Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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natureza, mas em vez disso na relação com outros homens e com a<br />
relação práctico-productiva deles com a natureza. A relação produtiva<br />
Homem-Natureza torna-se nas medidas da exploração objeto e uma<br />
relação Homem-Homem, é submetida a essa ordem e a essa lei e com isso<br />
"desnaturada" do estado "natural"[nenhum átomo de matéria natural entra,<br />
segundo Marx, na objetividade do valor], para a partir daí realizar-se<br />
segundo a lei de formas de mediação, que significam a afirmação de sua<br />
negação. Esta negação é, como já dissemos, ela mesma de caráter prático,<br />
é a prática da apropriação nesta relação homem-homem. Eu sustento que a<br />
praxis da apropriação nesta relação é a origem histórica real dos modos da<br />
identidade, do ser-aí e da forma-coisa ou coisicidade (de tal modo que em<br />
primeiro lugar não é a "reificação", mas já a própria "coisa" que constitui<br />
uma modalidade de exploração).<br />
Tomemos como exemplo uma relação de exploração da forma mais<br />
primitiva. Um povo submete um outro, para viver do produto excedente<br />
desse outro povo. O resultado é que na parte explorada surge uma<br />
produção sem consumo, e na parte exploradora um consumo sem<br />
produção, portanto o nexo material necessário entre produção e consumo<br />
em sua forma de até então é rasgado. Mas a parte exploradora não pode<br />
viver da apropriação, se seu consumo não for produzido. O nexo rasgado<br />
precisa portanto ser recomposto em outra forma, exatamente na forma de<br />
um nexo entre as duas partes humanas da relação de domínio. A<br />
exploração transforma o nexo vital necessário entre produção e consumo<br />
em outro entre homens, portanto nexo social. Ela produz o nexo entre<br />
produção e consumo na esteira de uma articulação do ser-aí [existência]<br />
dos homens entre si. Esta articulação do ser-aí operada pela exploração<br />
dos homens é aquilo que eu denomino socialização funcional, e distingo de<br />
todas as formas de comunidade natural. A socialização funcional é negação<br />
da natural, rasga-a até sua dissolução completa, de modo que a seguir<br />
domina só a socialização funcional e assume a forma da produção de<br />
mercadorias, que transforma em apropriação recíproca a apropriação<br />
unilateral vigente até então. O trabalho é despojado de seu caráter social<br />
original, natural, e em seu lugar entra o nexo da troca dos produtos do<br />
trabalho como mercadorias. No caminho dessa socialização funcional feita<br />
pelos homens, no caminho de sua origem, do lento aprofundamento<br />
persistente até ao domínio final exclusivo, deve-se buscar a origem dos<br />
caracteres fundamentais da forma mercadoria - identidade, ser-aí e<br />
coisicidade.<br />
O modo de identidade de quem é lá, portanto, é originalmente unidade na<br />
relação de exploração, para ela indispensável e constitutivo; pois o ato de<br />
apropriação do explorador "abstrai" o produto do produtor, "reifica" assim o<br />
produto humano, neutraliza-o em coisa, fixa-o como algo acabado, ser<br />
tomado da mão do produtor, que agora é produto na mão do explorador,