Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual

Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual

ideiaeideologia.com
from ideiaeideologia.com More from this publisher
14.04.2013 Views

Em 1434, portanto ainda na vida de Brunelleschi, chegou a Florença outra personalidade extraordinária, Leon Battista Alberti, que percorreu o caminho no sentido inverso, trazendo a formação aos artistas. Alberti vinha de uma família nobre de origem florentina, que tinha sido exilada e tinha alcançado bem estar na França. Mas em 1428 Florença levantou o banimento, abrindo assim o caminho para Leon Battista. Esse tinha completado em Pádua o ginásio medieval com o Trívio e o Quadrívio e em Bologna concluiu seu estudo universitário. Era tudo menos um prático do artesanato, muito mais um típico intelectual. Mas com isso juntava-se nele uma forte vocação artística. Alberti dirigiu seus interesses espirituais à arte como objeto especial. Com seus 12 ou 14 livros, que ele escreveu em Florença, tornouse ele o primeiro celebre teórico da arte e da técnica artesanal em toda Itália. Aliás Leon Battista era também um grande espadachim, brilhante cavaleiro e lutador atlético. Não espanta que Jacob Burckhard o venerasse como figura ideal dos homens da Renascença. Para começar, Alberti foi ao atelier dos artistas, a Brunelleschi, Donatello, Michelozzo, Ghiberti, Luca della Robbia, tornou-os seus amigos e empreendeu a transmitir-lhes em repetições pacientes os elementos da perspectiva e os conceitos iniciais da matemática, as leis da ciência das cores, da fundição de metais e da anatomia humana. Não era pouca coisa, pois devia ser feita em língua vulgar, na qual tais coisas nunca tinham sido expressadas: ela portanto não possuía as palavras necessárias, nem estava ainda clara em sua gramática. Como se pode ensinar a um produtor manual o que é um ponto matemático, que não é nem mancha nem nódoa, e sim um conceito puramente abstrato, absolutamente invisível? Algo como 100 anos mais tarde Albrecht Dürer experimentou as mesmas dificuldades em Nürnberg. Alberti, por sua vez, com sua atividade com os artistas ganhou a experiência e os conhecimentos, que ele expressou bem em seus escritos. Esses ele redigiu em geral em latim e em uma língua toscana escrita, que ele mesmo tinha que criar. Dos escritos de Alberti - então ainda manuscritos - alguns andaram perdidos. Os que restam são: De pictura (Della pittura): sobre a pintura De statua: sobre a figura humana e suas articulações ósseas, dedicado a Donatello Dell'architettura: com dedicação a Brunelleschi Ludi mathematici: jogos com a matemática, uma obra pequena, mas muito lida

De re edificatoria: incompleto; obra que resume enciclopedicamente, planejada como substituto para o incompreensível Vitrúvio La cura della famiglia: o cuidado da família finalmente Regulae della lingua toscana: gramática e léxico. Esse escrito mencionado no fim era a primeira elaboração filológica da língua vulgar e prestou serviços muito preciosos em seu desenvolvimento como língua escrita e cultural. Ao mesmo tempo Alberti perdeu a batalha para a língua vulgar e seu reconhecimento ao par do latim em Florença. A permanência do latim era expressão da permanência da maneira de pensar escolástica e da pedanteria, portanto um empecilho para a tendência emancipativa, da qual se nutria a renascença. Não há dúvida de que a tendência de longo prazo dessa época ia no sentido da valorização da língua vulgar, e o próprio Alberti conjurava com entusiástica esperança neste sentido, animado pelas experiências de sua comunidade cultural com os artistas. Diretamente contrário a isso era no Quattrocento o movimento do humanismo, que acompanhava a revitalização - literalmente renascença - dos antigos e de seus escritos. Uma onda de animação, pura e menos pura, mas assim mesmo afectada, animação para o grego e o latim, cresceu disso nos círculos dos formados, sobretudo dos poetas, acoplada com uma fuga depreciativa da língua vulgar e de sua apreciação. Mas Alberti estava tão convencido da alta chance da língua vulgar, que no ano de 1441 ousou fazer uma experiência para sua igualação com a língua nobre latina. Cosimo I partilhou sua avaliação e planejou tornar o toscano língua culta. Através de Piero de Medici, filho de Cosimo, ele fez anunciar um concurso, que consistia no seguinte: em um dado dia - 22 de outubro de 1441 - seria lida publicamente na catedral uma série de poesias em língua vulgar sobre o tema "de amicitia". O vencedor devia ganhar uma coroa de prata, o que atribuiu ao concurso o nome de "certamen coronarium". A coisa tornou-se logo assunto de estado, e os humanistas e literatos, que cuidavam de apresentar suas poesias na catedral, acrescentando-se muitos populares, mas também a Signoria - o Governo -, o arcebispo e a alta espiritualidade, bem como 10 poetas (dentre os quais Poggio, Flavio Biondo e Aurista contavam entre os humanistas mais produtivos) encheram o auditório. Mas a tendência do público contra a língua vulgar e para o privilégio do latim revelou-se tão preponderante, que nem se chegou à

Em 1434, portanto ainda na vida de Brunelleschi, chegou a Florença outra<br />

personalidade extraordinária, Leon Battista Alberti, que percorreu o caminho<br />

no sentido inverso, trazendo a formação aos artistas. Alberti vinha de uma<br />

família nobre de origem florentina, que tinha sido exilada e tinha alcançado<br />

bem estar na França. Mas em 1428 Florença levantou o banimento, abrindo<br />

assim o caminho para Leon Battista. Esse tinha completado em Pádua o<br />

ginásio medieval com o Trívio e o Quadrívio e em Bologna concluiu seu<br />

estudo universitário. Era tudo menos um prático do artesanato, muito mais<br />

um típico intelectual. Mas com isso juntava-se nele uma forte vocação<br />

artística. Alberti dirigiu seus interesses espirituais à arte como objeto<br />

especial. Com seus 12 ou 14 livros, que ele escreveu em Florença, tornouse<br />

ele o primeiro celebre teórico da arte e da técnica artesanal em toda<br />

Itália. Aliás Leon Battista era também um grande espadachim, brilhante<br />

cavaleiro e lutador atlético. Não espanta que Jacob Burckhard o venerasse<br />

como figura ideal dos homens da Renascença.<br />

Para começar, Alberti foi ao atelier dos artistas, a Brunelleschi, Donatello,<br />

Michelozzo, Ghiberti, Luca della Robbia, tornou-os seus amigos e<br />

empreendeu a transmitir-lhes em repetições pacientes os elementos da<br />

perspectiva e os conceitos iniciais da matemática, as leis da ciência das<br />

cores, da fundição de metais e da anatomia humana. Não era pouca coisa,<br />

pois devia ser feita em língua vulgar, na qual tais coisas nunca tinham sido<br />

expressadas: ela portanto não possuía as palavras necessárias, nem<br />

estava ainda clara em sua gramática. Como se pode ensinar a um produtor<br />

<strong>manual</strong> o que é um ponto matemático, que não é nem mancha nem nódoa,<br />

e sim um conceito puramente abstrato, absolutamente invisível? Algo como<br />

100 anos mais tarde Albrecht Dürer experimentou as mesmas dificuldades<br />

em Nürnberg.<br />

Alberti, por sua vez, com sua atividade com os artistas ganhou a<br />

experiência e os conhecimentos, que ele expressou bem em seus escritos.<br />

Esses ele redigiu em geral em latim e em uma língua toscana escrita, que<br />

ele mesmo tinha que criar.<br />

Dos escritos de Alberti - então ainda manuscritos - alguns andaram<br />

perdidos. Os que restam são:<br />

De pictura (Della pittura): sobre a pintura<br />

De statua: sobre a figura humana e suas articulações ósseas, dedicado a<br />

Donatello<br />

Dell'architettura: com dedicação a Brunelleschi<br />

Ludi mathematici: jogos com a matemática, uma obra pequena, mas muito<br />

lida

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!