Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual

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14.04.2013 Views

disso tão obscura e estranha, na Iônia e em algumas cidades marítimas da Grécia e do Sul da Itália. Não posso duvidar, que não escapou à atenção deles nem a substancialidade imaterial da natureza sintética do dinheiro. Sobretudo parece crível que Pitágoras em Taranto e Parmênides em Elea (resp. em Velia) emitiram eles mesmos dinheiro em moedas. Tão pouco esta imaterialidade mesma é ideal, contudo uma atenção sobre ela só é possível no pensamento e em sua determinação precisa só na forma do pensar conceptual. Isso vale naturalmente não somente para esta imaterialidade em sua infinitude geral temporal. Estende-se também aos elementos de conteúdo, que ela traz consigo com a fisicalidade do ato da troca. Esta atividade abstrata de pensamento não dispõe certamente de um saber sobre seu parentesco com o fenômeno comercial do dinheiro. O primeiro a encontrar para esse elemento da abstração real um conceito apropriado (contudo, sem a mínima suspeita de para o que seu conceito respondia e o que o teria tornado necessário para ele) foi Parménides com seu conceito ontológico do Ser. Ele diz que a coisa real não é sua aparição sensível, mas é só e unicamente o Uno, ou seja: expresso em sua língua, t o w n . Dele não há nada a afirmar, a não ser que ele é completo em si, enche o espaço e o tempo complemente, é inalterável, indivisível e imóvel; e que ele não pode passar nem também ter tido origem. O pensamento desse conceito é uma evidente unilateralização e uma absolutização ontológica da natureza do dinheiro nele identificada. Com isso são excluídas outras propriedades igualmente essenciais da mesma materialidade, as quais mais tarde outros pensadores tiveram que fazer valer. Sobre isso teremos ainda que falar. O que precisa ser sublinhado aqui é que nem Parménides nem qualquer outro dos fundadores da filosofia grega clássica atribui a si mesmo as abstrações que ela expressa em conceitos, no sentido de que ela teria sido construída subindo da percepção múltipla dada até graus mais elevados de generalidade. Nenhum deles legitima seus conceitos fundamentais por uma representação de um tal processo constitutivo. As abstrações que servem de base aos conceitos são totalmente de outro molde, e eles encontram-se lá prontos sem qualquer dedução. Eles tiveram lugar alhures e por caminhos distintos daquele do pensamento. Assim, por exemplo, Parménides descreve, no Proêmio alegórico que ele antepõe para os leitores, como ele, alcançando no vagão da filha de Helios a morada de Dike, a deusa do Direito, para lá da articulação de dia e noite tinha alcançado o conceito de único Real, e precisamente com a admonição explícita: "Só com a razão deves tu ponderar este ensinamento muitas vezes provado, que eu irei te dizer." 28 Sem que o conceito do t o w n , portanto ser uma obra de seu pensamento, ele é igualmente ponto de partida de um pensamento fundamentado em conclusões da razão. O fundamento é o talento do pensamento conceptual com a dialética da

verdade e não verdade segundo critérios conceituais de necessidade interna lógica ou de contraditoriedade. Parménides argumenta: "O pensamento e aquilo sobre o qual é o pensamento, são o mesmo. Pois tu não encontras o Pensar sem o Ser, no qual ele se expressa; pois nada é e nada será fora do pensamento." "Este é o pensamento principal", acrescenta Hegel. De fato, Hegel encontra em Parménides a fundamentação de seu próprio ontologismo conceptual. 7. Notas conclusivas à análise A análise acima resultou em que a estrutura social da troca de mercadorias repousa sobre uma abstração não empírica do ato da troca e mostra uma igualdade formal (Gleichförmigkeit) com a abstração dos conceitos metodológicos básicos da ciência exacta da natureza. Vale, portanto, o seguinte: a abstração da troca não é pensamento, mas ela possui a forma do pensamento em categorias puras da razão. Com isso está claro que essas categorias, que conforme meu entendimento resultam da abstração da troca (mais precisamente: da fisicalidade da ação da troca), mostram desvios daquelas, que Kant deduz das formas do juízo. A concepção da razão pura que eu viso encontra-se mais próxima do que a kantiana àquela, que se manipula na ciência exacta da natureza da tradição mecânica clássica. Disso encontro um testemunho notável em Ernst Cassirer. Cito: "O conceito exato de natureza enraíza-se na idéia do mecanismo e se pode primeiramente alcançar com base nessa idéia. A explicação da natureza pode tentar em seu desenvolvimento ulterior libertar-se deste primeiro esquema e colocar um outro mais geral em seu lugar: contudo o movimento e suas leis permanecem o verdadeiro problema fundamental, no qual o saber alcança clareza sobre si mesmo e sua própria clareza. A realidade é complemente reconhecida tão logo ela se resolve em um sistema de movimentos ... O movimento, em sentido científico geral, não é outra coisa senão uma determinada relação, na qual entram espaço e tempo. Espaço e tempo mesmos são porém pressupostos como membros desse relacionamento fundamental não mais em suas propriedade imediatas psicológicas e "fenomênicas", mas em suas determinações matemáticas rigorosas ... Estas exigem como fundamento o espaço contínuo e homogêneo da geometria pura ... Assim também o próprio movimento é introduzido desde o começo para dentro desse círculo de um condicionamento puramente conceptual. Só aparentemente ele forma um fato direto da percepção, e o fato fundamental, que toda observação externa nos oferece ... Mas este momento sozinho não basta de maneira nenhuma para fundamentar o conceito rigoroso do movimento, de que a mecânica precisa ... Esta transformação matemática, que o físico supõe executada, forma na verdade o verdadeiro problema original." (Ernst

disso tão obscura e estranha, na Iônia e em algumas cidades marítimas da<br />

Grécia e do Sul da Itália. Não posso duvidar, que não escapou à atenção<br />

deles nem a substancialidade imaterial da natureza sintética do dinheiro.<br />

Sobretudo parece crível que Pitágoras em Taranto e Parmênides em Elea<br />

(resp. em Velia) emitiram eles mesmos dinheiro em moedas. Tão pouco<br />

esta imaterialidade mesma é ideal, contudo uma atenção sobre ela só é<br />

possível no pensamento e em sua determinação precisa só na forma do<br />

pensar conceptual. Isso vale naturalmente não somente para esta<br />

imaterialidade em sua infinitude geral temporal. Estende-se também aos<br />

elementos de conteúdo, que ela traz consigo com a fisicalidade do ato da<br />

troca.<br />

Esta atividade abstrata de pensamento não dispõe certamente de um saber<br />

sobre seu parentesco com o fenômeno comercial do dinheiro. O primeiro a<br />

encontrar para esse elemento da abstração real um conceito apropriado<br />

(contudo, sem a mínima suspeita de para o que seu conceito respondia e o<br />

que o teria tornado necessário para ele) foi Parménides com seu conceito<br />

ontológico do Ser. Ele diz que a coisa real não é sua aparição sensível, mas<br />

é só e unicamente o Uno, ou seja: expresso em sua língua, t o w n . Dele<br />

não há nada a afirmar, a não ser que ele é completo em si, enche o espaço<br />

e o tempo complemente, é inalterável, indivisível e imóvel; e que ele não<br />

pode passar nem também ter tido origem. O pensamento desse conceito é<br />

uma evidente unilateralização e uma absolutização ontológica da natureza<br />

do dinheiro nele identificada. Com isso são excluídas outras propriedades<br />

igualmente essenciais da mesma materialidade, as quais mais tarde outros<br />

pensadores tiveram que fazer valer. Sobre isso teremos ainda que falar.<br />

O que precisa ser sublinhado aqui é que nem Parménides nem qualquer<br />

outro dos fundadores da filosofia grega clássica atribui a si mesmo as<br />

abstrações que ela expressa em conceitos, no sentido de que ela teria sido<br />

construída subindo da percepção múltipla dada até graus mais elevados de<br />

generalidade. Nenhum deles legitima seus conceitos fundamentais por uma<br />

representação de um tal processo constitutivo. As abstrações que servem<br />

de base aos conceitos são totalmente de outro molde, e eles encontram-se<br />

lá prontos sem qualquer dedução. Eles tiveram lugar alhures e por<br />

caminhos distintos daquele do pensamento. Assim, por exemplo,<br />

Parménides descreve, no Proêmio alegórico que ele antepõe para os<br />

leitores, como ele, alcançando no vagão da filha de Helios a morada de<br />

Dike, a deusa do Direito, para lá da articulação de dia e noite tinha<br />

alcançado o conceito de único Real, e precisamente com a admonição<br />

explícita: "Só com a razão deves tu ponderar este ensinamento muitas<br />

vezes provado, que eu irei te dizer." 28 Sem que o conceito do t o w n ,<br />

portanto ser uma obra de seu pensamento, ele é igualmente ponto de<br />

partida de um pensamento fundamentado em conclusões da razão. O<br />

fundamento é o talento do pensamento conceptual com a dialética da

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