Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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artistas da Renascença, com os quais ele disputa encomendas; em suas<br />
elaborações intelectuais ele está nos rastos de um aparato conceptual, que<br />
ele possa utilizar para experimentar com alavancas, com relações de<br />
equilíbrio de massas pesadas, com a superfície inclinada e as leis da queda<br />
livre. Mas ele fica na experimentação; nenhures visa ele o trasbordamento<br />
para fórmulas conceituais das próprias leis. Em vez de precisações<br />
textuais, ele se ajuda com desenhos, que deveriam ser desenhos técnicos<br />
mas não são. Ele concebe que só a matemática poderia ajudá-lo a chegar<br />
ao fim. Mas para o pensamento matemático lhe falta dom natural, em<br />
contraste com Brunelleschi e Piero, e sobretudo Dürer. Assim ele atolou-se<br />
em seus avanços nas ciências naturais no estágio rapsódico do quase<br />
alcançado. Em seus últimos anos de vida junto ao Rei Francisco I de<br />
França, ele mesmo lamentou tranquilamente ter perdido tanto tempo para a<br />
sua arte.<br />
Em geral, podemos dizer que a visão da natureza dominante em uma<br />
época depende normativamente da estrutura do producente, ou, digamos,<br />
da figura determinada que vale como producente perante seus<br />
contemporâneos. Isso encontra confirmação no século 16, século da<br />
passagem da renascença à idade moderna.<br />
A experiência fundamental do producente <strong>manual</strong> consiste em que, quando<br />
o trabalho cessa porque sua obra está completa, entra o estado de ócio.<br />
Não é o conceito estático inercial da natureza das coisas que constitui o<br />
problema para estes producentes, e sim o uso da força ou o ímpeto, que o<br />
trabalho exige delas para seu impulso durante sua duração: um impulso<br />
que eles, como propriedade inerente, transferem aos fenômenos de<br />
movimento da natureza.<br />
Isso soa como uma ingênua expressão grosseira das discussões subtis que<br />
Michael Wolff dedicou à teoria do ímpeto em suas pesquisas de quase<br />
4000 páginas. Mas é ele mesmo quem sublinha também que a teoria do<br />
ímpeto, como ele diz, está acoplada com uma "causalidade de transmissão"<br />
e sobretudo que esta teoria não se pode fundamentar a partir do âmbito do<br />
objeto da experiência, nem pelo caminho da percepção sensível, nem por<br />
aquele da argumentação conceptual.<br />
Em outras palavras: a teoria do ímpeto é um antropomorfismo artesanal do<br />
movimento. A teoria do ímpeto pertence à religião do trabalhador da<br />
construção e do artesão <strong>manual</strong>, que na idade média europeia tomaram o<br />
lugar dos antigos escravos. Uma tal "teoria" só pode ser aceitável em uma<br />
época em que os problemas da mecânica, por assim dizer, são superados<br />
com as mãos em vez que com a cabeça, ou seja com os meios da praxe<br />
<strong>manual</strong>, não sendo resolvidos com os instrumentos do pensamento<br />
teorético. Então um argumento técnico apoia-se em um exemplo<br />
precedente de referência em vez que em uma regularidade comprovada.