Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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II Parte<br />
Síntese social e produção<br />
1. Sociedade de produção e sociedade de apropriação<br />
(No fundamental, restringimo-nos nesta parte, como aliás em geral neste<br />
texto, aos pontos de vista do entendimento da história, sem entrar no<br />
tratamento detalhado do mesmo.)<br />
Já acenei várias vezes à característica, pela qual as relações de produção<br />
da sociedade de classes se distinguem daquelas da sociedade sem<br />
classes. A oposição prende-se à distinta articulação da síntese social. Se<br />
uma sociedade obtém a forma de sua síntese no processo de produção -<br />
portanto deriva sua ordem determinante diretamente do processo de<br />
trabalho da atividade humana na natureza -, então ela é sem classes (ou<br />
pelo menos tem essa possibilidade). Uma tal sociedade pode-se<br />
denominar, de acordo com sua determinação estrutural, sociedade de<br />
produção. A alternativa a isso é uma forma de sociedade baseada na<br />
apropriação. Apropriação entende-se aqui, como aliás já acima, no sentido<br />
inter-humano ou intrasocial, ou seja como apropriação de produtos do<br />
trabalho por aqueles que não trabalham. Com isso, deve-se distinguir entre<br />
forma de apropriação unilateral e forma de apropriação recíproca.<br />
Apropriação unilateral do plus-produto leva à sociedade de classes nas<br />
várias formas de "relações diretas de senhoria e servidão", para usar essa<br />
expressão marxiana. Tal apropriação acontece na forma de entregas<br />
tributárias de tipo constritivo ou também livre, ou na forma de roubo e furto,<br />
pode estar baseada em sujeição ou em "direitos tradicionais", etc. As<br />
questões que nos interessam prendem-se, no entanto, predominantemente<br />
às formas da sociedade de apropriação baseada em apropriação recíproca<br />
ou troca, portanto às distintas formas da produção de mercadorias. A<br />
característica comum de todas as sociedades de apropriação é uma síntese<br />
social através de atividades, que por sua índole são distintas e<br />
temporalmente separadas do trabalho que produz os objetos de<br />
apropriação. Não é necessário sublinhar que nenhuma formação social<br />
(baseada na produção ou na apropriação) se pode compreender sem<br />
considerar o estado respectivo das forças de produção.<br />
Na parte anterior, foi mostrado com fundamentação minuciosa, que uma<br />
síntese social nas formas de apropriação recíproca da troca de mercadorias<br />
leva ao surgimento de trabalho intelectual em nítida separação do trabalho<br />
<strong>manual</strong>. A unidade da síntese de tais formas sociais constitui a<br />
fundamentação genética direta das formas de pensamento e conhecimento<br />
características que lhe pertencem. Não pretendemos generalizar esse<br />
resultado e concluir daí que em todas as formações sociais sem excepção<br />
(que sejam sociedades de apropriação ou de produção) as formas de