Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
interrelacionadas), uma difusão e aprofundamento da troca de mercadorias<br />
tornou-se necessidade econômica elementar. Para isso a introdução e<br />
difusão rápida de moeda no século sétimo e sexto a.C. pode servir de<br />
termômetro indubitável. Mas isso não chega a documentar uma formação<br />
social, na qual a troca de mercadorias já se tenha tornado nexus rerum<br />
interno determinante. "Precisa [...] pouco conhecimento [...] da história da<br />
república romana - diz Marx - para saber que a história da propriedade do<br />
solo forma sua história secreta." (MEW, 23, p.96) Enquanto o camponês<br />
possuía seus meios de trabalho, a subtração da propriedade da terra<br />
formava o meio principal para sua exploração (cf. também MEW, 25, p.<br />
798s.). Mas por quais processos mediadores se realizou a monopolização<br />
da propriedade da terra contra os camponeses? "A luta de classes do<br />
mundo antigo, por ex., move-se principalmente na forma de uma luta entre<br />
devedores e credores, e acaba em Roma com o declínio do devedor<br />
plebeu, que é substituído pelos escravos", diz Marx (MEW, 23, p.149-150).<br />
Também na Grécia a pequena produção camponesa e o artesanato<br />
autônomo formam "a base econômica da comunidade clássica em seu<br />
melhor tempo, depois de que a propriedade original oriental comum se<br />
dissolveu e antes que a escravatura se apoderasse seriamente da<br />
produção"(MEW, 23, p.354). As transformações acontecem como efeito da<br />
economia das mercadorias e do dinheiro. "No mundo antigo o efeito do<br />
comércio e o desenvolvimento do capital mercantil resulta sempre em<br />
economia escravocrática; [...] No mundo moderno ao contrário acaba no<br />
modo de produção capitalístico."(MEW, 25, p.344).<br />
A distinção decisiva entre antigos e modernos é que só entre os modernos<br />
a produção de riqueza provem da produção de mais valia, e não da<br />
apropriação (portanto puro deslocamento de propriedade de valores<br />
existentes). Nos clássicos antigos a formação de riqueza era<br />
essencialmente de tipo extra e não intraeconômico, ou seja baseada no<br />
roubo e exploração de outras comunidades e de estrangeiros, portanto na<br />
submissão a dever tributário ou na transformação em escravos. Para isso<br />
as cidades-estado expoliadoras precisavam de uma constituição conforme<br />
a linhagem, pela qual eles podiam estar unidos e agir como poder<br />
comunitário. Mas esta condição estava em contradição com o<br />
desenvolvimento mercantil. Pois valia desde já que "somente produtos de<br />
trabalhos autônomos e reciprocamente independentes [defrontam-se] como<br />
mercadorias"(MEW, 23, p.57). Em seu reflexo sobre a economia interna, a<br />
relação tributária externa transforma-se dentro da polis em oposição de<br />
classes entre devedores e credores até o limite da venda de devedores<br />
como escravos. Essa transformação foi descrita classicamente por Engels<br />
com o exemplo de Atenas, e vale a pena repetir aqui os trechos mais<br />
decisivos.