Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual

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14.04.2013 Views

estão em seu fundamento, ou seja as contradições. Essa recondução possui até finalidade prática: serve à praxis e à mudança prática do ser material. Mas sua mudança em que sentido? E porque é que o ser material do homem deverá ter um "sentido’, uma relação qualquer à "verdade"? Parece-me que seja aqui que se inscreve o problema decisivo para o enfoque do marxismo, juntamente com a questão sobre aquilo que distingue tão fundamentalmente o marxismo de todos os outros métodos. Pois ele não quer colocar esse sentido, essa relação do ser na questão sobre a verdade a partir de si mesmo, nem portanto apresentar ele mesmo uma filosofia ou ontologia. Seu método é totalmente diferente. "Desenvolvemos novos princípios para o mundo a partir dos princípios do mundo." O marxismo se faz colocar a questão da verdade pela história da humanidade; ele a conhece só do fato de que ela aparece na história (e com isso chegou também a ele); ele está na tradição dela e é seu único herdeiro legítimo, porque ele a agarra e toma a iniciativa de levá-la à perfeição crítica. Ele a deixa portanto apresentar-se não para "destruí-la" e lançá-la nas atas como pura "ideologia", mas ao contrário para tornar-se advogado dos projectos que - em seu sinal - se tornaram dependentes dos homens em sua própria história. Ele toma até esses processos (que portanto os próprios homens - não ele - esclareceram para si mesmos) tão mais a sério que os próprios homens, quando ele é seu advogado crítico, a saber por causa da questão da verdade aí levantada. Só na relação dessa crítica o marxismo tem e conhece por sua parte a questão da verdade, portanto sem engolir junto com a questão da verdade uma ideologia a ela ligada. Tudo depende portanto da determinação dessa relação (como nela se encontra o fundamento, porque o marxismo simplesmente não pode ser a colocação de uma nova ontologia e de uma filosofia primeira, mas, como eles dizem, só a "filosofia última"). Na questão sobre essa relação o ponto difícil é porém de novo o problema da validade das ideologias (qual validade lhes cabe): o problema é a relação do caráter de validade da teoria (dito idealisticamente, o "conhecimento") para a praxis do ser humano. Pode-se entrar nessa colocação dos problemas por diversos ângulos. Um é certamente o seguinte: o marxismo é o método da crítica da verdade das ideologias, enquanto ele porém é pura e simplesmente o método de sua determinação genética. Onde se encontra esta original coincidência revolucionária? Se uma ideologia se descobrir marxisticamente em sua determinação, então ela se transforma (em seus próprios conceitos, de acordo com seu próprio sentido, ao mesmo tempo na cabeça de seu autor e portador) em uma alavanca de reviravolta revolucionária do ser. Se ao contrário se empreender o mesmo sociologicamente, então não se cumpre nada semelhante. E enquanto lá a flama da questão da verdade se acende em fogo da revolução do ser, aqui fica de tudo isso só um deplorável montão de cinzas, que deixa ao sociólogo a questão para ele irrespondível, de onde chegou a flama, que de algum modo pode queimar algo em cinza.

Para o marxismo, nisso é também essencial o seguinte: que ele realmente não coloca nada como a determinação genética, ou seja não acrescenta nada às coisas, portanto é pura ciência, e que isso mesmo é a fornalha da crítica revolucionária. Onde se encontra isso? Com a antecipação do conceito da dialética, aqui só se remeteria para adiante o problema com a questão sobre a essência da "dialética". Encontra-se muito mais no fato de que a determinação marxista reconduz ao ser histórico a consciência a respeito de sua questão da verdade, os conceitos sobre seu caráter de validade. E é aqui primeiro que se constitui seu caráter dialético, pois aqui se encontra simplesmente todo o problema da dialética (conjuntamente com a razão de porque ela não se pode efectuar). Eu vejo portanto na explicação genética da validade do conhecimento também a base da distinção do materialismo marxista daquele burguês e do empirismo. Pois ela é de fato a mesma base que do porque na redução burguesasociológica o "ser" se torna facticidade crua, enquanto na redução marxista estabelece seu caráter como praxis material, na qual a criticada exigência de verdade se transforma em energia revolucionária. Como eu atribuo um valor decisivo a esse caráter da crítica marxista da ideologia - ou seja de que ela é essencialmente crítica da verdade da ideologia -, quereria demorar-me ainda um momento adicional, para estabelecer esse nexo tão claro quanto possível. A exigência que eu faço ao marxismo, da qual segundo minha finalidade ele deve fazer justiça, chega ao ponto que as análises de um determinado ser histórico e social devem resultar em um nexo completo de derivação das ideologias que lhe pertencem, até em suas estruturas lógicas e portanto até seu conceito de verdade. As ideologias são, por um lado, falsa consciência, mas por outro lado elas são necessariamente condicionadas como tal falsa consciência em si, bem como também geneticamente. Nesse necessário condicionamento encontram-se o problema da verdade da consciência e o problema da crítica marxista das ideologias. Sim, eu quereria avançar ainda mais e dizer que nesse condicionamento necessário das ideologias está situado o problema todo das logicidade da consciência como conhecimento humano. O problema não está no fato de que a consciência seja sempre em certo sentido invertida, mas no fato de que essa consciência invertida, se ela estiver necessariamente invertida, contem a questão da verdade. A dedução marxista de uma ideologia a partir do ser social se alcança primeiro satisfatoriamente quando ela leva a discutir imanentemente com a ideologia em questão. Até mesmo por isso o método marxista se distingue do burguês-sociológico. Pois este não argumenta em suas tentativas genéticas com a ideologia tratada como que em qualidade de paciente. Ao contrário, a crítica marxista fala por dentro da cabeça ideológica, não ao lado dela nem por fora dela. Aqui o portador de uma ideologia é emasculado, depois que a crítica de sua ideologia (segundo suas próprias

estão em seu fundamento, ou seja as contradições. Essa recondução<br />

possui até finalidade prática: serve à praxis e à mudança prática do ser<br />

material. Mas sua mudança em que sentido? E porque é que o ser material<br />

do homem deverá ter um "sentido’, uma relação qualquer à "verdade"?<br />

Parece-me que seja aqui que se inscreve o problema decisivo para o<br />

enfoque do marxismo, juntamente com a questão sobre aquilo que<br />

distingue tão fundamentalmente o marxismo de todos os outros métodos.<br />

Pois ele não quer colocar esse sentido, essa relação do ser na questão<br />

sobre a verdade a partir de si mesmo, nem portanto apresentar ele mesmo<br />

uma filosofia ou ontologia. Seu método é totalmente diferente.<br />

"Desenvolvemos novos princípios para o mundo a partir dos princípios do<br />

mundo." O marxismo se faz colocar a questão da verdade pela história da<br />

humanidade; ele a conhece só do fato de que ela aparece na história (e<br />

com isso chegou também a ele); ele está na tradição dela e é seu único<br />

herdeiro legítimo, porque ele a agarra e toma a iniciativa de levá-la à<br />

perfeição crítica. Ele a deixa portanto apresentar-se não para "destruí-la" e<br />

lançá-la nas atas como pura "ideologia", mas ao contrário para tornar-se<br />

advogado dos projectos que - em seu sinal - se tornaram dependentes dos<br />

homens em sua própria história. Ele toma até esses processos (que<br />

portanto os próprios homens - não ele - esclareceram para si mesmos) tão<br />

mais a sério que os próprios homens, quando ele é seu advogado crítico, a<br />

saber por causa da questão da verdade aí levantada. Só na relação dessa<br />

crítica o marxismo tem e conhece por sua parte a questão da verdade,<br />

portanto sem engolir junto com a questão da verdade uma ideologia a ela<br />

ligada. Tudo depende portanto da determinação dessa relação (como nela<br />

se encontra o fundamento, porque o marxismo simplesmente não pode ser<br />

a colocação de uma nova ontologia e de uma filosofia primeira, mas, como<br />

eles dizem, só a "filosofia última"). Na questão sobre essa relação o ponto<br />

difícil é porém de novo o problema da validade das ideologias (qual<br />

validade lhes cabe): o problema é a relação do caráter de validade da teoria<br />

(dito idealisticamente, o "conhecimento") para a praxis do ser humano.<br />

Pode-se entrar nessa colocação dos problemas por diversos ângulos. Um é<br />

certamente o seguinte: o marxismo é o método da crítica da verdade das<br />

ideologias, enquanto ele porém é pura e simplesmente o método de sua<br />

determinação genética. Onde se encontra esta original coincidência<br />

revolucionária? Se uma ideologia se descobrir marxisticamente em sua<br />

determinação, então ela se transforma (em seus próprios conceitos, de<br />

acordo com seu próprio sentido, ao mesmo tempo na cabeça de seu autor<br />

e portador) em uma alavanca de reviravolta revolucionária do ser. Se ao<br />

contrário se empreender o mesmo sociologicamente, então não se cumpre<br />

nada semelhante. E enquanto lá a flama da questão da verdade se acende<br />

em fogo da revolução do ser, aqui fica de tudo isso só um deplorável<br />

montão de cinzas, que deixa ao sociólogo a questão para ele irrespondível,<br />

de onde chegou a flama, que de algum modo pode queimar algo em cinza.

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