Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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matemática constitui uma disciplina sem contradições, rigorosamente<br />
dedutiva, a qual, com base em determinados axiomas e postulados,<br />
promete resultados inequívocos. Seu ofício é a diferenciação das<br />
grandezas, que se pode definir em números. Esta modalidade de<br />
matemática é criação dos gregos e remonta aos séculos sétimo e sexto<br />
antes de Cristo. Os primeiros nomes a ela associados são Tales e<br />
Pitágoras. O primeiro, é de cerca de duas gerações após a primeira<br />
cunhagem de moeda acontecida na Lídia e no Iônio ao redor do ano 630,<br />
pelos milesianos que actuavam no Iônio, fato com o qual tem seu começo<br />
geral o pensamento conceitualmente reflexo; o segundo, foi natural de<br />
Samos, mas por volta do ano 540 emigrou de lá para a Itália do Sul, onde<br />
ele mesmo foi provavelmente responsável pela criação de uma moeda. Ele<br />
pôs números diretamente iguais à natureza das coisas. Mileto e Samos<br />
tinham crescido até formar, no Egeu da época, os dois principais centros<br />
rivais de atividades comerciais. Como testemunha a cunhagem de moeda<br />
(evidentemente uma economia mercantil desenvolvida e avançada), a<br />
manifestação lógico-dedutiva da matemática pode-se considerar como<br />
coetânea da produção mercantil como um todo, independentemente de<br />
suas mutações. Hoje, conforme a atual transformação de sua<br />
instrumentação por sua mecanização eletrônica, esta matemática não se<br />
torna certamente a última forma de suas manifestações. Muito menos foi<br />
ela a primeira.<br />
A criação grega foi precedida principalmente no Egito por uma forma<br />
distinta de "matemática". Em quase toda a atividade de construção, alguma<br />
arte de medir prestava uma ajuda indispensável: a essa arte Heródoto deu<br />
o nome de geometria, por seu uso em medir o terreno. Ela se servia porém<br />
da corda como instrumento principal e constituía a profissão pessoal de<br />
gente que o grego, traduzindo conforme sua denominação industrial<br />
egípcia, denomina de "harpedonaptes" (literalmente: "esticador de corda").<br />
Nesse nome, conforme nota já Burnet, expressa-se mais semelhança com<br />
nossa jardinagem que com nossa matemática. Do livro de ensino ou de<br />
exercícios de Ahmes, encontrado no papiro Rhind, bem como de outras<br />
representações egípcias em relevo, torna-se claro que esses estendedores<br />
de corda, em geral trabalhando em pares, eram agregados dos mais altos<br />
oficiais faraónicos para a finalidade da construção de templos e pirâmides,<br />
do departamento da pavimentação de diques de irrigação, da construção e<br />
controle de armazéns, da redistribuição de terrenos reemersos das<br />
inundações do Nilo para estabelecer as tarefas de fornecimento do ano<br />
seguinte e outras funções semelhantes. Se o uso e manejo da corda eram<br />
exercidos com a correspondente virtuosidade e com os conhecimentos de<br />
longa experiência, pode-se pensar que não haja muitos problemas<br />
geométricos, que não se possam superar procedendo a medi-los com tais<br />
instrumentos. Entre esses encontravam-se também problemas como a<br />
tripartição dos ângulos, a ampliação e redução de volumes, inclusive a