Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual

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14.04.2013 Views

abrange toda a duração, na qual a moeda em questão circula, inclusivamente o tempo em que ela pode ser subtraída à circulação para formar um tesouro. De fato, a inconveniência do material monetário respectivo é reconhecida de toda forma pelo próprio instituto emissor na promessa de substituir grátis cada peça monetária gasta por seu curso normal, substituí-la por uma outra de pleno peso. Portanto, um material do qual, a rigor, se deveria fazer o dinheiro, não pode existir na natureza. Ele não pertence à natureza primeira ou original; ele carece portanto também de qualquer possível perceptibilidade. Portanto, ele dever-se-ia classificar como mero conceito, puro conceito não empírico. Mas daí concluir que o material monetário existe só no pensamento, é tão absurdo, quanto procurar um modelo deste material na natureza. Dinheiro mental não pode existir. Comprar alguma coisa por uma peça de moeda, que não possui nenhuma realidade material, isso nem mesmo um Till Eulenspiegel conseguiria. Sua realidade deve ser igual àquela das coisas-mercadorias, que ele deve comprar, portanto deve possuir realidade concreta, espaçotemporal, de maneira que uma peça de dinheiro que eu possua não possa se encontrar ao mesmo tempo nas mãos de um outro. Mas a realidade material de meu dinheiro pode ser tão pouco realidade exclusiva para mim, seu possuidor, portanto uma realidade à la Berkeley ou Hume ou de qualquer idealista subjectivo. Se eu faço uso de meu dinheiro para comprar de qualquer outro uma mercadoria, então esse dinheiro deve possuir para ele exatamente a mesma realidade que para mim, e assim mesmo não só uma realidade para nós dois, mas da mesma maneira que para nós, assim ipso facto em geral para todos os que participam na circulação social desse dinheiro, portanto uma realidade com o grau máximo pensável de objetividade. E contudo não se pode descobrir em todo o mundo perceptível nenhuma representação empírica desse material, indubitável em sua realidade, material do qual propriamente uma moeda deveria ser feita. Os materiais, com os quais estamos satisfeitos na praxis da cunhagem, e que se tornaram satisfatórios nas finalidades pragmáticas da economia social, são - de acordo com o caráter formal da função do dinheiro - pura ganga da realidade dos valores de uso, dos quais exatamente a natureza desta forma faz abstração. Mas a natureza desta forma (ou a objetividade formal do valor das mercadorias), como sublinha Marx, não encontra nunca no mundo das mercadorias sua própria representação, pois ela pode espelhar-se somente no valor de uso da outra mercadoria, com a qual ela deve equivaler na troca. Isso é totalmente suficiente para as exigências da troca de mercadorias como campo de ação prática dos homens, pois evidentemente não pode existir nenhum objeto de ação prática que não seja feito de matéria natural real. Mas isso não remove ainda a distinção daquela objetividade, igualmente tão real, mas fisicamente imutável, para a qual atua o dinheiro como titular de função e na qual "não entre nenhum átomo de matéria natural". Para esta matéria imaterial, precisamente nãoempírica, da qual o dinheiro amoedado virtualmente deveria ser feito, pode-

se manifestamente dar uma representação genuína só fora ou além do campo conjunto da matéria natural e da empiria da percepção; em outras palavras: só na forma do conceito não empírico ou "puro". E isso é o caso não somente da restituição idêntica da matéria-moeda, mas também da representação adequada de todos os componentes da abstração real, representação que forma a parte essencial daquilo que Marx denomina "objetividade-valor" ("Wertgegenständlichkeit"). Deveria ter-se tornado evidente, que não se deve distinguir só uma, mas duas matérias do dinheiro: aquela de primeiro plano de uma função econômica, aquela única que todo mundo lembrará; e a outra de segundo plano do dinheiro como potencial portador da função da síntese da sociedade mercantil, por causa da qual bem se denomina o dinheiro como nexus rerum da sociedade. Ambas as naturezas do dinheiro distinguem-se por sua oposta materialidade. A função econômica exige uma substância material feita de elementos preciosos como ouro e prata, pelos quais cabem às mercadorias seus preços comparativos. Pelo contrário, a função sócio-sintética do dinheiro salienta-se por abstrata imaterialidade de seu substrato, porque a substancialidade do ato da troca para o tempo da transação de cada praxis de uso das mercadorias deve ser separada intransigentemente, para tornar possível a troca. Esta contraditoriedade flagrante na materialidade das duas naturezas do dinheiro na emissão do dinheiro como moeda leva - eu penso aqui só nas épocas do clássico comportamento do dinheiro - leva a uma contraditoriedade francamente palpável. A autoridade emitente determina o metal econômico do dinheiro no quantum de peso para o valor exigido da moeda e vincula isso com uma declaração de garantia, de que as moedas emitidas durante o tempo de seu curso seriam substituídas grátis por outras de pleno valor. O que significa isso? Isso significa, que o dinheiro devidamente deveria constar de um material, que não seja desgastável, mas de consistência independente do tempo. Um tal material, porém, não existe na natureza toda. Em comparação com materiais naturais ele se distingue por uma pura imaterialidade abstrata. Esta imaterialidade não é, contudo, ideal: ela possui o caráter das ações humanas espaço-temporais, que bilhões de vezes efectuam a circulação de mercadorias e de dinheiro da sociedade. Mas qual é o passo, que leva da abstração real imaterial até a abstração intelectual? Deve-se notar com qual inadvertência se aceita a contradição entre as duas naturezas contraditórias do dinheiro na emissão de moedas ou de notas, e se aceita a praxe que daí resulta como solução bem-vinda.27 Semelhante desinteresse não se pode certamente supor por parte dos gregos nesta fase fundamental e inicial do dinheiro. Podemos, ao contrário, especular com grande verossimilitude, que os gregos do sétimo e sexto séculos consideraram esta rara instituição feita pelos homens e apesar

se manifestamente dar uma representação genuína só fora ou além do<br />

campo conjunto da matéria natural e da empiria da percepção; em outras<br />

palavras: só na forma do conceito não empírico ou "puro". E isso é o caso<br />

não somente da restituição idêntica da matéria-moeda, mas também da<br />

representação adequada de todos os componentes da abstração real,<br />

representação que forma a parte essencial daquilo que Marx denomina<br />

"objetividade-valor" ("Wertgegenständlichkeit").<br />

Deveria ter-se tornado evidente, que não se deve distinguir só uma, mas<br />

duas matérias do dinheiro: aquela de primeiro plano de uma função<br />

econômica, aquela única que todo mundo lembrará; e a outra de segundo<br />

plano do dinheiro como potencial portador da função da síntese da<br />

sociedade mercantil, por causa da qual bem se denomina o dinheiro como<br />

nexus rerum da sociedade. Ambas as naturezas do dinheiro distinguem-se<br />

por sua oposta materialidade. A função econômica exige uma substância<br />

material feita de elementos preciosos como ouro e prata, pelos quais<br />

cabem às mercadorias seus preços comparativos. Pelo contrário, a função<br />

sócio-sintética do dinheiro salienta-se por abstrata imaterialidade de seu<br />

substrato, porque a substancialidade do ato da troca para o tempo da<br />

transação de cada praxis de uso das mercadorias deve ser separada<br />

intransigentemente, para tornar possível a troca. Esta contraditoriedade<br />

flagrante na materialidade das duas naturezas do dinheiro na emissão do<br />

dinheiro como moeda leva - eu penso aqui só nas épocas do clássico<br />

comportamento do dinheiro - leva a uma contraditoriedade francamente<br />

palpável. A autoridade emitente determina o metal econômico do dinheiro<br />

no quantum de peso para o valor exigido da moeda e vincula isso com uma<br />

declaração de garantia, de que as moedas emitidas durante o tempo de seu<br />

curso seriam substituídas grátis por outras de pleno valor. O que significa<br />

isso? Isso significa, que o dinheiro devidamente deveria constar de um<br />

material, que não seja desgastável, mas de consistência independente do<br />

tempo. Um tal material, porém, não existe na natureza toda. Em<br />

comparação com materiais naturais ele se distingue por uma pura<br />

imaterialidade abstrata. Esta imaterialidade não é, contudo, ideal: ela possui<br />

o caráter das ações humanas espaço-temporais, que bilhões de vezes<br />

efectuam a circulação de mercadorias e de dinheiro da sociedade. Mas qual<br />

é o passo, que leva da abstração real imaterial até a abstração intelectual?<br />

Deve-se notar com qual inadvertência se aceita a contradição entre as duas<br />

naturezas contraditórias do dinheiro na emissão de moedas ou de notas, e<br />

se aceita a praxe que daí resulta como solução bem-vinda.27<br />

Semelhante desinteresse não se pode certamente supor por parte dos<br />

gregos nesta fase fundamental e inicial do dinheiro. Podemos, ao contrário,<br />

especular com grande verossimilitude, que os gregos do sétimo e sexto<br />

séculos consideraram esta rara instituição feita pelos homens e apesar

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