clínica e<br />

Incorporação Tecnológicas do Instituto Nacional de Câncer e iniciado em julho de 2009.<br />

Este é o primeiro estudo, no Brasil, que utiliza as partículas superabsorventes as quais<br />

carreiam quimioterápico (doxorrubicina) no tratamento, através da quimioembolização,<br />

em pacientes portadores de neoplasia primária do fígado, hepatocarcinoma, com<br />

estadiamento intermediário e avançado, B e C respectivamente (critérios do BCLC).<br />

Para esse estudo, foi prevista a realização do procedimento denominado de<br />

quimioembolização em todos os pacientes após a sua inclusão. A avaliação da resposta<br />

terapêutica foi feita através de estudos de ressonância magnética (eventualmente<br />

também de Tomografias Computadorizadas do Tórax e do Abdome) e exames<br />

Laboratoriais. Todas as quimioembolizações foram realizadas no setor de Radiologia<br />

Intervencionista do Serviço de Radiologia do HCI, INCA.<br />

VI


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />

AASLD American Association for the Study of Liver Diseases<br />

BCLC Barcelona Clinic Liver Cancer<br />

CHC Hepatocarcinoma<br />

DEB <strong>Dr</strong>ug Eluting Beads<br />

EASL European Association for the Study of the Liver<br />

ECOG Eastern Cooperative Oncology Group<br />

FOV Field of View (Campo de Visão)<br />

IC Índice de Concordância<br />

INCA Instituto Nacional de Câncer<br />

PET Positron Emission Tomography (tomografia por emissão de pósitron)<br />

PVA Microesferas de álcool polivinil<br />

RM Ressonância Magnética<br />

RECIST Response Evaluation Criteria in Solid Tumors<br />

SG Sobrevida Global<br />

TC Tomografia computadorizada<br />

TLP Tempo Livre de Progressão<br />

TNM Sistema de Estadiamento da AJCC<br />

USG Ultra-sonografia<br />

VII


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 4.1: Paciente ZGL – RM pré-Quimioembolização 19<br />

Figura 4.2: Paciente ZGL – Arteriografia durante o procedimento 20<br />

Figura 4.3: Paciente ZGL – RM pós-Quimioembolização 20<br />

Figura 4.4: Paciente JAM – RM pré-Quimioembolização 21<br />

Figura 4.5: Paciente JAM – RM pós-Quimioembolização 21<br />

Figura 4.6: Paciente OHPA – RM pré-Quimioembolização 22<br />

Figura 4.7: Paciente OHPA – RM pós-Quimioembolização 23<br />

VIII


Tabela 4.1: Características dos Pacientes<br />

LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 4.2: Resposta Tumoral pela Ressonância Magnética<br />

IX<br />

17<br />

18


Gráfico 4.1: Gráfico de Sobrevida Global<br />

LISTA DE GRÁFICOS<br />

Gráfico 4.2: Gráfico de Tempo Livre de Progressão<br />

Gráfico 4.3: Gráfico de Sobrevida estratificado pelo estadiamento B e C dos<br />

critérios do BCLC<br />

Gráfico 4.4: Gráfico do Tempo Livre de Progressão estratificada pelo<br />

estadiamento B e C dos critérios do BCLC<br />

X<br />

28<br />

29<br />

30<br />

31


SUMÁRIO<br />

1 – Introdução<br />

1.1 – Terapias disponíveis para o CHC<br />

1.2 – Polímeros carreadores de Quimioterapia (DC-Beads)<br />

2 – Objetivos<br />

2.1 – Objetivo Principal<br />

2.2 – Objetivos Secundários<br />

3 – Metodologia 14<br />

3.1 – Desenho do estudo 14<br />

3.2 – Critérios de elegibilidade e Inelegibilidade 14<br />

3.2.1 – Critérios de Inclusão 14<br />

3.2.2 – Critérios de Exclusão 15<br />

3.3 – Avaliação pré-tratamento 15<br />

3.4 – Critérios de resposta terapêutica 17<br />

3.5 – Avaliação de toxicidade a quimioembolização 17<br />

4 – Resultados 17<br />

4.1 – Características dos pacientes 17<br />

4.2 – Avaliação da eficácia de acordo com a resposta tumoral<br />

pela Ressonância Magnética:<br />

4.3 – Viabilidade da realização das Quimioembolizações<br />

4.4 – Segurança<br />

4.5 – Dosagem de Alfa-feto-proteína<br />

4.6 – Tempo Livre de Progressão<br />

5 – Discussão 32<br />

6 – Conclusões 38<br />

7 – Referências 39<br />

8 – ANEXO A 41<br />

XI<br />

10<br />

10<br />

12<br />

13<br />

13<br />

13<br />

18<br />

23<br />

24<br />

24<br />

24


1- Introdução<br />

O carcinoma hepatocelular (CHC) se tornou um dos tumores mais frequentes em todo<br />

o mundo com aproximadamente 500.000 novos casos por ano (BOSCH et al. 1999). Os<br />

principais fatores de risco são infecções pelos vírus da hepatite B e C (HBV e HCV), sendo<br />

que 1,4 a 2,5% dos cirróticos por HCV e 1,5 a 6,6% dos cirróticos por HBV desenvolvem o<br />

CHC (BOSCH et al. 1999). Outros fatores de risco são toxinas (álcool e aflatoxina B1),<br />

doenças metabólicas (hemocromatose, deficiência de α-1-antitripsina, porfiria cutânea,<br />

etc.), uso de esteróides anabolizantes e outras causa de cirrose (BOSCH et al. 1999). A<br />

decisão terapêutica em relação ao CHC é realizada de acordo com o seu estadiamento na<br />

apresentação e o critério de classificação mais utilizado em todo o mundo é o BCLC<br />

(Barcelona Clinic Liver Cancer Staging Classification). Neste estadiamento aqueles<br />

pacientes que tem até 3 nódulos hepáticos compatíveis com CHC menores que 3 cm são<br />

tratados com ressecção (cirurgia), ablação por radiofrequência ou transplante hepático e<br />

são classificados como CHC muito inicial ou inicial (BCLC A). Aqueles com mais de 3<br />

tumores e/ou lesões maiores que 3 cm sem invasão vascular ou disseminação extra-<br />

hepática são classificados como intermediário (BCLC B). Pacientes com invasão portal,<br />

disseminação extra-hepática são classificados como avançado (BCLC C) onde<br />

recentemente o Sorafenibe foi aprovado para utilização (LLOVET et al. 2008). Aqueles<br />

com CHC associado a cirrose hepática avançada (Child C) ou PS > 2 entram no<br />

estadiamento como terminais (BCLC D) e recebem terapia de suporte (FORNER et al.<br />

2010; BRUIX et al 2011; BRUIX et al. 2001).<br />

1.1 - Terapias disponíveis para o CHC<br />

O transplante e as ressecções hepáticas são os tratamentos de escolha para o CHC e<br />

apresentam os melhores resultados, entretanto menos de 20% dos pacientes têm<br />

condições clínicas e estadiamento da doença que permitam tal tratamento (LLOVET;<br />

BRUIX. 2003; LAU; LAI. 2008; LAU et al. 2003). Os 80% restantes dos pacientes com<br />

CHC não podem ser tratados dessa forma por não possuírem reserva hepática mínima<br />

para ressecções ou devido ao estágio avançado da doença pelo diagnóstico tardio dos<br />

tumores, já que são lesões assintomáticas na maioria das vezes. O tratamento mais<br />

comumente realizado para pacientes que não podem ser submetidos a ressecção ou<br />

12


transplante é a quimioembolização. O conceito da quimioembolização foi introduzido em<br />

1981 e é baseado na combinação de infusão intra-arterial de quimioterápicos com a<br />

oclusão do suprimento arterial do tumor (LLOVET et al. 2002). Os tumores hepáticos<br />

recebem 90 a 100% de seu suprimento sanguíneo por ramos da artéria hepática, ao<br />

contrário do parênquima hepático normal (sem tumor) que tem dupla circulação (veia porta<br />

e artéria hepática) e recebe 75 a 83% de seu suprimento sanguíneo da veia porta. Assim,<br />

a oclusão parcial ou total da artéria hepática, como acontece na quimioembolização, não<br />

afeta significativamente o parênquima hepático quando a veia porta está patente.<br />

A quimioembolização está indicada inicialmente como tratamento paliativo nos<br />

pacientes que não são candidatos a tratamentos curativos como ressecção cirúrgica,<br />

transplante ou ablação percutânea. Segundo os critérios da Barcelona Clinic Liver Cancer<br />

(BCLC), a quimioembolização está indicada nos pacientes em estágio intermediário ou<br />

estágio B, definidos como pacientes com doença multinodular assintomática, restrita ao<br />

fígado e sem invasão vascular. O primeiro estudo que mostrou ganho de sobrevida para o<br />

grupo submetido a quimioembolização (LLOVET et al. 2002) comparou este tratamento<br />

com a embolização pura (sem quimioterápico) e com cuidados de suporte. A<br />

quimioembolização elevou a sobrevida de 16 meses para 19-20 meses (VARELA et al.<br />

2007) quando comparada a esse dois outros tratamentos.<br />

Os protocolos seguidos nas quimioembolizações variam de acordo com a experiência<br />

de cada centro. Existem protocolos utilizando um, dois ou até três quimioterápicos<br />

diferentes, utilizando diferentes tipos de partículas para embolização (Gelfoam, partículas<br />

de PVA, micro-esferas, etc.) e acrescentando ou não o Lipiodol® (óleo de papoula). Em<br />

revisão de 175 artigos sobre quimioembolização, foi utilizada somente uma droga em 75%<br />

dos artigos e os quimioterápicos mais utilizados foram a doxorrubicina (36%) e a cisplatina<br />

(31%) (MARELLI et al. 2007). Apesar da vasta disponibilidade de esquemas terapêuticos<br />

quimioterápicos, os estudos não demonstraram diferença significativa na sobrevida<br />

(MARELLI et al. 2007).<br />

O uso do Lipiodol® é controverso e vários autores têm defendido sua utilização<br />

baseados na teoria que este composto aumentaria o tempo de exposição do tumor ao<br />

quimioterápico já que o tecido neoplásico não possui células de Kupffer e o Lipiodol se fixa<br />

ao tumor por muito mais tempo que no tecido hepático normal. Por outro lado, na<br />

13


tomografia computadorizada (TC), a deposição do Lipiodol® no tumor dificulta a avaliação<br />

da impregnação de contraste, que é fundamental na definição de viabilidade do tecido<br />

tumoral. Somente nos controles tardios é possível avaliação do sucesso terapêutico<br />

(MARELLI et al. 2007).<br />

Nos últimos dez anos houve melhora significativa na tecnologia envolvida na<br />

quimioembolização, com a introdução de cateteres de menor calibre (microcateteres) e<br />

material emboligênico de alta qualidade. As microesferas para embolização e<br />

quimioembolização foram desenvolvidas recentemente e apresentam algumas vantagens<br />

sobre as demais partículas de embolização, pois produzem oclusão uniforme e distal dos<br />

vasos tumorais. As microesferas podem ser compostas por uma matriz de um polímero de<br />

tris-acril embebida em colágeno ou de álcool polivinil (PVA) com formato esférico e<br />

cobertura hidrofílica. As microesferas de tris-acril são compressíveis e tem tamanho<br />

uniforme, evitando que haja oclusão dos microcateteres durante a administração destas<br />

partículas. Já as microesferas de PVA frequentemente obstruem os microcateteres por<br />

não apresentarem esta compressibilidade. Como apresentam tamanho calibrado, as<br />

microesferas de tris-acril têm penetração previsível de acordo com o diâmetro do vaso,<br />

diferentemente das microesferas de PVA e do gelfoam que podem formar grumos e ocluir<br />

precocemente e de maneira proximal os vasos sanguíneos que estão sendo tratados.<br />

Outra modalidade de tratamento reconhecida para o CHC é a ablação por<br />

radiofrequência. Nesta modalidade é realizada a punção direta do tumor através do fígado<br />

com o auxilio de exame de imagem (ex.: USG ou TC) para guiar o procedimento e permitir<br />

o posicionamento adequado desta agulha no interior da lesão tumoral. Uma vez no interior<br />

do tumor essa agulha de ablação é ligada a um gerador e ocorre a produção de<br />

radiofrequência causando agitação molecular local e a destruição das células tumorais por<br />

necrose de coagulação (LENCIONI et al. 2008). Esta modalidade terapêutica está incluída<br />

nos tratamentos potencialmente curativos para o CHC e de acordo com os critérios do<br />

BCLC está reservada para pacientes com estadiamento 0 e A (muito inicial e inicial).<br />

Alguns autores, sugerem que a associação de radiofreqüência (RF) com<br />

quimioembolização utilizando microesferas de polímeros superabsorventes (DC-Beads)<br />

carregadas com doxorrubicina, pode aumentar em até 59% a área de necrose, obtendo<br />

60% de resposta completa no tratamento do CHC (LENCIONI et al. 2008) Nesta<br />

publicação, os resultados mostram que 60 a 80% dos pacientes tem regressão ou<br />

14


estabilização da doença com queda da alfa-fetoproteína e média da duração da resposta<br />

de 14-15 meses.<br />

1.2 – Microesferas carreadoras de Quimioterapia (DC-Beads)<br />

Recentemente desenvolvidas, as microesferas que carreiam quimioterapia feitas com<br />

polímeros superabsorventes, também chamadas de DEB (“<strong>Dr</strong>ug-eluting <strong>beads</strong>”), têm a<br />

propriedade de absorver o quimioterápico e liberá-lo lentamente durante vários dias (até<br />

14 dias) de maneira constante e sustentada. Esta característica das DEB as difere<br />

prontamente da quimioembolização convencional, pois nesta última a administração do<br />

quimioterápico é feita de uma só vez e isso promove um pico de quimioterapia com<br />

algumas horas de duração imediatamente após o procedimento (LEWIS et al 2006; HONG<br />

et al. 2006)<br />

Atualmente, existem duas microesferas de polímero superabsorvente no mercado<br />

brasileiro: a DC-Beads® (Terumo) e a Hepasphere® (Biosphere Medical), ambas podem<br />

ser carregadas com até 75 mg de doxorrubicina e administradas geralmente através de<br />

microcatéteres e cateterismo superseletivo, sem uso de Lipiodol®. As microesferas DC-<br />

Beads ® possuem dois tipos de diâmetros disponíveis: frascos contendo microesferas de<br />

100 a 300 micra e frascos contendo microesferas de 300-500 micra. Quanto menor for a<br />

microesfera utilizada maior a chance desta partícula penetrar mais profundamente na<br />

artéria que nutre o tumor hepático e assim se aproximar ao máximo da lesão promovendo<br />

um tratamento extremamente localizado e também minimizando a agressão ao<br />

parênquima hepático saudável adjacente (LEWIS et al. 2006; HONG et al. 2006). O<br />

cateterismo super-seletivo significa que posicionamos o microcateter no ramo da artéria<br />

hepática que nutre somente o tumor hepático e assim realizamos um tratamento<br />

localizado sem dano ao parênquima hepático normal (não-tumoral) adjacente. Como a<br />

quimioembolização com as DEB é superseletiva e o quimioterápico é liberado lentamente<br />

no tumor hepático, restringindo de maneira significativa a exposição sistémica da droga,<br />

os efeitos colaterais são potencialmente menores que na quimioembolização<br />

convencional, podendo assim, permitir que pacientes com doença mais avançada<br />

suportem melhor o tratamento. Outra mudança no uso destas novas partículas, as DEB, é<br />

que os protocolos de quimioembolização utilizados com as mesmas são padronizados, ou<br />

15


seja, é seguido um protocolo pré-determinado pelos próprios fabricantes (LEWIS et al.<br />

2006).<br />

Os DC-Beads® são microesferas precisamente calibradas que são capazes de<br />

absorver a quimioterapia (ex.: Doxorrubicina). Ao misturarmos a quimioterapia com os DC-<br />

Beads ocorre a absorção de até 95% da droga pelas microesferas na primeira hora. Após<br />

sua administração no tumor hepático, através da injeção intra-arterial, estas microesferas<br />

começam a liberar lentamente a quimioterapia, de maneira controlada e sustentada por 14<br />

dias (HONG et al. 2006). Estudos experimentais mostraram que a quimioembolização com<br />

os DC-Beads tem um perfil farmacocinético seguro e determina efetiva destruição tumoral<br />

em modelos animais (LEE et al. 2010; JORDAN et al. 2010). Esta é a primeira diferença<br />

marcante da quimioembolização com DC-Beads ® e da quimioembolização convencional<br />

pois nesta última ocorre um pico de quimioterapia imediatamente após o procedimento<br />

pois toda essa medicação é administrada de uma só vez. Com os DC-Beads ® a liberação<br />

da quimioterapia é lenta mantendo uma concentração plasmática da droga sempre baixa e<br />

constante. Além disso, a quimioterapia é mantida por mais tempo em contato com a lesão<br />

tumoral no caso da quimioembolização com os DC-Beads, pois na técnica convencional a<br />

quimioterapia é rapidamente eliminada do fígado. Com isso tem-se documentado um perfil<br />

de toxicidade menor e um maior grau de necrose e de reposta tumoral nos pacientes<br />

tratados com DC-Beads quando comparados com a quimioembolização convencional<br />

(VARELLA et al. 2007; JORDAN et al. 2012; BURREL et al. 2012; MARTIN et al. 2012;<br />

LAMMER et al. 2010).<br />

16


2- Objetivos<br />

2.1- Objetivos primários<br />

Avaliar, de maneira prospectiva, a quimioembolização com o uso das microesferas de<br />

polímeros super-absorventes (DC-Beads ® ) carregadas com doxorrubicina no tratamento<br />

do CHC intermediário e avançado considerando-se resposta tumoral e tempo livre de<br />

progressão.<br />

2.2- Objetivo secundário<br />

Avaliar a toxicidade do procedimento quimioembólico utilizando-se essa nova<br />

modalidade terapêutica.<br />

17


3- Metodologia<br />

3.1- Desenho do estudo<br />

Estudo prospectivo, não-randomizado, fase II, onde 21 pacientes portadores de CHC<br />

intermediário e avançado matriculados no Instituto Nacional de Câncer (INCA) foram<br />

selecionados e submetidos à quimioembolização com DC-Beads ® carregadas com<br />

doxorrubicina.<br />

As quimioembolizações foram feitas pela equipe de Radiologia Intervencionista do<br />

INCA, que possui ampla experiência neste tipo de procedimento, em intervalos de 2<br />

meses nas três primeiras sessões. Deste ponto em diante novas sessões de<br />

quimioembolização eram realizadas de acordo com os exame de imagem realizados para<br />

avaliação de resposta. Trinta dias após a terceira sessão de Quimioembolização o<br />

paciente era submetido a exame de imagem para avaliação de resposta tumoral<br />

(Ressonância Magnética) e outras sessões. Outras sessões de quimioembolização eram<br />

realizadas de acordo com o tipo de resposta tumoral (ex.: resposta parcial) e evolução<br />

clinica. A equipe teve acesso a uma ficha contendo informações clínicas referente a cada<br />

paciente, resumo da história da doença, exame físico, estadiamento clínico, laudo<br />

histopatológico e exames de imagem, como consta no prontuário médico de cada<br />

paciente.<br />

A avaliação de resposta tumoral foi realizada com ressonância magnética do abdome<br />

com estudo dinâmico do fígado e laudadas por radiologistas diagnósticos da equipe de<br />

Radiologia do INCA, antes da primeira sessão de quimioembolização e 1 mês após a<br />

terceira sessão. Acompanhamentos clínico e laboratorial (hemograma, bioquímica e alfa-<br />

feto proteína) foram realizados antes de cada sessão e durante as internações<br />

hospitalares, visando, não somente o acompanhamento evolutivo dos pacientes, mas<br />

também a avaliação da toxicidade de cada paciente através do registro e quantificação<br />

dos efeitos adversos e de resultados de exames laboratoriais.<br />

3.2 – Critérios de elegibilidade e Inelegibilidade<br />

3.2.1 Critérios de inclusão<br />

• Idade acima de 18 anos e inferior a 80 anos;<br />

• Etiologia da Cirrose: qualquer<br />

18


• Child A ou B (Classificação de Child-Pugh)<br />

• CHC (Carcinoma Hepatocelular) Intermediário ou Avançado (Classificação de<br />

BCLC B e C) que não tenha sido submetido previamente a quimioembolização.<br />

• PS 0 ou 2 (PS – Performance Status de acordo com ECOG)<br />

3.2.2- Critérios de exclusão<br />

• Child C<br />

• PS > 2<br />

• Recusa em assinar o termo de consentimento<br />

• Presença de infecção documentada ou sangramento<br />

3.3- Avaliação pré-tratamento<br />

Todos os pacientes incluídos no estudo tiveram sua história clínica levantada, exame<br />

físico completo, eletrocardiograma, hemograma completo, plaquetas, bioquímica<br />

sanguínea completa, dosagem de alfa-feto proteína, teste de gravidez, Tomografia<br />

Computadorizada do Tórax e Ressonância Magnética do Abdome.<br />

3.4- Critérios de resposta terapêutica<br />

Tradicionalmente o critério utilizado para resposta tumoral em neoplasias sólidas é o<br />

RECIST. De acordo com esse critério é possível medir a resposta ao tratamento utilizado<br />

através da quantificação da redução do tamanho da lesão tumoral, que foi validada como<br />

uma valiosa ferramenta na avaliação da eficácia anti-tumoral de drogas citotóxicas<br />

(LENCIONI; LLOVET. 2010). Porém critérios estritamente anatômicos que levam somente<br />

em consideração a redução das dimensões da lesão tumoral para avaliar resposta podem<br />

ser enganadores quando aplicados para terapias alvo-moleculares ou tratamento loco-<br />

regionais (ex.: quimioembolização). O CHC ao apresentar resposta favorável ao<br />

tratamento, frequentemente se liquefaz (tornando-se avascular, ou seja, sem realce pelo<br />

meio de contraste), sem, porém, apresentar redução significativa de seu diâmetro. Por<br />

conta disso através de painéis de especialistas em 2000 (através da EASL) e<br />

posteriormente em 2008 (AASLD) foram desenvolvidos uma série de diretrizes para<br />

resposta tumoral que passaram a incluir também o grau de necrose tumoral (LENCIONI;<br />

19


LLOVET. 2010) como resposta ao tratamento instituído no CHC. Sendo assim, neste<br />

estudo foram utilizados os critérios da EASL para avaliação de resposta tumoral que<br />

considera não somente as alterações nas dimensões da lesão mas também a presença<br />

ou ausência de realce pelo meio de contraste venoso (viabilidade tumoral e necrose<br />

tumoral). De acordo com esse critério a Resposta Parcial (RP) e Progressão de Doença<br />

(PD) eram definidos como mais que 50% de redução ou mais que 25% de aumento,<br />

respectivamente, no realce pelo meio de contraste das lesões alvo . O surgimento de<br />

novas lesões compatíveis com CHC indicavam PD (a lesão tinha que ter no mínimo 1cm<br />

de diâmetro). A análise do realce pelo meio de contraste foi sempre realizada na fase<br />

arterial do exame de tomografia computadorizada (BRUIX et al. 2001). Todas as análises<br />

foram realizadas por um radiologista do serviço de Radiologia do Inca com ampla<br />

experiencia na área e que não teve acesso aos dados clínicos dos pacientes.<br />

O tempo para progressão e a sobrevida foram avaliados com 6, 9, 12, 15, 18, 21 e 24<br />

meses de acordo com estudos radiológicos e evolução clínica. A análise estatística foi<br />

feita pelo método de Kaplan Meyer e Log-Rank utilizando o software S-plus. A curva de<br />

Kaplan-Meier foi utilizada para descrever dois desfechos de interesse: a probabilidade de<br />

sobreviver e a probabilidade de não progredir. O teste Log-rank e Peto, foram utilizados<br />

para avaliar se as curvas de sobrevida eram estatisticamente diferentes entre estratos das<br />

variáveis categorias. O número de pacientes tratados neste estudo deve-se em parte a<br />

disponibilidade de DC-BEADS que, por não ser terapia padrão por ocasião do estudo, teve<br />

o seu fornecimento específico para este estudo.<br />

3.5- Avaliação da toxicidade a quimioembolização<br />

A toxicidade foi avaliada após cada sessão de quimioembolização através da revisão<br />

do estado clínico do paciente assim como uma avaliação laboratorial completa que incluiu<br />

série branca e vermelha, panorama hepático completo e função renal. A dor no pós-<br />

operatório imediato foi registrada em uma escala de 0 a 10 (sendo 0 a ausência de dor e<br />

10 uma dor de alta intensidade). Eventos adversos foram avaliados de acordo com as<br />

definições do NCI-CTC versão 3.0, classificados em grau 1 (leve), 2 (moderado), 3<br />

(severo), 4 (risco de morte ou incapacitante) e 5 (morte relacionada ao EA) e sua relação<br />

causal avaliada pelo investigador. A ocorrência da síndrome de pós-embolização<br />

(podendo ser constituída por dor, náuseas, febre, leucocitose e mal-estar), que geralmente<br />

20


surge 2 a 3 dias depois do procedimento e permanece por até 15 a 21 dias após a sessão<br />

de quimioembolização, também foi registrada após todos os tratamentos.<br />

4- Resultados<br />

4.1- Características dos Pacientes:<br />

Vinte e um pacientes portadores de CHC classificados em intermediário (B: 62%,<br />

13/21) ou avançado (C: 38%, 8/21), com média de idade de 61 anos foram incluídos no<br />

período de agosto de 2009 e fevereiro de 2010 no estudo prospectivo, braço único e de<br />

uma única instituição. A maioria dos pacientes apresentava cirrose hepática (95%, 20/21).<br />

O tamanho médio das lesões foi de 6,7 cm (variando de 3,5 cm a 12 cm). O número médio<br />

de sessões de quimioembolização com DC-Beads foi de 2,5 sessões (variando de 1 a 4<br />

sessões). O tempo médio de acompanhamento foi de 16,6 meses (variando de 6 a 30<br />

meses).<br />

Tabela 4.1.: Características dos pacientes:<br />

Características dos Pacientes (n=21)<br />

Idade média (anos) 61<br />

Estadiamento (BCLC)<br />

B (Intermediário) 62%<br />

C (Avançado) 38%<br />

Cirrose Hepática 95%<br />

Tamanho médio dos Tumores 6,7 cm<br />

Classificação de Child-Pugh<br />

A 53%<br />

B 47%<br />

Tempo médio de acompanhamento 16,6 meses<br />

Média de sessões de Quimioembolização 2,5<br />

21


4.2- Avaliação da eficácia de acordo com a resposta tumoral pela Ressonância<br />

Magnética:<br />

O primeiro controle de imagem com ressonância magnética para avaliação de resposta<br />

tumoral foi realizado com 6 meses (variando de 4 a 6 meses). Dois pacientes<br />

apresentaram progressão no primeiro controle (10%, 2/21), 3 apresentaram resposta<br />

completa (14%, 3/21), 2 com doença estável (10%, 2/21) e os demais com resposta<br />

parcial (RP: 67%, 14/21). Tabela 2.<br />

Dos 14 pacientes que apresentaram resposta parcial no primeiro controle com imagem<br />

em 6 meses, 4 evoluíram para resposta completa após o 9 o . mês de acompanhamento,<br />

totalizando 7 pacientes com resposta completa e 10 com resposta parcial.<br />

Após 9 meses, 14 pacientes apresentaram redução da lesão tumoral, com redução<br />

média de 25% do tamanho tumoral. Sete desses pacientes apresentaram resposta<br />

completa e os outros 7 apresentaram resposta parcial. Nenhum paciente que apresentou<br />

progressão de doença no primeiro controle obteve redução subsequente da lesão tumoral<br />

hepática.<br />

Ao <strong>final</strong> de 2 anos de acompanhamento, 12 pacientes faleceram. Destes óbitos, 3 não<br />

foram relacionados à neoplasia em questão, um paciente faleceu de infarto agudo do<br />

miocárdio, outro de pneumonia grave e um terceiro paciente que apresentou reposta nos<br />

exames de imagem evoluiu com piora da função hepática por retorno ao consumo de<br />

derivados etílicos. Dos 8 pacientes que estão vivos e completaram o acompanhamento de<br />

2 anos 7 apresentaram resposta completa e 1 paciente com resposta parcial. Estes estão<br />

em acompanhamento clínico e radiológico, e nenhum com sessão de quimioembolização<br />

prevista para os próximos 30 dias. Somente o paciente que apresentou resposta parcial<br />

está no momento em avaliação com o serviço de cirurgia hepática quanto a possibilidade<br />

de ressecção ou inclusão na fila de transplante.<br />

22


Tabela 4.2.: Resposta Tumoral pela Ressonância Magnética<br />

Resposta Tumoral pela Ressonância Magnética (n=21)<br />

Após 9 meses de Tratamento<br />

Resposta Completa 33% (7/21)<br />

Resposta Parcial 48% (10/21)<br />

Doença Estável 9,5% (2/21)<br />

Progressão de Doença 9,5% (2/21)<br />

Figura 4.1: ZGL, 73 anos, feminina, cirrose hepática pelo Virus C da hepatite.<br />

Ressonância magnética pré-quimioembolização mostra volumoso hepatocarcinoma de<br />

7,0 cm no lobo direito do fígado.<br />

23


Figura 4.2: ZGL, 73 anos, feminina, cirrose hepática pelo Virus C da Hepatite.<br />

Arteriografia realizada imediatamente antes da quimioembolização mostra o volumoso<br />

tumor hepático.<br />

Figura 4.3: ZGL, 73 anos, feminina, cirrose hepática pelo Virus C da Hepatite.<br />

Ressonância Magnética de controle de 6 meses mostra o tumor completamente<br />

necrosado compatível com resposta completa. Esta paciente permaneceu em<br />

acompanhamento por 2 anos e nesse período não apresentou recidiva dessa lesão ou<br />

24


surgimento de novos tumores.<br />

Figura 4.4: JAM, 60 anos, masculino, cirrose hepática por álcool. Ressonância Magnética<br />

pré-Quimioembolização mostra volumoso tumor no lobo direito do fígado associado a<br />

trombose portal. De acordo com os critérios do BCLC este tumor tem estadiamento<br />

avançado ou C.<br />

Figura 4.5: JAM, 60 anos, masculino, cirrose hepática por álcool, Hepatocarcinoma<br />

infiltrativo com trombose portal. Ressonância Magnética de controle pós-<br />

Quimioembolização mostra extensa necrose do volumoso tumor no lobo direito do fígado<br />

associado a regressão parcial da trombose portal.<br />

25


Figura 4.6: OHPA, 60 anos, masculino, cirrose hepática pelo vírus C da hepatite,<br />

estadiamento B pelo BCLC. Ressonância Magnética pré-Quimioembolização mostra duas<br />

massas hipervasculares no lobo direito do fígado compatíveis com Hepatocarcinoma. A<br />

lesão mais posterior é de difícil apreciação nesta sequência.<br />

Figura 4.7: OHPA, 60 anos, masculino, cirrose hepática pelo vírus C da hepatite,<br />

estadiamento B pelo BCLC. Ressonância Magnética de controle pós-Quimioembolização<br />

mostra que as duas massas estão agora completamente hipovasculares compatível com<br />

resposta tumoral completa.<br />

26


4.3- Viabilidade da realização das Quimioembolizações:<br />

Ao todo, foram realizadas 53 sessões de quimioembolização com sucesso técnico em<br />

52 procedimentos (98%, 52/53). Neste único procedimento sem sucesso técnico tratava-<br />

se já da quarta sessão de quimioembolização que esse paciente era submetido. Durante o<br />

procedimento identificamos que o paciente apresentava oclusão da artéria hepática<br />

própria impedindo assim que o cateter fosse colocado em posição adequada para a<br />

administração das microesferas carregadas com Doxorrubicina. Uma dose média de 110<br />

mg (variando de 75 a 150mg) foi administrada nos 52 procedimentos. O microcateter foi<br />

utilizado em todos as quimioembolizações realizadas com êxito (100%, 52/52). O tempo<br />

médio de internação hospitalar foi de 48 horas (variando de 1 a 14 dias). Apenas um<br />

paciente apresentou dor moderada e persistente após as sessões de quimioembolização<br />

sendo necessário o uso continuo de analgésicos. Este paciente já apresentava trombose<br />

parcial da veia porta e dor na primeira consulta. Nos controles posteriores com<br />

ressonância magnética, ficou evidenciado extensa necrose tumoral e do parênquima<br />

hepático adjacente nesse paciente. No geral o relato de dor no pós-operatório imediato foi<br />

de dor mínima a leve desconforto (na escala de dor a média relatada foi de 2,5). Dois<br />

pacientes apresentaram descompensação hidrópica que foi revertida com terapia<br />

diurética. Dois pacientes apresentaram aumento da bilirrubina acima de 3,5 (máximo de<br />

4,9) sendo revertido para valores pré-tratamento em ambos.<br />

4.4- Segurança:<br />

A toxicidade foi avaliada após cada sessão de quimioembolização. Em média, a<br />

toxicidade foi baixa a moderada, com uma frequência pequena de eventos grau 2 (CTCAE<br />

v3.0). Nenhum evento grau 3 ou 4 relacionado ao procedimento foi relatado. A síndrome<br />

de pós-embolização (geralmente constituída por dor, náuseas, febre, leucocitose e mal-<br />

estar) ocorreu em cerca de 50% dos pacientes e foi caracterizada principalmente por febre<br />

baixa (até 38°C) e mal estar com duração média de 1 5 dias após a sessão de<br />

quimioembolização. Em todos os casos, o tratamento foi realizado com medicações de<br />

suporte direcionadas aos sintomas relatados e tratados com sucesso. Os parâmetros<br />

27


laboratoriais da função hepática não foram alterados de maneira significativa após a<br />

maioria dos procedimentos (geralmente até 3 vezes o valor basal). Nenhum paciente<br />

faleceu nos primeiros trinta dias após a realização da quimioembolização. Dois pacientes<br />

faleceram dentro de 60 dias após o procedimento. Um deles recebeu alta após 3 dias do<br />

procedimento. Re-internou 39 dias depois com insuficiência hepática por evolução da<br />

cirrose hepática de base devido ao retorno de consumo a derivados etílicos. Permaneceu<br />

internado por 21 dias e faleceu por piora progressiva da função hepática e falência de<br />

múltiplos órgãos. A outra paciente recebeu alta com 24 horas do procedimento. Internou<br />

50 dias após por quadro infeccioso pulmonar grave e evoluiu para óbito em 7 dias.<br />

4.5- Dosagem de Alfa-feto-proteína:<br />

Somente 7 pacientes apresentavam dosagem de alfa-feto-proteína acima de 200ng/ml<br />

(média de 667, variando de 335 a 1500). Após as sessões de quimioembolização houve<br />

redução de cerca de 80% do valor caindo para uma média de 133 ng/ml. Houve<br />

correlação da queda da alfa-feto-proteína com a resposta tumoral identificada pela<br />

ressonância magnética.<br />

4.6- Tempo livre de progressão e Sobrevida:<br />

O tempo médio até o óbito foi de 16.2 meses. O tempo médio até progressão foi de<br />

15.7 meses. A mediana do tempo de sobrevivência estimada pelo método de Kaplan-<br />

Meier foi de 19.6 meses. O limite inferior do IC de 95' foi de 13.3 meses e o limite superior<br />

não atingido. A mediana do tempo de não progressão estimada pelo procedimento de<br />

Kaplan-Meier foi de 17.4 meses. O limite inferior do IC de 95' foi de 12.3 meses e o limite<br />

superior não atingido.<br />

A sobrevida em 1 e 2 anos foi de 73,7% e 41,6%, respectivamente (Gráfico 4.1) e o<br />

tempo livre de progressão em 1 ano e 2 anos foi de 73,0% e 37,1%, respectivamente<br />

(Gráfico 4.2). Houve uma tendência de maior sobrevida e tempo livre de progressão nos<br />

pacientes com estadiamento BCLC B quando comparados com aqueles pacientes com<br />

estadiamento BCLC C (Gráfico 4.3) sem, porém, atingir relevância estatística (p=0,10)<br />

como também o valor da bilirrubina pré-quimioembolização maior que 2,5 (p=0,11). Outros<br />

riscos foram avaliados e não mostraram associação: sexo, raça, idade, tamanho do tumor,<br />

28


invasão portal, alfa-feto-proteína, classificação de Child, PS e número de<br />

quimioembolizações realizadas.<br />

29


Gráfico 4.1: Gráfico de Sobrevida (linha sólida) e intervalo de confiança de 95% (linhas<br />

pontilhadas) dos 21 pacientes portadores de CHC com estadiamento intermediário e<br />

avançado submetidos ao tratamento de quimioembolização.<br />

30


Gráfico 4.2: Gráfico do Tempo Livre de Progressão (linha sólida) e intervalo de confiança<br />

de 95% (linhas pontilhadas) dos 21 pacientes portadores de CHC com estadiamento<br />

intermediário e avançado submetidos ao tratamento de quimioembolização.<br />

31


Probabilidade de sobreviver<br />

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0<br />

Curva de Sobrevida estratificada por BCLC B (Kaplan-Meier)<br />

B<br />

C<br />

0 5 10 15<br />

Meses<br />

20 25 30<br />

Gráfico 4.3: Gráfico de Sobrevida em 30 meses dos 21 pacientes portadores de CHC com<br />

estadiamento intermediário (linha preta contínua) e avançado (linha vermelha<br />

descontínua) submetidos ao tratamento de quimioembolização.<br />

32


Probabilidade de não progredir<br />

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0<br />

Curva de Não progressão estratificado por BCLC B (Kaplan-Meier)<br />

B<br />

C<br />

0 5 10 15<br />

Meses<br />

20 25 30<br />

Gráfico 4.4: Gráfico do Tempo Livre de Progressão em 30 meses dos 21 pacientes<br />

portadores de CHC com estadiamento intermediário, BCLC B (linha preta contínua) e<br />

avançado BCLC C (linha vermelha descontínua) submetidos ao tratamento de<br />

quimioembolização.<br />

33


5- Discussão<br />

A Quimioembolização convencional tem uma capacidade limitada de manter o<br />

quimioterápico nas lesões hepáticas. Através desse método ocorre um pico sanguíneo do<br />

quimioterápico imediatamente após sua administração devido a ausência de um vetor ou<br />

carreador que possa liberar lentamente a droga. O que é utilizado rotineiramente é o<br />

lipiodol, que teoricamente poderia desempenhar esse papel de carreador da droga<br />

administrada embora isso não tenha sido claramente demonstrado em estudos. Também<br />

é necessário a utilização de grandes quantidades de material de embolização (ex.<br />

Gelfoam, partículas de PVA) associadas a quimioterapia e lipiodol para se obter um grau<br />

de resposta aceitável, muitas vezes causando um dano não desprezível ao parênquima<br />

hepático não tumoral adjacente acelerando a deterioração da função hepática e<br />

aumentando a toxicidade dessa modalidade terapêutica.<br />

A utilização das microesferas carreadoras de quimioterapia, DC-Beads, representa<br />

uma nova forma de se realizar a quimioembolização. Com esta nova técnica é possível<br />

realizar a administração de microesferas carregadas com quimioterapia (BROWN et al.<br />

2006). Uma vez administrada, através do cateter, essas microesferas além de obstruírem<br />

o fluxo de sangue para a lesão tumoral passam também a liberar a quimioterapia de<br />

maneira controlada e mantida por 14 dias (LEWIS et al. 2007). Esta administração<br />

sustentada permite uma grande exposição do quimioterápico as células tumorais,<br />

aumentando o grau de necrose. Além disso é possível se obter um menor pico de<br />

quimioterapia imediatamente após o procedimento e assim a Quimioembolização com<br />

microesferas carreadoras de drogas, DC-Beads, parece também causar menor toxicidade<br />

do que o método tradicional (LAMMER et al. 2010). Desse modo o procedimento pode ser<br />

repetido com maior frequência pois não teria uma toxicidade tão limitante. Além disso tem<br />

também o potencial de tratar pacientes mais graves que normalmente seriam excluídos da<br />

terapêutica convencional, como acontece com os pacientes com CHC avançado.<br />

O tratamento foi realizado com sucesso em 52 das 53 sessões de Quimioembolização<br />

(98%, 52/53). Somente em uma das 53 sessões de Quimioembolização o cateterismo da<br />

artéria nutrida da lesão tumoral hepática não foi possível devido a trombose e oclusão<br />

deste vaso provavelmente secundário a três sessões que esse paciente já havia realizado<br />

34


previamente. Uma dose média de 110 mg (variando de 75 a 150mg) foi administrada nos<br />

52 procedimentos. O microcateter foi utilizado em todos as Quimioembolizações<br />

realizadas com êxito (100%, 52/52) e as microesferas de 100 a 300 micra foi utilizada na<br />

maioria das sessões (83%, 43/52 microesferas de 100 a 300 micra e 17%, 9/52). Ao<br />

utilizarmos uma microesfera de menor calibre (ex.: 100 a 300 micra) existe o potencial de<br />

se penetrar mais profundamente nas artérias que nutrem o tumor hepático (LEE et al.<br />

2008).<br />

Uma das complicações temidas durante a Quimioembolização é a embolização<br />

inadvertida de órgão não alvo, ou seja, a migração ou a administração do agente<br />

terapêutico para artérias próximas aos vasos tumorais (ex.: artéria gástrica direita, artéria<br />

gastro-duodenal, artérias pancreáticas e etc). Um paciente relatou dor grau 2 no<br />

hipocôndrio direito imediatamente após a realização da Quimioembolização que pode ser<br />

atribuída ao refluxo de microesferas para a artéria cística causando um quadro de<br />

colecistite aguda. Este paciente foi medicado de forma sintomática e evoluiu com<br />

resolução da dor em 24 horas. Em média durante o nosso estudo o relato de dor no pós<br />

operatório imediato foi de dor mínima a leve desconforto (na escala de dor a média<br />

relatada foi de 2,5).<br />

Em relação a toxicidade a síndrome de pós-embolização foi reportada em 50% dos<br />

pacientes tratados. Esta síndrome, definida como dor, febre, náuseas, vômitos e<br />

leucocitose, pode ocorrer em até 90% dos casos tratados com Quimioembolização<br />

tradicional. Estes sintomas não estão geralmente todos presentes e ocorrem em<br />

intensidades variadas (CHUNG et al. 1996; LEUNG et al. 2001; PATEL et al. 2000).<br />

Embora a maioria dos pacientes que apresente essa síndrome são tratados com sucesso<br />

através de medicações direcionadas aos sintomas, isto representa uma complicação da<br />

Quimioembolização e pode em alguns casos prolongar a internação desta população e<br />

aumentar a morbidade do procedimento. Em nosso estudo a Quimioembolização com<br />

microesferas carreadoras de drogas foi extremamente bem tolerada e todas as síndromes<br />

de pós-embolização identificadas foram de pequena intensidade e tratadas com sucesso<br />

ambulatorialmente. Além disso não é incomum que no pós-operatório imediato da<br />

Quimioembolização convencional seja necessário altas doses de analgésicos potentes,<br />

por vezes narcóticos, para contensão da dor. Nos pacientes tratados nesse estudo os<br />

relatos de dor no pós-operatório foram mínimos, sendo o de maior intensidade observado<br />

35


no primeiro paciente que graduou a dor em 4/10, e que foi controlada em 24 horas. Esses<br />

achados são compatíveis com o estudo randomizado, multicêntrico PRECISION V que<br />

comparou pacientes submetidos a Quimioembolização convencional e com microesferas,<br />

DC-Beads, e mostrou uma taxa significativamente inferior de síndrome pós-embolização<br />

nos pacientes tratados com essa nova técnica (LAMMER et al. 2010).<br />

Além da menor toxicidade a Quimioembolização com DC-Beads parece promover<br />

também uma maior taxa de resposta tumoral. Para avaliação de resposta tumoral tem-se<br />

utilizado o RECIST que tem como parâmetro principal a alteração no tamanho da lesão<br />

tumoral (JOON et al. 2003). Critérios como o da Associação Europeia para o Estudo do<br />

Fígado (critérios da EASL) levam em consideração não só alterações na dimensão da<br />

lesão como também a redução da parte do tumor que apresenta o realce pelo meio de<br />

contraste venoso (SHIM et al. 2012). O racional de se utilizar critérios que avaliam<br />

também o grau de realce pelo meio de contraste da lesão tumoral estão fundamentados<br />

na concepção de que a ocorrência de extensa necrose tumoral nem sempre é<br />

acompanhada de redução das dimensões da lesão tumoral. A necrose tumoral, decorrente<br />

de tratamentos como a Quimioembolização, são acompanhadas por uma redução, parcial<br />

ou completa, da quantidade de realce pelo meio de contraste em exames de imagem (ex.:<br />

Ressonância Magnética). Baseando-se exatamente nesta ocorrência foram desenvolvidos<br />

e validados critérios de avaliação de resposta tumoral como os da EASL. Se utilizássemos<br />

o RECIST no nosso estudo teríamos obtidos taxas de resposta significativamente<br />

inferiores aos descritos, e que certamente não corresponderiam a avaliação real quanto ao<br />

desfecho terapêutico. Além disso não raramente observamos ausência completa de realce<br />

pelo meio de contraste da lesão tumoral após a Quimioembolização, o que é compatível<br />

com resposta completa de acordo com os critérios da EASL, e sem reduções significativas<br />

no tamanho da lesão tumoral. Este achado foi encontrado em 4 dos 7 pacientes que<br />

obtiveram resposta completa em nosso estudo. Além disso, a redução nas dimensões da<br />

lesão tumoral só foi realmente atestada a partir do segundo controle com Ressonância<br />

Magnética (a partir do nono mês) sugerindo que nos tumores que respondem a esta<br />

terapêutica podemos esperar inicialmente redução no realce pelo meio de contraste e que<br />

poderá ou não ser acompanhada mais tardiamente (meses) por redução também nas<br />

dimensões da lesão tumoral.<br />

Não infrequentemente pacientes submetidos a Quimioembolização e que obtém boa<br />

36


esposta tumoral podem se tornar ressecáveis ou então serem incluídos em fila de<br />

transplante devido a ocorrência de downstage. No nosso estudo três pacientes que<br />

apresentaram resposta completa também evoluíram com redução da lesão tumoral para<br />

menos de 5,0 cm e assim poderiam ser avaliados para serem listados para fila de<br />

transplante hepático (de acordo com a legislação Brasileira pacientes portadores de CHC<br />

menores que 5,0 cm com até 69 anos de idade podem ser listados para a fila de<br />

transplante hepático). Porém no nosso estudo estes três pacientes tinham mais de 69<br />

anos e não foram listados. Um desses pacientes também foi julgado como ressecável<br />

após ser reavaliado pelo serviço de cirurgia Hepato-Biliar, porém devido a idade avançada<br />

(76 anos), presença de cirrose e algumas comorbidades a cirurgia foi contra-indicada.<br />

Esse paciente apresentou resposta completa após 3 sessões de Quimioembolização, está<br />

em acompanhamento há 30 meses e sem sinais de recidiva ou novas lesões.<br />

Dos pacientes que apresentavam uma alfa-feto-proteína acima de 200ng/ml na<br />

admissão ao nosso estudo (n = 7, alfa-feto-proteína média de 667, variando de 335 a<br />

1500) e responderam ao tratamento de acordo com a Ressonância Magnética, 86% (6/7)<br />

apresentaram também queda significativa da alfa-feto-proteína. O único paciente que não<br />

apresentou queda da alfa-feto-proteína embora tenha respondido de acordo com os<br />

critérios de imagem possuía também metástase a distância (metástase óssea) que<br />

progrediu durante os tratamentos com Quimioembolização e assim sugerindo que a não<br />

redução da alfa-feto-proteína e até o seu aumento seria decorrente da doença extra-<br />

hepática.<br />

Em nosso estudo o tempo livre de progressão em 1 ano e 2 anos foi de 73% e 37,1%<br />

respectivamente e a taxa de sobrevida em 1 e 2 anos foi de 73,7% e 41,6%<br />

respectivamente. O que é semelhante as taxas publicadas para a Quimioembolização<br />

(GESCHWIND et al. 2003; IKEDA et al. 2002; LLADO et al. 2000). Porém estudos<br />

avaliando a Quimioembolização com a nova tecnologia de microesferas carregadas com<br />

quimioterapia, DC-Beads, demonstraram taxas de sobrevida significativamente maiores<br />

(sobrevida em 1 e 2 anos de 92,5% e 88,9% respectivamente) (LEWIS et al. 2006). A<br />

sobrevida inferior encontrada no nosso estudo pode e deve estar relacionada a seleção de<br />

pacientes. Dos 21 pacientes tratados, 8 apresentavam CHC com estadiamento C de<br />

acordo com os critérios do BCLC. Os demais pacientes estavam no estágio intermediário,<br />

B. Nenhum paciente tratado no nosso estudo se encontrava no estadiamento inicial ou A.<br />

37


A maior parte dos estudos que avaliaram a quimioembolização com DC-Beads incluíram<br />

uma parcela significativa de pacientes com estadiamento A. Além disso houve uma<br />

tendência nos pacientes tratados em nosso estudo com estadiamento B de apresentarem<br />

uma taxa de sobrevida e tempo livre de progressão superior àqueles com estadiamento C<br />

(Gráfico 4.3 e Gráfico 4.4), sem porém obter relevância estatística (assim como houve<br />

também esta tendência em pacientes com bilirrubina menor que 2,5). Outros riscos foram<br />

avaliados e não mostraram associação: sexo, raça, idade, tamanho do tumor, invasão<br />

portal, alfa-feto-proteína, classificação de Child, PS e número de Quimioembolizações<br />

realizadas.<br />

Um diferencial importante do nosso estudo foi a inclusão de uma porcentagem não<br />

desprezível de pacientes com Hepatocarcinoma avançado (estadiamento BCLC: C, 38%).<br />

De acordo com os critérios do grupo de Barcelona (BCLC) esses pacientes não são<br />

geralmente tratados com Quimioembolização tradicional sendo encaminhados para<br />

tratamento com quimioterapia sistêmica, mais especificamente o Sorafenibe (LLOVET et<br />

al. 2008). Uma crítica a esse estudo seria a não oferta do tratamento com Sorafenibe para<br />

os pacientes com CHC avançado. A inclusão de pacientes iniciou-se em julho de 2009 e<br />

teve a duração de 6 meses. O estudo que mostrou aumento da sobrevida com o uso de<br />

Sorafenibe em pacientes com CHC avançado somente foi publicado em julho de 2008<br />

(LLOVET et al, 2010). No momento da inclusão dos pacientes no estudo esta medicação,<br />

Sorafenibe, não estava disponível na instituição (ano de 2009). Embora os pacientes com<br />

CHC avançado sejam excluídos da quimioembolização devido ao questionável beneficio e<br />

a toxicidade inaceitável, no nosso grupo de pacientes com CHC avançado não foram<br />

identificados nenhum evento adverso sério em até 30 dias após a Quimioembolização.<br />

Dos pacientes que faleceram em até 60 dias após a Quimioembolização (n = 2) um deles<br />

foi devido a infarto agudo do miocárdio e o outro por insuficiência hepática progressiva<br />

(devido ao progresso rápido da doença hepática de base, cirrose, por retorno ao consumo<br />

de álcool). Estes dois óbitos não foram relacionados diretamente ao procedimento<br />

realizado. É importante ressaltar que taxas de até 50% de piora da função hepática já<br />

foram publicadas após a realização da Quimioembolização tradicional (BISMUTH et al.<br />

1998). Sendo assim era esperado um maior grau de toxicidade e um maior número de<br />

complicações para essa população tratada em nosso estudo devido ao estadiamento<br />

avançado, mostrando que a quimioembolização com DC-Beads pode ter um perfil de<br />

38


toxicidade aceitável nessa população, como já foi demonstrado em outros estudos<br />

(LAMMER et al. 2010; Niu et al. 2011).<br />

Poucos estudos avaliaram a eficácia da quimioembolização no tratamento do CHC<br />

avançado. Um estudo avaliou a quimioembolização em pacientes com CHC avançado<br />

comparando com tratamento de suporte e mostrou um benefício significativo tanto quanto<br />

a resposta tumoral quanto também em sobrevida para os pacientes submetidos a<br />

quimioembolização (NIU et al. 2011). No estudo randomizado, multicêntrico, denominado<br />

PRECISION V, que comparou a quimioembolização convencional com a<br />

quimioembolização com DC-Beads, a análise de subgrupos demonstrou que nos<br />

pacientes com doença mais avançada {classificação de Child B, PS 1 (neste caso CHC<br />

avançado), tumores em ambos os lobos hepáticos ou doença recidivante} a incidência de<br />

resposta objetiva (resposta completa e resposta parcial) e controle (doença estável) do<br />

CHC foi significativamente mais alta e com relevância estatística nos pacientes tratados<br />

com DC-Beads. A diferença mais significativa foi encontrada nos subgrupos de pacientes<br />

com PS 1 (CHC avançado) e classificação de Child B onde os pacientes apresentaram um<br />

controle do CHC em 63% e 32% quando tratados com quimioembolização com DC-Beads<br />

e com quimioembolização convencional respectivamente (LAMMER et al. 2010). No nosso<br />

estudo foi possível também obter resposta tumoral significativa nos pacientes com CHC<br />

avançado tratados com DC-Beads. Dos 8 pacientes portadores de CHC avançado 1<br />

paciente apresentou resposta completa, 4 pacientes apresentaram resposta parcial, 2<br />

pacientes apresentaram doença estável e 1 paciente apresentou progressão de doença<br />

nos exames de imagem de 6 meses de acompanhamento. 4 pacientes faleceram em 1<br />

ano, 2 pacientes faleceram em 2 anos e 2 pacientes continuam vivos em<br />

acompanhamento<br />

39


6- Conclusões<br />

Em conclusão, este estudo mostra a eficácia e a segurança da realização de<br />

quimioembolização com DC-Beads carregadas com doxorrubicina na obtenção de controle<br />

local (doença hepática) em pacientes portadores de CHC com estadiamento B ou C. Esta<br />

microesfera utilizada neste estudo representa uma nova forma de realizar o tratamento já<br />

estabelecido que é a quimioembolização e possui o potencial de se tornar a modalidade<br />

padrão de tratamento para o hepatocarcinoma nesses pacientes. Porém, estudos<br />

randomizados fase III são necessários para comprovar o benefício clinico desta nova<br />

abordagem, garantir uma seleção adequada de pacientes e de estabelecer a melhor forma<br />

e método de imagem para avaliação de resposta ao tratamento.<br />

40


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45


9 - ANEXO A: Estadiamento BCLC do Hepatocarcinoma<br />

Precoce (0) Tumor único menor que 2,0 cm. Ausência de Hipertensão<br />

Portal. Child A.<br />

Inicial (A) 3 tumores menores que 3,0cm ou 1 tumor menor que 5,0 cm.<br />

Child A e B<br />

Intermediário (B) Múltiplos tumores hepáticos. PS 0. Ausência de doença extra<br />

hepática. Child A e B. Ausência de invasão portal.<br />

Avançado (C) Doença extra-hepática. PS 1 a 2. Child A e B. Invasão portal.<br />

Terminal (D) PS > 2. Child C.<br />

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