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Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual

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Em outras palavras, ambas as partes, o conceito exato da natureza e a<br />

idéia do mecanismo, enraízam-se no mesmo lugar de origem: na abstração<br />

primária da troca. Sua coincidência portanto não propõe absolutamente<br />

nenhum enigma; ao contrário eu posso reclama-los como testemunhas<br />

adicionais de minha tese da conexão subliminar da ciência exacta da<br />

natureza com a economia do capital produtivo. Subliminar, ou, se se quiser,<br />

transcendental, é este parentesco racial de fato, pois na superfície ambos<br />

são tão difusos e reciprocamente intraduzíveis como, digamos, a definição<br />

econômica do ferro por seu preço e sua definição física por seu peso<br />

atômico, só para mencionar um exemplo banal.<br />

É claro que não se pode ignorar que a ciência da natureza a partir de<br />

meados de nosso século sofreu uma modificação fundamental depois de<br />

um longo período de arranque. A teoria inercial do movimento, a partir de<br />

Einstein, foi desalojada pela teoria electromagnética. Origem da mudança é<br />

que a era do ferro e das máquinas se transformou na era atômica na<br />

medida em que se cumpria o postulado do automatismo, e nós perfazemos<br />

uma mudança correspondente das forças produtivas da mecânica e do<br />

trabalho assalariado àquelas da eletrônica e da automação.<br />

9. Anotações conclusivas<br />

A revolução do capitalismo comercial da renascença à época do capitalismo<br />

produtivo aconteceu nos séculos 16 e 17 e completou-se pela transição dos<br />

meios de produção: da propriedade do trabalhador, camponês autônomo e<br />

artesão, a propriedade do capital. "O processo que cria a relação capitalista<br />

[na produção, S.-R.], não pode ser outra coisa que o processo de<br />

separação do trabalhador da propriedade de suas condições de trabalho,<br />

um processo que, por um lado, transforma os meios sociais de vida e de<br />

produção em capital, por outro, os produtores imediatos em trabalhadores<br />

assalariados", assim diz Marx (MEW, 23, p.742). Ou, expresso em minhas<br />

categorias: o processo, pelo qual a produção social vem transformada de<br />

uma conexão segundo a lógica da produção em uma conexão segundo a<br />

lógica da apropriação. Mas como é que uma tal conexão é internamente<br />

possível, como pode ela funcionar em sua flagrante contraditoriedade? O<br />

processo descrito por Marx realiza uma sociedade que em sua totalidade e<br />

até em cada unidade específica não consta de nenhuma outra atividade<br />

senão da lógica da apropriação e igualmente constitui a época histórica<br />

mais "viciada" em produção e mais dotada de produção. Como é que isso<br />

se junta? Essa é uma pergunta sociológica, e é a pergunta condutora, cuja<br />

resposta deve conter a explicação da ciência exacta da natureza, que Ernst<br />

Cassirer tanto aprecia "de um ponto de vista puramente filosófico".<br />

De fato, o próprio Cassirer dá um primeiro passo importante para esta<br />

explicação através de sua estreita associação da natureza exacta com a<br />

idéia do mecanismo, que citamos acima. Por certo, Cassirer não era nem

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