Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
na filosofia moderna predomina a tendência contrária. O autodescobrimento<br />
do homem e de sua alienação da natureza, para o qual o nexo sintético da<br />
sociedade fornece a base, começam já no século sexto; na Iônia até um<br />
século antes. Desta experiência cresce a filosofia. Mas a formação do<br />
pensamento discursivo até sua plena autonomia conceptual estende-se de<br />
Tales a Aristóteles mais de trezentos anos e completa-se quando a base<br />
existencial da polis já está em questão, a própria polis começa a dissolverse.<br />
O que se segue à sociedade antiga de apropriação depois de sua<br />
dissolução (e também do Império Romano) segue na forma do feudalismo:<br />
é caracterizado (deixando de lado a transformação lenta da dependência do<br />
dinheiro em dependência do solo e da sua posse) sobretudo pela<br />
introdução dos produtores na sociedade, portanto pela introdução do<br />
trabalho na sociedade de apropriação. No resultado final desse<br />
desenvolvimento - e pulando por cima de tudo o que está de permeio,<br />
assunto que vamos ver no item seguinte - estamos hoje perante o<br />
resultado, que a sociedade de apropriação está captada sobretudo na<br />
saída da história e sua substituição pela moderna sociedade de produção<br />
tornou-se viável e está a caminho.<br />
6. Fundamentos da origem da filosofia antiga da natureza<br />
Para entender a ciência natural antiga em sua origem na Iônia por volta de<br />
600 a.C., devemos ter diante dos olhos a função determinante da divisão da<br />
sociedade ocorrida pela troca de mercadorias, como ela chegou a<br />
expressar-se pela distinção entre a segunda natureza puramente social e a<br />
primeira natureza. A síntese social baseada na troca de mercadorias exclui<br />
qualquer contacto com a natureza, pois ela - a síntese social dos<br />
possuidores privados de mercadorias - funda-se unicamente na decisão<br />
deles nas tratativas para a conclusão de contratos de troca de mercadorias.<br />
O contraste com a praxis da sociedade arcaica - a qual em suas distintas<br />
formas (no final, na civilização micênica) dominava o passado e na qual o<br />
nexo social dos indivíduos ainda não independentes era ligado em unidade<br />
indivisível com o contacto com a natureza - não poderia ser mais flagrante.<br />
Para a sociedade sintética - nós contrapomos as expressões "natural" e<br />
"sintética" quase como borracha natural e sintética - não se poderia<br />
conseguir experiência e conhecimento da relação natural de modo nenhum,<br />
a não ser pelo caminho de um esforço conceptual: nele se eliminam as<br />
invenções mitológicas da era anterior deixando lugar ao rigoroso<br />
acertamento dos fatos e à reflexão metodológica e ao pensamento<br />
intelectual, com base na abstração da troca.<br />
Ora, não seria em todo caso nada mais falso e enganoso que a idéia de<br />
que a troca de mercadorias já em sua primeira aparição tenha<br />
repentinamente dominado a polis grega em seu todo. A troca de