Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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Piero della Francesca (1414-1493) pintor seguido por Botticelli (1455-1510) Leonardo (cerca de 1452-1519) e Michelangelo (1475-1564). Nesses nomes resume-se a primazia artística original pela qual Florência se tornou cidade cultural representativa da renascença na Europa. Meu interesse particular é para o status estrutural desses homens como produtores manuais, artesãos e artistas. De acordo com a ordem corporativa os artistas eram artesãos manuais e pertenciam às "Arti minori" (artes menores) tanto quanto os tecelões e tintureiros nos ofícios. Eram instruídos em seu treinamento em uma oficina, para alcançar sua formação elementar. Um escultor da categoria de Donatello, de acordo com a corporação dele um simples "taglia pietra" [à letra: cortador de pedra, C.G.G.], um pedreiro como qualquer trabalhador de construção. Decerto ele tinha passado por um treinamento em ourivesaria, como Brunelleschi, Ghiberti, Uccello e outros. Contudo sobre a realização desses artesãos corporativos repousava a construção de sua gloriosa cidade, que a eles pertencia, e a construção da uma igreja, de uma rua, ponte, muro da cidade ou outra parte do enorme programa de construção era um assunto comunal de toda a comunidade urbana - não mais como antes no caso da grande cidade reservada de uma família nobre ou de um bispo como no tempo feudal. Correspondentemente as construções eram agora mais bonitas, arquitectonicamente mais artísticas. Isso dizia respeito sobretudo aos artesãos que se tornaram arquitectos. Foi o caso de Brunelleschi que foi a Roma em 1402, provavelmente com Donatello, para inventariar em seus esboços os restos das construções romanas. Com isso fixaram-se nele os fenômenos da perspectiva e da óptica; para compreendê-los e poder pesquisa-los, porém, faltava-lhe a matemática, cuja utilidade para sua prática em geral ele entendeu. De volta a Florença, colocou-se ele em contacto com Paolo Toscanelli, o mais renomado matemático e astrónomo florentino, amigo de Cusano e Regiomontano. Toscanelli mostrou-se aberto, mas ele cultivava a matemática conforme a escolástica tradicional, longe de qualquer relação com problemas de uma prática da construção como aquela que levou Brunelleschi a ele, da maneira que este colocou o grande cientista em séria confusão. A conjunção da realização manual e da cultura da arquitectura em progresso com o florescimento intelectual da Idade Média, que aconteceu pela primeira vez entre Brunelleschi e Toscanelli, era algo
epresentativo da base da renascença em geral, mas exemplar em Florença. Toscanelli porém descobriu neste discípulo uma vocação marcante para o pensamento matemático e ficou seu amigo e mestre por mais de quarenta anos até a morte dele em 1446. Ele lhe sobreviveu e lhe dedicou uma importante apreciação, na qual expressou sua profunda admiração por esse discípulo, de quem ele julgava de ter recebido mais do que aquilo que ele lhe poderia dar. Brunelleschi compreendeu a colocação de sua própria finalidade no sentido da ciência, mas não como a ciência da antiguidade ou da escolástica medieval; ele a denominou Scienza nuova, ciência nova, e assim a percebeu Galileu ainda duzentos anos depois. O feito mais famoso de Brunelleschi é a construção da cúpula da catedral Santa Maria del Fiore - com razão. Não só porque essa cúpula é a maior e mais pesada até então construída, maior que o Pantheon romano e a Hagia Sophia de Bisâncio (mas também, mais tarde, em comparação com a cúpula de São Pedro em Roma e aquela de São Paulo em Londres), mas porque ele por iniciativa própria e calorosamente discutida a executou sem andaimes internos. Ele começou-a em 1421, e no mesmo ano ele levou à execução o hospital dos Innocenti, o hospício dos florentinos, onde ele fundou o estilo renascentista pelo equilíbrio das linhas verticais com as horizontais. Depois de 1436, com a conclusão da construção da cúpula (embora sem a Lanterna), Brunelleschi esteve ocupado ainda com construção de fortificações em Pisa, em Castel Pisano bem como no vale do Elsa e com a regulação do fluxo do Arno e do Po - o Arno em 1333 tinha transbordado de maneira catastrófica, tal como aconteceu em 1966. Mas como é que se coloca a obra e o exemplo de Brunelleschi na continuação dos artistas em Florença? Como é que eles ultrapassaram a estreiteza dos regulamentos corporativos? O movimento seguinte foi uma virada de direcção, na qual a formação espiritual captou os artistas, desta vez pela iniciativa do sábio em vez da do artista. A apropriação da matemática por parte do mestre, que não deixa de ser produtor manual, fomenta a unidade do trabalho espiritual e corporal, realizada pelo progresso único da renascença. Ela se desenvolveu, em geral, como fruto da emancipação do jugo do feudalismo, empreendimento pelo qual a renascença lutou sobretudo com seu impulso revolucionário. Ela começa portanto como uma ponte sobre o abismo medieval entre os sábios falando latim e o analfabetismo do povo trabalhador. A unidade de trabalho corporal e espiritual desenvolve-se através de toda a renascença e completa-se no momento da passagem da renascença à idade moderna: nesta passagem a unidade transforma-se no novo abismo entre ciência e trabalho industrial assalariado. No desenvolvimento renascentista da unidade de mão e cabeça pode-se perseguir em Florença uma escada levando ao progresso no pensamento matemático de mestre a mestre através do Quattrocento e do Cinquecento.
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Piero della Francesca (1414-1493)<br />
pintor<br />
seguido por Botticelli (1455-1510)<br />
Leonardo (cerca de 1452-1519)<br />
e Michelangelo (1475-1564).<br />
Nesses nomes resume-se a primazia artística original pela qual Florência<br />
se tornou cidade cultural representativa da renascença na Europa. Meu<br />
interesse particular é para o status estrutural desses homens como<br />
produtores manuais, artesãos e artistas.<br />
De acordo com a ordem corporativa os artistas eram artesãos manuais e<br />
pertenciam às "Arti minori" (artes menores) tanto quanto os tecelões e<br />
tintureiros nos ofícios. Eram instruídos em seu treinamento em uma oficina,<br />
para alcançar sua formação elementar. Um escultor da categoria de<br />
Donatello, de acordo com a corporação dele um simples "taglia pietra" [à<br />
letra: cortador de pedra, C.G.G.], um pedreiro como qualquer trabalhador<br />
de construção. Decerto ele tinha passado por um treinamento em<br />
ourivesaria, como Brunelleschi, Ghiberti, Uccello e outros. Contudo sobre a<br />
realização desses artesãos corporativos repousava a construção de sua<br />
gloriosa cidade, que a eles pertencia, e a construção da uma igreja, de uma<br />
rua, ponte, muro da cidade ou outra parte do enorme programa de<br />
construção era um assunto comunal de toda a comunidade urbana - não<br />
mais como antes no caso da grande cidade reservada de uma família nobre<br />
ou de um bispo como no tempo feudal. Correspondentemente as<br />
construções eram agora mais bonitas, arquitectonicamente mais artísticas.<br />
Isso dizia respeito sobretudo aos artesãos que se tornaram arquitectos. Foi<br />
o caso de Brunelleschi que foi a Roma em 1402, provavelmente com<br />
Donatello, para inventariar em seus esboços os restos das construções<br />
romanas. Com isso fixaram-se nele os fenômenos da perspectiva e da<br />
óptica; para compreendê-los e poder pesquisa-los, porém, faltava-lhe a<br />
matemática, cuja utilidade para sua prática em geral ele entendeu.<br />
De volta a Florença, colocou-se ele em contacto com Paolo Toscanelli, o<br />
mais renomado matemático e astrónomo florentino, amigo de Cusano e<br />
Regiomontano. Toscanelli mostrou-se aberto, mas ele cultivava a<br />
matemática conforme a escolástica tradicional, longe de qualquer relação<br />
com problemas de uma prática da construção como aquela que levou<br />
Brunelleschi a ele, da maneira que este colocou o grande cientista em séria<br />
confusão. A conjunção da realização <strong>manual</strong> e da cultura da arquitectura<br />
em progresso com o florescimento intelectual da Idade Média, que<br />
aconteceu pela primeira vez entre Brunelleschi e Toscanelli, era algo