Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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medidas conceituais) legitimou a emasculação. Daí se deduz o direito<br />
histórico do marxismo, da "arma da crítica" ao direito da "crítica das armas".<br />
Que o portador da ideologia criticada não está em condição de aceitar a<br />
crítica ele mesmo, nem de levá-la adiante, porque ele para isso deveria<br />
pular por cima de sua própria sombra, isso não constitui objecção nenhuma<br />
contra o princípio. Pois o princípio é importante por fundamentos totalmente<br />
outros. O postulado da crítica marxista da ideologia como crítica da verdade<br />
não tem o sentido de declarar a discussão da ideologia como finalidade<br />
máxima do marxismo. A finalidade permanece sempre a transformação<br />
prática do ser humano. Mas eu bem argumento que a possibilidade<br />
metodológica do esclarecimento crítico da ideologia é o critério para que<br />
também a própria análise do ser social seja levada adiante<br />
satisfatoriamente, mesmo lá onde não se trata em primeiro lugar de crítica<br />
da ideologia, como na economia. Eu penso portanto, que por exemplo a<br />
análise das relações capitalistas de produção não se articula<br />
suficientemente para ela mesma, enquanto a partir de seus instrumentos<br />
conceituais (algo assim como a análise da forma mercadoria e da relação<br />
de valor) não se pode sempre alcançar, ao mesmo tempo, a crítica plena da<br />
verdade do idealismo burguês. Se a crítica económica do capitalismo não<br />
faz justiça a esse critério, então tampouco fará justiça também em qualquer<br />
lugar às tarefas da transformação do ser social. No sentido social, ela<br />
deixará restos opacos em seu entendimento da história. Ambas as coisas<br />
condicionam-se reciprocamente. A economia não pode estar afinada, se em<br />
sua construção não estiver à disposição a liquidação crítica do ponto de<br />
vista idealista, e esta liquidação não pode ser completa enquanto a análise<br />
económica não estiver sobre os pés certos.<br />
Essa oposição é importante, porque ela designa simplesmente a relação,<br />
na qual o materialismo dialético da histórias faz seu trabalho de<br />
reconhecimento. A relação encontra-se expressa na frase de Marx de que<br />
não é a consciência que determina o ser, mas o ser social dos homens que<br />
determina sua consciência. Pois esta frase deve-se tomar em seu sentido<br />
literal: ela define o "ser social" e a "consciência" pela relação de ambos<br />
entre si que ela afirma. O ser social, prescindindo da consciência, não é<br />
nada ou, mais precisamente, não é nada senão a aparência fetichística de<br />
pura facticidade; e a consciência do ser social não é também nada ou, mais<br />
precisamente, é a aparência fetichística correspondente do "sujeito<br />
transcendental". Ao contrário, a "consciência" é aquilo, que vem<br />
determinado pelo ser social, e o ser social é aquilo, que a consciência dos<br />
homens determina. É a partir dessa relação que ambos têm sua realidade<br />
histórica e dialética.<br />
Isso determina também a relação do marxismo com o problema da<br />
verdade. O marxismo não se dirige por si à história ou ao "ser" com a<br />
questão sobre a "verdade". Ainda menos ele forma uma teoria própria da