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Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual

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sociedade toda se tornara pasto do capital. Mas sob este aspecto, ao<br />

tempo de Hegel e para um espírito com sua visão, ainda nada se podia<br />

reconhecer. Ele tomou a Revolução no sentido no qual ela tinha sido<br />

entendida, leu com seus amigos Hölderlin e Schelling todos os eventos,<br />

cada notícia, que o jornal anunciava, como acontecer filosófico, olhou a<br />

Napoleão em sua entrada em Iena como ao "Espírito do Mundo", que ele<br />

"viu chegar a cavalo". Essa era a "soberania do pensamento", mas também<br />

a descolagem do terreno histórico, culminação suprema, que se prevalecia<br />

das implicações correspondentes à realização da liberdade e as entendia<br />

sistematicamente, independentemente de se as ruas de Paris e seus<br />

porões ofereciam abrigo a isso ou não. Para Hegel não bastava tomar a<br />

liberdade puramente como a exigência e o ideal, como ele tinha sido para<br />

Kant, cuja filosofia Marx denomina "a filosofia da revolução francesa", a<br />

filosofia no estágio da revolução. Para Hegel, ela se tornou lei fundamental,<br />

pela qual se move a realidade. Pensar e ser estão para ele não mais em<br />

relação como opostos, eles tornaram-se uno, e o mesmo valia<br />

correspondentemente para todas as antíteses e dicotomias da reflexão<br />

filosófica. Essa unidade aquilo que, desde sempre, tinha sido entendido<br />

com pensar e ser, ideal e realidade, essência e aparência, forma e matéria,<br />

etc.; sua unidade era aquilo que elas significavam, era sua verdade. Assim,<br />

da lógica veio a dialética. As determinações realizaram-se, mas em sua<br />

realização mudaram as condições de sua realização, de modo que cada<br />

determinação, para realizar-se, desenvolver-se, para ser ela mesma, devia<br />

tornar-se algo outro de si. A verdade tornou-se processo gerador do tempo,<br />

que devia estar certo (o que sempre ocorria) com aquilo que se encontrava<br />

no tempo e nele se realizava. O ato de nascimento (a origem burguesa do<br />

pensamento) mostra-se claramente no fato que ele era só pensamento, a<br />

dialética pura lógica, a realização nada senão filosofia, a concretização não<br />

ocorria nenhures senão na "Imanência do Espírito". O Ser, com o qual o<br />

pensar era uno, não era o ser espaço-temporal das coisas e das relações<br />

da história factual e dos fatos históricos, e sim o Ser, que Hegel puxou ao<br />

ponto de fundação da lógica, da cópula do "eu sou eu", portanto não era<br />

nada senão o ser do pensar mesmo, o ser, com o qual o pensar se<br />

confunde pensando, e, falando materialistamente, o auto-espelhamento da<br />

plena hegemonia burguesa de classe. De todas as filosofias, que "só<br />

interpretam o mundo de várias maneiras", sem "mudá-lo", a de Hegel é a<br />

mais crassa, mesmo porque ela dissipa a forma da mudança do ser, a<br />

própria dialética, em nada senão "na idéia". E para valer, para Marx a<br />

dialética devia de fato ser "entornada", melhor: ser revirada e revirada. Ela<br />

devia sobretudo deixar de ser lógica1 .Na luta de classes para a mudança<br />

da realidade há certamente a necessidade de pensar dialeticamente, e para<br />

aprender isso pode-se ir à escola de Hegel, talvez até seguindo a sugestão<br />

de Lenin de fundar "uma sociedade para a cura da dialética hegeliana".<br />

Mas no marxismo temos a dialética não por causa de Hegel. A dialética<br />

marxista vale no sentido do ser sócia, pois o marxismo visa a tornar esse

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