Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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conceitos da filosofia ou, se preferirmos, os conceitos filosóficos, que se<br />
estendem pelo tempo no qual esta sociedade dura.<br />
Mas mesmo com a filosofia como seu céu <strong>espiritual</strong>, nossa sociedade é<br />
cega para si mesma como de costume. Martin Heidegger deu expressão a<br />
este fato em seu modo particular de ler a l h q e i a , verdade, e de acordo<br />
com isso teria sido bom para ele fundamentar o segredo afirmado da<br />
verdade, desentocá-la de seu abrigo (entherbergen), como ele diz, para<br />
pesquisar suas causas. Mas ele não o fez, nem o tentou. Somente ele<br />
entendeu escravizar-se a um estilo especial do filosofar, na luz crepuscular<br />
da a l h q e i a .<br />
b. Materialismo histórico é anamnese da gênese<br />
A pesquisa da filosofia grega primitiva e de seu surgimento no século VI e V<br />
a.C. esbarra no grave paradoxo, que se deve indagar a gênese histórica<br />
dos conceitos universais historicamente atemporais, sobre os quais a<br />
filosofia pré-socrática se fundamenta. Do ponto de vista da história<br />
tradicional do espírito do idealismo não há solução para esse paradoxo:<br />
assim o resultado do esforço na história do espírito corre sempre<br />
novamente para a capitulação perante o muito mencionado veredicto do<br />
"milagre grego", que hoje francamente não goza mais de menção alguma.<br />
É demasiado claro que com tal veredicto a filosofia grega não se torna mais<br />
gloriosa, e sim somente o modo de considerá-la é reconhecido como<br />
errado.<br />
Mas não me parece menos duvidoso o resultado do novo método analítico<br />
linguístico, como foi habilmente praticado por Malinowski e sobretudo por<br />
Bruno Snell e outros, como B.L.Whorf e E.Sapir. Pois eu não posso ver<br />
como por este caminho se possa dar o salto das formas linguísticas de uma<br />
consciência baseada na empiria até o nível da pura abstração. Concordo<br />
totalmente com Bruno Snell, quando diz: "Só na Grécia a consciência<br />
teorética surgiu autonomamente, só aqui ocorre uma formação autóctone<br />
de conceitos." (Die Entstehung des Geistes, Göttingen, 1975, p.205). Mas a<br />
essa precede outra frase: "Esta relação da língua com a formação do<br />
conceito científico pode ser observada, a rigor, só nos Gregos, pois só aqui<br />
os conceitos surgem organicamente da língua." (Ibid.) Os filósofos fazem<br />
de palavras e expressões da linguagem comum uma terminologia de sua<br />
escolha, na qual a significação de entendimento comum desses vocábulos<br />
é essencialmente mudada e alienada. Eu não posso concordar que, como<br />
por exemplo B.Snell parece indicar, tenha sido percorrido ou tenha podido<br />
ser percorrido o caminho na direcção contrária, em vez que do pensamento<br />
à língua, ou seja a sua alienação terminológica. Na segunda frase citada<br />
Snell exagera além disso sua opinião com uma expressão incorrecta na<br />
segunda parte. Ele diz: "... pois só aqui os conceitos surgem organicamente<br />
da língua." Mas deveria dizer só: as formas, em vez dos próprios conceitos.