Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
duplicação de cubos, enfim também a medida da grandeza p , que em<br />
Ahmes se encontra dada como 3,1604. É natural que com estas técnicas se<br />
tratasse só de aproximações, mesmo que às vezes algumas fossem<br />
assombrosamente consideráveis, mas os práticos dessa "geometria"<br />
considerariam talvez pura pedanteria uma exigência de "precisão<br />
matemática" (se tal conceito existisse). O manejo da arte da corda era uma<br />
prática do medir, nada mais, mas uma arte destinada a grandes feitos, até<br />
maiores que a dos gregos, mesmo que não de maior rendimento. Ela<br />
encontrou acolhida, com toda probabilidade, também na antiga Índia, onde<br />
o mais antigo tratado de geometria traz exatamente o título de Arte da<br />
Corda. Sobre este fundamento, por dois milênios ou mais desenvolveu-se<br />
ai, articulada com a técnica índia dos números, uma arte e conhecimento<br />
da geometria e da aritmética, que ao lado da grega causou espanto na<br />
Europa, quando os árabes desde o século 8 e 9 começaram a se refazer às<br />
tradições islâmicas de ambos. A esta herança da tradição deveria<br />
acrescentar-se o saber da China e do Extremo Oriente, pelo menos<br />
igualmente antigo e maduro, conforme as pesquisas de Joseph Needham.<br />
Eu bem quereria, desde meu ponto de vista, colocar no mesmo plano com<br />
a matemática criada pelos Gregos tradições da idade do bronze ou até<br />
mais antigas. Perante os Egípcios, os Gregos trocaram o instrumentário da<br />
corda por aquele da linha e do círculo e assim mudaram tão<br />
fundamentalmente a essência da arte da medida até então vigente, que<br />
algo complemente novo surgiu dai: justamente a Matemática em nosso<br />
sentido. A arte da corda era uma habilidade <strong>manual</strong>, que só podia ser<br />
exercida por seus práticos no lugar mesmo do procedimento da medida.<br />
Isolada disso, ela perdia seu sentido. Sem uma cuidadosa e atenta<br />
organização, ela não deixava nenhuma representação autônoma de seu<br />
conteúdo geométrico. A corda era movimentada a cada procedimento de<br />
medir, a cada "medida", perseguindo a tarefa de um lugar para outro, de<br />
maneira que não surgia imediatamente nada assim como uma<br />
"representação geométrica". A geometria da tarefa resolvia-se em seu<br />
resultado prático, que por sua vez só dizia respeito ao caso em pauta.<br />
Certamente devia-se ensinar e indicar aos "harpedonaptes", para sua<br />
formação, o repetitivo de suas técnicas, e algo disso está representado em<br />
Ahmes como se fossem leis geométricas. Contudo, é bem um reflexo de<br />
nossas próprias representações, se historiadores como M.Cantor, Heath,<br />
D.E.Smith e outros presumem que ao livro de exercícios de Ahmes tenha<br />
precedido um verdadeiro tratado, pelo qual se deveria procurar.<br />
Foram os gregos que inventaram os instrumentos da representação<br />
geométrica: estes não consistiram de cordas estendidas, mas de linhas, as<br />
quais, puxadas ao longo da régua ou com o círculo, permaneciam sobre a<br />
base, constituindo com outras linhas semelhantes uma conexão duradoura,<br />
na qual se podiam reconhecer regularidades geométricas de necessidade