Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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Cassirer, Substanzbegriff und Funktionsbegriff, Berlin, 1910, p.155-158; mais adiante terei oportunidade para ulteriores citações dessa obra.) A determinação conceptual de espaço, tempo e movimento é a distinção essencial entre a concepção kantiana da razão pura e a minha. Em princípio esta distinção é evidente a partir de minha recondução da abstração mental às condições estruturais que estão na base da socialização, portanto ao ser social em lugar das fantasmagorias idealistas do Sujeito transcendental ou do Espírito. Nós portanto recorremos à problemática fundamental da socialização. Um nexo social de proprietários privados nunca se deixaria fundamentar sobre suas valorações de uso. Para isso os próprios indivíduos deveriam poder trocar entre si seus corpos, para evitar as incomensurabilidades de sua sensibilidade corpórea e de sua valoração pessoal. O princípio é que eu tenho certeza do sabor de uma maçã sobre minha língua, mas não posso saber que sabor tem uma maçã na boca de um outro. Se se tratasse de sabê-lo, a sociedade cairia em anarquia e em caos no limiar, no qual o fazer de cunho arcaico se transformou no negociar dos indivíduos que na idade do ferro se tornavam autônomos. A humanidade não teria sobrevivido a esse umbral. Uma síntese social entre os indivíduos separados só tornou-se possível pelo fato de que seu relacionamento recíproco, portanto a troca de mercadorias, resultou em um negócio, que leva através de toda a esfera das incomensurabilidades e está caracterizado por uma abstração radical: a própria ação da troca em sua separação do uso dos objetos respectivos durante a duração da transação. Esta ação singular só pode porém obter seu efeito social, na medida em que ela irradia todas as relações basilares para a síntese. Uma tal irradiação é também a razão pura. Sua forma conceptual resulta no caminho pelo dinheiro diretamente da fisicalidade abstrata da ação da troca. O nascimento da razão pura ocorre, em outras palavras, não no nem através do homem, nem passo a passo, como a formação dos conceitos empíricos de nossa linguagem ordinária, mas sim em uma abstratividade formada acabada e idêntica para todos os indivíduos que se encontram nos mesmos interesses sociais. Através disso, a razão pura é uma potência desprendida da psicologia humana e produzida separadamente da subjetividade dos homens; o modo, como isso acontece, será indicado na continuação deste livro. Este modo de conceber ajuda na explicação do milagre até então nunca decifrado da inteligência pura. A razão é um poder complemente coisificado do homem, ao qual a fisicalidade do ato da troca se transmite na forma da conversão da abstração real em abstração do pensamento, e se desloca para seu pensamento. O fenômeno paradoxal da síntese social conforme com princípios da propriedade privada se torna de certa forma tributário dos
homens como instrumento da realização deles e da sobrevivência histórica da espécie. Longe, portanto, de ser o ponto brilhante da autonomia espiritual dos homens, que o idealismo nele avista, a capacidade de compreender dos homens civilizados pressupõe, conforme a concepção aqui defendida, a extensão da profundidade e da opacidade da reificação (algo que nem Marx reconheceu complemente). Mas como é então a relação entre esta potência de compreender dada de forma latente na ação da troca, e a realidade econômica da troca de mercadorias, portanto com o valor de troca e o dinheiro, comercialmente? Será que ambos os aspectos da troca comunicam, ou são reciprocamente estranhos? O valor de troca é parte da troca de mercadorias, como a razão pura é parte da abstração da troca. Ele é o que reza seu nome - troca=valor. Ele é a propriedade característica, que compete às mercadorias pelo fato de que elas se tornam objetos de ação de troca à diferença das ações de uso. Daí a falta de clareza do valor de troca, sua generalidade social e a dimensão exclusivamente quantitativa, que lhe é própria. Sua identidade vale tanto em um ato de troca como em outro. Sua objectivação é o dinheiro. Através de sua abstratividade perante toda diferenciação de uso das mercadorias, o valor de troca coloca ambas as partes da relação de troca sem distinção iguais no que diz respeito a seus objetos, a suas ações e a ambos seus atores. Através disso o valor de troca postula a equivalência dos objetos trocados. A troca é o lugar para o ditado "o que é justo para um, é barato para o outro". A equivalência das mercadorias é sinônimo com sua trocabilidade.29 Para determinar a proporção, na qual ambas as mercadorias que figuram na troca são reciprocamente equivalentes, o valor de troca necessita de diferenciação em relação aos distintos tipos de mercadorias. Para isso é necessária a instituição do dinheiro. No dinheiro, um determinado tipo de mercadorias, os metais preciosos, coloca-se perante todos os outros tipos de mercadorias no mercado como corporificação comum concreta e como medida de seu valor de troca. Pela "duplicação da mercadoria em mercadoria e dinheiro" medem-se como preços das mercadorias suas relações de troca com a mercadoria dinheiro, por meio desse comum denominador. O preço das mercadorias não é mais só o valor de troca em geral, mas o valor mercantil próprio às mercadorias mesmas, que se mede conforme com seus custos de produção, mais precisamente de acordo com o tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção. Graças à linguagem das mercadorias, que destarte é emprestada às mercadorias, os indivíduos podem e devem para seu sustento, enquanto se fornecem pelo mercado, comportar-se adequadamente de acordo com os princípios do balanço de sua casa e de seus empreendimentos nos negócios conforme entradas e saídas, de acordo com as exigências da sociedade sintética, sem qualquer visão por trás da superfície.
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homens como instrumento da realização deles e da sobrevivência histórica<br />
da espécie. Longe, portanto, de ser o ponto brilhante da autonomia<br />
<strong>espiritual</strong> dos homens, que o idealismo nele avista, a capacidade de<br />
compreender dos homens civilizados pressupõe, conforme a concepção<br />
aqui defendida, a extensão da profundidade e da opacidade da reificação<br />
(algo que nem Marx reconheceu complemente).<br />
Mas como é então a relação entre esta potência de compreender dada de<br />
forma latente na ação da troca, e a realidade econômica da troca de<br />
mercadorias, portanto com o valor de troca e o dinheiro, comercialmente?<br />
Será que ambos os aspectos da troca comunicam, ou são reciprocamente<br />
estranhos? O valor de troca é parte da troca de mercadorias, como a razão<br />
pura é parte da abstração da troca. Ele é o que reza seu nome -<br />
troca=valor. Ele é a propriedade característica, que compete às<br />
mercadorias pelo fato de que elas se tornam objetos de ação de troca à<br />
diferença das ações de uso. Daí a falta de clareza do valor de troca, sua<br />
generalidade social e a dimensão exclusivamente quantitativa, que lhe é<br />
própria. Sua identidade vale tanto em um ato de troca como em outro. Sua<br />
objectivação é o dinheiro. Através de sua abstratividade perante toda<br />
diferenciação de uso das mercadorias, o valor de troca coloca ambas as<br />
partes da relação de troca sem distinção iguais no que diz respeito a seus<br />
objetos, a suas ações e a ambos seus atores. Através disso o valor de troca<br />
postula a equivalência dos objetos trocados. A troca é o lugar para o ditado<br />
"o que é justo para um, é barato para o outro". A equivalência das<br />
mercadorias é sinônimo com sua trocabilidade.29 Para determinar a<br />
proporção, na qual ambas as mercadorias que figuram na troca são<br />
reciprocamente equivalentes, o valor de troca necessita de diferenciação<br />
em relação aos distintos tipos de mercadorias. Para isso é necessária a<br />
instituição do dinheiro. No dinheiro, um determinado tipo de mercadorias, os<br />
metais preciosos, coloca-se perante todos os outros tipos de mercadorias<br />
no mercado como corporificação comum concreta e como medida de seu<br />
valor de troca. Pela "duplicação da mercadoria em mercadoria e dinheiro"<br />
medem-se como preços das mercadorias suas relações de troca com a<br />
mercadoria dinheiro, por meio desse comum denominador. O preço das<br />
mercadorias não é mais só o valor de troca em geral, mas o valor mercantil<br />
próprio às mercadorias mesmas, que se mede conforme com seus custos<br />
de produção, mais precisamente de acordo com o tempo de trabalho<br />
socialmente necessário para sua produção. Graças à linguagem das<br />
mercadorias, que destarte é emprestada às mercadorias, os indivíduos<br />
podem e devem para seu sustento, enquanto se fornecem pelo mercado,<br />
comportar-se adequadamente de acordo com os princípios do balanço de<br />
sua casa e de seus empreendimentos nos negócios conforme entradas e<br />
saídas, de acordo com as exigências da sociedade sintética, sem qualquer<br />
visão por trás da superfície.