Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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espírito grego não entrou (tal qual como na objectivização da mercadoria)<br />
"nenhum átomo de natureza material". É puro formalismo da segunda<br />
natureza e testemunha indiretamente por sua constituição que nos antigos<br />
a forma capital do dinheiro (portanto o funcionalismo da segunda natureza)<br />
permaneceu enfim estéril: ou seja, mesmo libertando o trabalho da<br />
escravidão, contudo não elevou em nenhuma maneira notável a utilização<br />
produtiva da força de trabalho libertada. Isso se pode adivinhar<br />
retrospectivamente já a partir do fato de que no desenvolvimento<br />
helenístico depois de Euclides - portanto em Arquimedes, Eratóstenes, no<br />
legendário Heron, entre outros, em cuja matemática já se tornam evidentes<br />
elementos da abstração do movimento - a aplicação tecnológica, que a eles<br />
se prendeu, permaneceu contudo ao serviço de usos somente militares ou<br />
lúdicos. A mecânica não abandona o espaço da estática, permanece<br />
portanto presa na imobililidade como estado de inércia único. A razão disso<br />
não se pode atribuir exclusivamente à escravização do trabalho, pois<br />
permanece através de toda a Idade Média. Ela permanece igualmente em<br />
um estado de desenvolvimento da segunda natureza naquelas formas de<br />
capital, que podem bem extrair utilidade do estado existente das coisas,<br />
mas não conseguem intervir nelas de maneira radicalmente diferente.<br />
A atividade de pesquisa deve separar-se dos interesses industriais, em<br />
inviolável independência e segregação, para poder-lhes servir. Sendo que<br />
(conforme a divisão industrial de trabalho dominante do modo de produção<br />
capitalista) o postulado de qualquer empreendimento produtivo está<br />
estritamente sujeito a sua diferenciação como divisão do trabalho, sua<br />
pesquisa deve acontecer nas categorias fundamentais da abstração social<br />
primária. O postulado específico levantado em função de um processo<br />
concreto da natureza assume a forma de uma hipótese matemática de<br />
pesquisa: essa tem o teor de uma causalidade entre uma equação<br />
funcional e seu valor numérico, e deve ser comprovada por um teste<br />
experimental em sua realidade objectiva. Se ainda supomos que a forma<br />
intelectual de reflexão da abstração primária é igual aos conceitos da razão<br />
pura, então temos de consequência, com validade geral e realidade<br />
objectiva, as propriedades conjuntas de ambos, que segundo Kant dão o<br />
caráter rigorosamente científico a uma atividade de pesquisa.<br />
Uma olhada a Galileu pode confirmar este ponto de vista. O que era<br />
fundamentalmente novo em sua maneira de pensar perante o ponto de<br />
vista do trabalho <strong>manual</strong> de seus predecessores, foi que ele escolhia seu<br />
ponto de vista de antemão no terreno do movimento. Isso separou-o do<br />
ponto de vista do artesão, fez que ele concebesse o movimento como<br />
condição do ser, lado a lado com o estado de imobilidade, portanto ambos<br />
igualmente inerciais. Ele fundou e firmou esta concepção através de suas<br />
pesquisas sobre o movimento da queda dos corpos graves, "de motu<br />
gravium", que ele empreendeu ainda em Pisa em 1590, portanto antes de