Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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conseqüentemente deve-se poder indagar como ela é possível. Esta era a<br />
forma de argumentação de Kant, e a mesma argumentação se torna<br />
necessária para o histórico-materialista, se ele se der bastante conta de<br />
quão essencial e inseparavelmente, por exemplo, a separação do trabalho<br />
<strong>espiritual</strong> da ciência natural em relação com o trabalho <strong>manual</strong> proletário<br />
está relacionada com a hegemonia econômica do capital sobre a produção.<br />
A hegemonia econômica não poderia ser exercida pelo capital, se a<br />
tecnologia fossa coisa dos trabalhadores. Portanto, o problema do<br />
conhecimento na formulação kantiana se coloca no terreno do materialismo<br />
histórico induzido por Hegel; não, por assim dizer, Kant ou Hegel, e sim<br />
Kant na moldura de Hegel. Na verdade não se trata nem de um nem de<br />
outro, e sim das formas de aparecimento do trabalho <strong>espiritual</strong> e de sua<br />
separação do trabalho <strong>manual</strong>, como problema parcial históricomaterialista.<br />
Sublinhe-se que o problema parcial é de uma significação, que para nós no<br />
momento atual cresce enormemente. Quem no dia de hoje falar em<br />
revolucionar a sociedade, em transformar o capitalismo em socialismo e<br />
porventura na possibilidade de uma ordem comunista, sem saber como a<br />
ciência e a técnica científica se inserem na sociedade, de onde elas<br />
provem, de que natureza e origem é sua forma conceptual, como portanto a<br />
sociedade deve dominar o desenvolvimento da ciência em vez de ser por<br />
ele dominada e subjugada, ele se expõe à censura da absurdidade. Nas<br />
teorias existentes do conhecimento porém as formas dos conceitos do<br />
trabalho <strong>espiritual</strong> científico e filosófico não se concebem de maneira<br />
nenhuma como fenômeno histórico. Ao contrário. A forma conceptual do<br />
modo de pensar das ciências da natureza assinala-se em geral pela atemporalidade<br />
histórica de seu conteúdo. Nas teorias do conhecimento<br />
aceita-se essa a-historicidade como fundamento dado. Uma explicação<br />
histórica da origem é declarada como impossível ou sem mais nem sequer<br />
se menciona. Certo, nas teorias do conhecimento o pensamento das<br />
ciências naturais de uma ou outra época não é avaliado como fenômeno do<br />
trabalho <strong>espiritual</strong>, o qual deve estar em uma relação social determinada de<br />
separação do trabalho <strong>manual</strong> de dado tipo. Tais parâmetros de<br />
pensamento pertencem ao materialismo histórico, mas até o momento não<br />
foram explorados para a crítica da teoria do conhecimento, para a qual eles<br />
possuem capacidade. Isso deve ser empreendido nesta pesquisa, no<br />
convencimento que uma teoria fundamental da história do trabalho<br />
intelectual e do trabalho <strong>manual</strong> contribuiria para o complemento essencial<br />
e a continuação dos conhecimentos marxistas.<br />
O modo como temos que proceder, portanto a metodologia da coisa, bem<br />
devia pertencer a este ponto preliminar. De fato, porém, ela sempre<br />
primeiro se aplica e pressupõe que já se chegou a resultados críveis.<br />
Primeiro, torna-se evidente aquilo de que ela deve prescindir. Propor ao