Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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Encurtando esta exposição, torna-se evidente, que os dois aspectos da<br />
abstração da troca estão reciprocamente totalmente alheios. Não possuem<br />
nenhum conceito em comum, a definição econômica do ferro é seu preço, a<br />
física seu peso atômico. Eles são reciprocamente intraduzíveis, e nenhum<br />
dos dois aspectos permite deduzir a existência do outro.<br />
Já foi sublinhado que a abstração da troca coloca os dois atores<br />
reciprocamente iguais. Que seja rei ou mendigo, como atores da troca não<br />
podem ser outra coisa, nada mais e nada menos, que os sujeitos de direito<br />
de suas transações. A abstratividade de sua equivalência é a raiz do<br />
conceito jurídico do direito, mesmo que a formulação dos dados do direito<br />
civil tenha podido fazer-se esperar por mais longo tempo entre os gregos<br />
que entre os romanos. Entre os gregos eles se cristalizam mais em<br />
discriminações em questões de direito civil.<br />
Uma consequência agravante da troca de mercadorias torna-se válida com<br />
base no patriarcalismo aprofundado da sociedade em transformação. As<br />
linhagens prendem-se na separação da estrutura da troca polarizada entre<br />
a ação da troca e o uso. Os homens [machos: Männer - C.G.G.] reivindicam<br />
para si sua função como sujeitos do direito da troca e com isso o influxo<br />
determinante sobre a esfera pública e a constituição do Estado. À mulher,<br />
pelo contrário, permanece a esfera doméstica e o cuidado com o consumo<br />
e o uso das coisas no âmbito da família, a geração dos filhos e sua criação<br />
na idade tenra. Por outro lado, fica para elas também a supervisão dos<br />
escravos domésticos para os ofícios caseiros de fiar e tecer, a produção e<br />
cuidado com a vestimenta, o cultivo das plantas e a criação de animais<br />
domésticos no espaço pertencente à habitação, onde elas se encontram<br />
com o trabalho agrícola e com a responsabilidade dos homens como<br />
camponeses.<br />
Acabo de colocar em luz a total separação interna e estraneidade dos dois<br />
aspectos da abstração da troca, o aspecto da fisicalidade da ação da troca<br />
e do panorama da natureza, bem como o aspecto do valor da mercadoria e<br />
da conexão funcional social. Deste "incomunicado" deriva a dicotomia entre<br />
natureza e sociedade, bem como aquela metodológica entre ciências da<br />
natureza e do espírito. A liquidação desta dicotomia é tanto mais<br />
necessária, enquanto Kant e Marx, que deveriam ter levado a isso, somente<br />
agravaram e endureceram a separação, - Kant, enquanto ele não levou<br />
adiante sua análise da teoria da ciência matemática da natureza até a<br />
análise da ciência real, sobretudo da economia, - Marx, enquanto ele, ao<br />
contrário, não estendeu a crítica da economia política à crítica das ciências<br />
da natureza. Assim entre esses poderosos pensadores o abismo entre<br />
ciências da natureza e ciências morais permaneceu ainda mais profundo.<br />
Através de minha derivação das categorias puras do pensamento a partir<br />
dos processos e fatos espaço-temporais, esta dicotomia desaparece. Sobre